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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

O Engodo da Amamentação de Livre Demanda

Altônia-Paraná, 08 de agosto de 2023

Existem umas coisas que entram na “moda”, que eu fico me perguntando: “- Viu! É isso mesmo? ”. Estas “coisas” ficam assim, soltas no ar, sem uma explicação coerente, mas com discursos enfáticos e cheios de axiomas retóricos que dão a compreender que possuem vasto repertório técnico e que visam prioritariamente a saúde dos envolvidos. Mas quando nos atemos a observá-los, e ainda mais quando no longo prazo, o que vemos não é bem o que nos é apresentado, de forma, muitas vezes, floreada pela beleza magistral do amor deste por aquele que… enfim. Um monte de baboseiras, sem o menor fundamento, que nos são colocados na mente, com vieses ideológicos da moda. Digo sempre para mim mesmo: “- Desconfie sempre, de tudo (mantendo a máxima rivailiana de que, é preferível negar dez verdades a admitir uma única mentir); quando tais tópicos são midiados de forma maciça e por famosos, vichi! Desconfie em dobro! ”.

Primeiro de tudo, temos de considerar que nossos artistas, em sua maioria, são pessoas sem muito conhecimento além das suas especialidades artísticas, alguns nem isso. Embora se sintam no direito potencial de opinarem sobre tudo, como se fossem detentores do saber absoluto. Quando muito, são bons artistas. Alguns, e eu diria a maioria, são depreciativos, enfadonhos, sem qualidade alguma. Estão na mídia sabe-se lá o porquê; desconfio, como revelou há uns anos o ator Oscar Magrini, ele afirmou que, ao ser apresentado à atriz Cleyde Yáconis, ela lhe disse que, para entrar na Rede Globo, o ator teria que passar por um quartinho suspeito. Segundo Magrini, o diálogo teria sido assim: “– Para entrar, você precisa participar do quartinho do PC”. Segundo Magrini, seria o quartinho do pó e do c*. Sim, isso mesmo. Para se ter “sucesso” na emissora, era preciso cheirar cocaína ou dispor o canal do retro para a introdução da fama. Não exatamente da fama, mas do bastão fálico do diretor, que poderia lhe colocar em destaque e, se tudo corresse bem, e repetidas vezes, talvez, no sucesso. Isso explica a razão de pessoas sem a menor competência, interpretando tão toscamente, que até o teatro da escola, no jardim de infância, tem mais naturalidade e qualidade. E não digo isso por força de expressão. É de fato como vejo. Explica também o porquê tantos “artistas” adoecidos, depressivos, viciados. Alguns viciados no último personagem interpretado, do qual não conseguiu deixar para trás, levando para vida pessoal o que deveria ter encerrado com o final da novela. Tornando suas vidas tão vazias quanto as novelas. Talvez explique também o porquê tantos casos de traições entre estes. Tantos “casa, descasa, troca, devolve” e etc. Não são pessoas saudáveis consigo mesmas. Parecem viver uma fantasia na qual acreditam. Isso os tornam vulneráveis a acreditar e a “comprarem e venderem” estas ideias ditas da moda, que pouca evidência precisa ter, mas ai de quem ousar duvidar de um artista midiático. Pois é o que irei fazer agora.

Há uns trinta anos, aproximadamente, começou o “movimento humanista” da livre amamentação. Nos últimos vinte anos, não se falava em outra coisa, quando o assunto era maternidade. Artistas de telenovelas e teatro, cantoras nos palcos ou em entrevistas que, interrompiam o que estavam fazendo para o aleitamento de livre demência, digo, livre demanda. Olhando assim, parece um ato lindo e maravilho. Mas totalmente nocivo a longo prazo. Na atualidade, já incorporado por alguns médicos pediatras, anunciado em rede nacional pela associação brasileira de pediatria, mas rejeitado pelos médicos mais antigos. Os ultrapassados, como são identificados pelos artistas e os mediquitos de topete descolorido, tornozeleira com as cores da Jamaica e uma conchinha, que comprou e Búzios, jaleco com uns frufruzinhos ideológicos e no carro um pescador de sonhos pendurado no retrovisor interno.

