Sexta-feira, 18:30. A Livraria da Mulher Moderna se prepara para o mais aguardado lançamento dos últimos meses, o Livro de Jó, de autoria de Jósimar. Isso mesmo, apenas Jósimar, com acento no “ó”. O subtítulo é curioso: “50 Histórias Reais de Homens Traídos”. A obra aborda a traição feminina do ponto de vista de um Dom Juan moderno e é o assunto do momento nos salões de beleza, clínicas de estética, academias, revistas e redes sociais. Segundo a imprensa, a obra é algo na linha de 50 Tons de Cinza, mas em versão macho, e a Netflix já adquiriu os direitos de filmagem. O engraçado é que os maridos em geral desconhecem esse autor.
Informações obtidas sob condição de absoluto sigilo da fonte, garantem que o livro é baseado na experiência do autor, considerado pelas pacientes “o amante ideal”. O termo “paciente” percorre o texto e Jósimar, certamente um pseudônimo, jura que não se aproveita de mulheres infelizes no casamento. Afirma que é apenas um terapeuta matrimonial.
Após 18, 20 anos, a relação tende a cair no marasmo. Os maridos não vêm mais na esposa a jovem fogosa e curvilínea com quem se casaram. Ignoram a lei da gravidade e que homens também envelhecem. A mente masculina se recusa a aceitar a idade e eles extravasam as necessidades de afeto com as meninas boas das famílias más. Em muitos casos, a traição não decorre da falta de atenção da esposa, mas do prazer pela aventura e o perigo. Outra causa, segundo o autor, são os problemas típicos do universo masculino, menos frequentes depois do aparecimento do Viagra.
Adamastor (Astô) e Ariosvaldo (Valdo), colegas do tempo da faculdade, se encontraram na porta da livraria. Mesmo chegando antes do horário previsto, já havia fila considerável, curiosamente composta 80% por homens. Astô e Valdo foram ao lançamento a pedido das esposas Vânia e Vilma, que também exigem autógrafo e dedicatória. Como a fila se estendesse pela calçada, eles resolveram fumar e colocar a conversa em dia.
- Não sabia que você usa piteira, Astô.
- Comecei há 6 meses, Valdo, presente da Vânia.
- A minha foi presente da Vilma e é exatamente igual à sua.
- Segundo a Vânia, é feita de látex ultra resistente e filtra 95% da nicotina e do alcatrão. Elimina o risco de câncer e tem sabor de menta. Às vezes fico com a piteira na boca, mesmo sem o cigarro, só para curtir o sabor.
- Vilma diz a mesma coisa, só que a minha tem sabor morango. É deliciosa!
- Vânia é massoterapeuta e comprou a piteira de um cliente, para ajudá-lo. Ele sofre de estresse crônico por causa das dores constantes na virilha. Às vezes não consegue sair de casa e Vânia precisa atendê-lo em seu apartamento.
- O mesmo acontece com a Vilma. Ela é acupunturista e também tem um cliente especial, com problemas de locomoção. Uma perna se atrofiou por causa da escoliose. Já o vi no consultório, todo torto, arrastando-se com auxílio do andador. Ultimamente ela passou a atendê-lo em domicílio. É um homem bem musculoso, difícil acreditar que tem tantos problemas.
- É, meu caro Valdo, temos de agradecer por sermos saudáveis, ou quase.
- Por que “quase”, Astor? A saúde não vai bem?
- É o problema da maioria dos homens da nossa idade. O desempenho não é o mesmo e as amantes são exigentes. Sem Viagra, não dá. Às vezes chego em casa depois de passar pela filial, a Vânia está acordada e tenho de inventar uma desculpa: gota, cólica, indisposição. Meu repertório é enorme e eu minto muito bem. Ela passou da idade do sexo constante e está menos exigente na cama.
- Comigo, idem. A Vilma quase não me procura e nem espera que eu o faça. Quando fico até tarde no escritório para dar um trato na Sofia, chego em casa e ela já está deitada, com dor de cabeça, enxaqueca. Faço um agrado, dou um beijinho e durmo.
A sessão de autógrafos começou e os amigos tinham terminado de fumar, mas continuaram conversando, com as deliciosas piteiras sabor menta e morango na boca. Eis que chega o Mixirica, barbeiro de Astô e Valdo.
- Mixirica! Também veio comprar o livro e pegar autógrafo para a patroa?
- Olá doutores. Sou solteiro. Vim buscar o livro, mas o meu é presente do Jósimar.
Mixirica explicou que Jósimar é seu freguês mais assíduo e interessante. Ele vai à barbearia duas vezes por semana para retocar a cor ou aparar o cabelo, fazer a sobrancelha e barbear-se. Tem dezenas de pacientes e precisa estar muito bem apresentável. O atendimento é exclusivo, numa sala reservada só para ele. Cada dia é uma nova e picante história de esposas que buscam conforto em seus braços e em outra parte da anatomia que a Charlene depila com carinho todo especial. Foi o barbeiro quem sugeriu a Jósimar narrar os causos num livro, que se transformou num tremendo e picante sucesso literário!
- Mixirica, estamos falando da mesma pessoa? Ouvi dizer que o autor é um homem simples e com vários problemas de saúde.
- Cascata, doutor. Faz parte do personagem. Ele usa alguns disfarces só para enganar os maridos e divertir as esposas, que chama de pacientes. Traveste-se de bombeiro, mendigo, encanador, deficiente visual, cadeirante, motoboy e outras fantasias, só para apimentar a terapia.
- Deve gastar uma boa grana na barbearia e com essas mulheres.
- Eu não cobro, por causa das histórias que conta, mas ganho uma boa gorjeta. Ele diz que as pacientes pagam caro pelos seus serviços.
- Não acredito. Disfarça de deficiente, pega a mulherada rica, fatura alto e ainda escreve um livro! Esse é o cara!
- E nós aqui temos de sustentar os caprichos das amantes exigentes e ainda comparecer em casa!
- Pois é, doutor. O pai dele morreu, deixou muita grana, imóveis de aluguel e uma rede de Motéis de luxo. Ele é rico, não precisa trabalhar e é metido a inventor. Criou uma máquina para reciclar preservativos, só por farra.
- Que maluquice! O que ele faz com os preservativos reciclados?
- Piteiras de látex com sabor de frutas. Depois vende para as pacientes presentearem os maridos.
Astô e Valdo nunca mais fumaram!
olá
um grande enredo!
um abração.
Brilhante e hilária, como sempre, a história.
O fechamento foi fenomenal hahahaha
Isso é que é reciclagem!
Laerte recicla tudo e ainda com sabor!
Divertidíssima !
Kkkkkkk… muito boa!
Parabéns, Laerte.
Inconfundível Laerte