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terça-feira, 27 de agosto de 2024

Menos violência e mais empatia no trânsito

Era uma tarde de setembro quando Ana dirigia na pista do meio, onde achava que estava mais confortável de dirigir na velocidade da via, quando um motorista da faixa da direita a ultrapassou e começou a fazer gestos obscenos para ela dizendo que ela estava atrapalhando o trânsito. Ao olhar para o velocímetro, Ana constatou que sua velocidade estava a oitenta quilômetros, a velocidade permitida na via, e que logo à frente tinha um radar. Ana não compreendia o comportamento daquele ser humano e ficou se perguntando onde estava errando.

Ela estava muito debilitada emocionalmente naquele dia e aqueles gestos daquele motorista a levou a ficar ainda mais desestabilizada.

Ana passou, então, a observar cada movimento daquele trânsito caótico à sua frente: motoristas buzinando; outros “cortando” os carros que estavam numa velocidade menor, sem se importar que poderia gerar uma colisão; o tão conhecido “racha” entre motoristas que a todo custo queria intimidar o outro na tentativa de colocar o seu ego inflado naquelas manobras radicais, não se importando com os desdobramentos que aquela direção perigosa pudesse ocasionar. Recordou-se, então, do vídeo que havia assistido durante as aulas da escolinha de trânsito, onde o personagem Pateta tinha receio de pisar em uma formiga, mas que ao entrar no carro e segurar o volante, se transformava em um monstro indestrutível quando estava dirigindo. Ela percebeu que o comportamento daqueles motoristas que estavam à sua frente não era diferente do personagem em quadrinhos, pelo contrário, era tão ou pior que ele. 

Foram tantos questionamentos que Ana fazia a si mesma: Por que os motoristas se transformavam tanto quando estavam na direção?; Por que tanta raiva dentro deles em relação ao outro motorista que anda na velocidade da via?; Por que o instinto animal tomava conta daqueles motoristas extraindo deles o pior de cada um?; Por que um motorista não pode ter empatia pelo outro que usa a direção preventiva e não ofensiva?; Por que o superego se apossa daqueles motoristas que a todo custo querem mostrar força na direção, sendo que não há necessidade para isso.

Não encontrando respostas para seus questionamentos, Ana lamentou-se profundamente.

Ana não se achava a melhor motorista, mas tinha certeza de que circulava pelas vias com a maior atenção e cuidado possível. Evitava “colar” nas traseiras dos carros alheios ou chamar a atenção de quando alguém a fechava porque, intimamente, pensava que para um motorista “fechar” o outro alguma emergência teria para aquelas manobras radicais.

Sentada na poltrona da emergência, Ana tomava uma medicação para acalmar a crise de pânico que a acometeu enquanto dirigia e por alguns segundos, aquelas cenas do trânsito, os maus exemplos da maioria dos motoristas a fizeram perder a fé na humanidade. Ela tentava encontrar uma explicação para aqueles comportamentos tão cheios de desamor que tomavam conta do trânsito, mas, não encontrando, se deparou no absoluto vazio e tristeza.

Ao sair do hospital, Ana, tentando atravessar a faixa de pedestre, quase foi atropelada por um motorista que não respeitou a faixa. Tomada pelo ódio daquele dia em que estava vivendo, tirou o sapato e lançou na direção daquele motorista que dirigia única e exclusivamente pensando apenas em si, mas, logo em seguida se lamentou pelo comportamento dela. Ela estava sendo tão ou mais insensata que aquele motorista desordeiro.

Ao entrar em seu carro, ficou por um tempo pensando em como encontrar uma forma de ajudar a mudar aquela situação e sentiu necessidade de fazer algo para contribuir para a mudança daquele cenário. Chegando em casa, Ana, muito decidida, resolveu se inscrever em uma ONG se voluntariando para cuidar das vítimas da violência no trânsito. Aquele seria o primeiro passo para ela atuar e ajudar tantas pessoas que, como ela, estavam fartas de tanta violência no trânsito. Intimamente ela sabia que não salvaria a humanidade do caos que é o trânsito, mas ela estava disposta a fazer diferença na vida de alguém, nem que fosse de apenas uma pessoa.

Autora:

Patricia Lopes dos Santos

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