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quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Por trás das câmeras

Em busca de um sonho encantado, muitos estudantes ingressam na pós-graduação com diversos objetivos, desde a utopia de mudar o mundo por meio da educação até melhores condições de vida para suas famílias, conquistar reconhecimento profissional, fazer carreira internacional, etc. Enfim, diversos são os caminhos que levam os estudantes a decidirem por uma pós-graduação. Mas o que ninguém conta, ou talvez conte, é que lá no fundo, bem lá no fundo, sempre achamos que não irá acontecer conosco.

Os relatos de cobranças excessivas por uma produtividade egocêntrica são cada vez mais frequentes. A quem se destina o sistema educacional brasileiro? Onde professores relatam falta de reconhecimento e estudantes sofrem em uma cadeia de política de desvalorização da educação. Não é preciso ir longe para vivenciarmos e reconhecermos, em específico na pós-graduação, relatos de problemas mentais de estudantes. Uma comunidade acadêmica inteira está doente. E por maiores e mais altos que sejam os gritos, poucos ouvem, poucos reconhecem e quase ninguém se dispõe a ajudar. Abuso nem sempre vem com uma marca no rosto ou algum membro dilacerado, as marcas estão na alma.

E aquele 10, nossa! É o sonho de todo estudante. Sabe aquele artigo em uma revista internacional? Afinal, qual estudante de pós-graduação não iria querer? Mas, por trás do glamour dos congressos acadêmicos, do status de estar fazendo uma pós-graduação no Brasil, em sua grande maioria há um aluno frustrado por não atingir suas metas. Há aquele que até tentou sair-se bem nas disciplinas, mas não conseguiu. E aquele congresso “top” da sua área de pesquisa é cada vez mais distante.

E não é por não querer. Ninguém que esteja à frente das câmeras consegue entender o preço que é cobrado e deve ser pago com a alma por cada estudante. E isto não tem nada a ver com questões de gestões governamentais. Há um histórico cultural brasileiro e uma sede por alcançar padrões internacionais, seja por associações, universidades, etc. Infelizmente, nem todos conseguem se reerguer e se reinventar na pós-graduação, ou saem “loucos” ou “cópia” da opressão que viveram, prontos para replicar em seus futuros alunos, e assim a história ganha força para continuar.

Nem todo o sistema é educacional. Há muitos ambientes na pós-graduação que são mais um sistema prisional. Alguém, que não conheci, mas eu senti a dor por também fazer parte desse sistema, quis deixar assinalado de forma profunda o que viveu quando, em um campus universitário, deixou seu último sorriso e seu último sonho.

E não precisamos buscar justificativas para isso, o ato por si só já é carregado de porquês, os relatos de toda a comunidade também já são suficientes para entender que já faz tempo que o sistema educacional deu lugar a um sistema prisional. E quem está por trás das câmeras, apenas aplaude as vitórias dos que conseguem chegar até o final dessa jornada. E que bom seria se todos conseguissem chegar por meio de seus sonhos à meta que gostariam de alcançar. Por trás das câmeras há sempre uma alma a gritar.

Autora:

Laize Almeida

1 COMENTÁRIO

  1. Pós graduação é árdua e sem o devido reconhecimento. A pesquisa não deve a devida atenção da sociedade tampouco do poder público.

    Parabéns a autora!

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