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domingo, 1 de setembro de 2024

Você o eu e o grupo

          Notável é o fato de que com o advento da globalização houveram muitas realizações icônicas que, por intermédio da cooperação colaborativa se difundiram pelo mundo feitos que outrora ficariam esquecidos em gavetas e armários de filhos, que passados para os netos e bisnetos em dado momento alguém teria a ideia de abrir uma caixa jogada no porão da casa e se dignar a ler escritos de seus parente mortos e em decorrência dessa fato compartilhar com o mundo alguma descoberta que deixariam todos boquiabertos. É glorioso o fato de que por meio da Internet pessoas consigam comungar ideias e ideais, teorias e hipóteses a fim de passar o tempo ou até mesmo no intuito latente de realizar algo grandioso. Foi assim com a criação do rádio, do relógio e afins. 

          Hoje, no mundo moderno, o senso de pertencimento tem ficado cada vez mais agravado e latente entre as pessoas devido a confusão que se faz a respeito do que é a vida pública e privada segundo definiu Chesterton. Dantes, o que eram escritos passados por gerações em seios familiares viram bens de utilidade pública fazendo com que o público consumidor se sinta cada vez mais integrado aquele seio familiar uma vez que tudo se confunde. Segundo define Chesterton, o mundo sempre se dividiu em duas situações: a vida pública, aquela adquirida quando se põe os pés fora de casa e nós dirigimos aos compromissos sociais, trabalhos e afins e a vida privada, aquela que começa desde o instante que se coloca os pés dentro de casa, ou seja, no seu seio familiar. 

          Com a criação de uma nova metodologia econômica, ou, porque não dizer um novo trabalho, os influenciadores sociais tornaram, não por culpa unicamente sua, a vida pública e a vida privada em um emaranhado de confusões uma vez que o seu método de sustento é expor-se ao extremo e cada vez mais a fim de obter engajamento e fixação do seu público, sempre à procura de um novo conteúdo, um novo vídeo, uma nova postagem. Quando a vida pública se confunde com a vida privada ou porque não dizer, se fundem, causa uma estranheza jamais vista antes: Hoje, qualquer seguidor se sente parte da família do influenciador. A confusão começa quando não se tem muito claro em sua consciência quais os limites do que é público ou do que se deve ser exposto. Quando, em um caso genérico, um influenciador é indiciado por um crime ou formalmente e/ou informalmente acusado de um crime, seus seguidores vão em sua defesa com a seguinte afirmação: “Eu conheço ele e ele jamais faria algo desse tipo”, denotando assim uma familiaridade digna de uma mãe para com seu filho. O teor dessa afirmação parece não ter um sentido muito abrupto ou incomum para consciências menos apercebidas do mundo que as cerca, mas, para olhos um pouco mais atentos o que vem à mente é somente uma pergunta: “Como você afirma isso sendo que nem conhece essa pessoa?”. 

          Por certo, não é bem verdade que os seguidores não conheçam seus influenciadores preferidos uma vez que os mesmos se colocam em uma situação de máxima exposição compartilhando até mesmo as cores de suas cuecas ou sirolas, mas, o fato é que essa exposição ininterrupta e cada vez mais latente a longo prazo causou uma degeneração não só do que se entende como vida pública e privada mas também do que se constitui uma família, uma vez que todo influenciador é como um irmão ou irmã para o seguidor logo o seu irmão de sangue é tão importante quando alguém que vive completamente deslocado, tanto fisicamente quanto emocionalmente, do seu entorno. Quando, a vida pública se funde e/ou se confunde com a vida privada, há uma notável inversão da hierarquia das coisas no âmbito familiar. Sendo mais específico: Quando um pai se ausenta das suas responsabilidades paternas, seu filho toma como influencia e parâmetro para a formação do seu caráter o personagem mais intimamente ligado a seu círculo, confundindo assim a autoridade familiar do seu pai com a autoridade ilusória ou não de um determinado influenciador a qual passa horas consumindo conteúdo. Marx já dizia que a família é a base de qualquer sociedade, seja moderna ou antiga e que, uma vez que a família é desintegrada e seu senso de hierarquia deturpado, gera-se uma crise sociológica com danos quase que imensuráveis. 

          Na tentativa de integração sociais, necessidade gerada pela criação de redutos virtuais e por influenciais sociológicas as quais não trataremos aqui, jovens têm introjetado em si uma necessidade latente de integrar-se a um grupo para sentir-se parte de algo. A corrupção dos valores, primariamente familiares gera uma falta de consciência que, no transcorrer dos anos acaba por desintegrar uma sociedade por completa uma vez que a capacidade de percepção é reduzida a nada, gerando assim a obstrução da lição factual da vida adulta: “Consciência coletiva é uma farsa”. 

          Partindo para o âmbito secular, os filhos imitam seus pais consumidores assíduos de conteúdos virtuais e acabam por entrar em um esquema de consumo exacerbado de conteúdos virtuais e por sua vez, confundindo a realidade factual do mundo, a sua verdade, com uma ilusão virtual remota, a qual seus pais também estão intimamente atrelados, seja em decorrência de uma falta de ânimo e/ou sentido de vida (entenda como ambição ou propósito) ou por mera fadiga diuturna causada pelo desgaste.

          Fato é que: Quando a vida privada, se confunde com a pública acabamos por criar uma sociedade completamente refém de organismos supra seculares (aqueles que esta fora e/ou acima das famílias), sejam eles organismos internacionais ou um influenciador virtual, uma vez que como evidenciado por Raymundo Faoro em seu Livro “Os donos do poder” e Pascal Bernardin em “Maquiavel pedagogo”: “Não existe vácuo de poder” e a família é o pilar responsável pela geração da sociedade.

Autor:

Cleidson Cruz

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