Esta semana li ao artigo de uma destas “Psicólogues”, que amam estas futilidades modais, publicado num blog qualquer; por não estar datado, não consigo saber de quando é a publicação. O li, porque me foi apresentado como prova de que minha posição estava equivocada sobre o tema.

A autora do artigo (não mencionarei seu nome aqui, porque não pretendo atacá-la ao pessoal, mas sim às ideias) se apresenta como Líder da Equipe de Curadoria da Leiturinha do tal blog, é formada em Psicologia e mãe de um menino. Leitora compulsiva, é apaixonada em provocar emoção, despertar a fantasia, entreter e alegrar pequenos através da literatura. Acredita que quanto menor nosso tamanho, maior a criatividade! – Tem ainda o suporte da GVA (Grupo Virtual de Amamentação). Só aqui, daria para inquirir alguns pontos sobre sua apresentação. Leitora compulsiva e pelo visto não leu nada sobre neuropediatria. Psicóloga de formação, mas ignora o neurodesenvolvimento piagetiano e o desenvolvimento social vygotskyano. Apaixonada em provocar emoção. Provocar emoção e não despertar o saber, mas sim, a fantasia. O restante está a contento. Não veja isso como um ataque. Não é este meu objetivo e de antemão, peço desculpas a autora, que dificilmente terá contato com meu texto. Mas mesmo assim, devo deixar claro que não é a ela que ataco, mas sim ao tema. Em seu artigo, não há referência se não de opiniões vazias. Incluído sua experiência com o único filho.

O biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, Jean Piaget, para citar um somente, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX. Defendeu uma abordagem interdisciplinar para a investigação epistemológica e fundou a Epistemologia Genética, teoria do conhecimento com base no estudo da gênese psicológica do pensamento humano. Piaget definiu as fases do desenvolvimento em inteligência sensório-motora: inteligência prática, manifesta em ações. Esquemas de ação, “conceitos” sensório-motores, início da construção das categorias de objeto, espaço, tempo e causalidade. Da diferenciação eu-mundo exterior ao reconhecimento de objeto, espaço, tempo, causalidade. Pré- operatória: Pensamento indutivo, presença do animismo e do artificialismo no raciocínio, egocentrismo. Diferenciação entre o ponto de vista próprio e o dos outros, rigidez e a irreversibilidade do pensamento. Interesse como prolongamento da necessidade, sentimentos de respeito (afeição + temor) pelos mais velhos, obediência, moral heterônoma. Operatório concreto: Passagem intuição à lógica do concreto, início da descentração. Aquisição da capacidade de perceber a reversibilidade das operações, explicações causais, noções de permanência de substância, peso e volume. Sentimentos de respeito mútuo e de justiça (distributiva e retributiva), moral da cooperação (correlata à lógica da reversibilidade), aparecimento da vontade como regulação da ação. Operatório formal ou abstrato: Acesso à lógica operatória abstrata, descentração completa. Pensamento proposicional e hipotético-dedutivo, esquemas formais de lógica combinatória e de proporções. Construção da autonomia.

Vamos focar na primeira fase piagetiana, a sensório motora, de 0 a 2 anos, antes ainda da linguagem, quando tudo é percebido por meio das ações e reações, construção de categorias e objetos, espaço, tempo, causalidades, que nada mais é que as reações, consequências, regras, sim- sim, não-não. A diferenciação do eu e o mundo, quando a criança começa a perceber que a mãe e ela não são as mesmas coisas. De que nada ocorre como ocorria dentro da barriga que, estando com fome, era imediatamente nutrida e hidratada. Nem sabe ela como, mas era, não precisava pedir.

Depois de nascida, a criança precisa aprender a sugar o seio da mãe, se quiser ter sua fome saciada. Para quem tem filhos ou já acompanhou de perto estas primeiras horas de um recém-nascido, sabe bem que, dá um trabalhão. Algumas crianças mais que as outras. Depois, passa a compreender que não é mais alimentada imediatamente quando tem fome, mas é necessário emitir algum sinal, para que a mãe o consiga compreender na sua necessidade. Ela vai sendo compreendida conforme os pais vão se adaptando a cada tipo de resmungo e choro. Neste período a criança começa a ter contato com a frustração de que não se tem tudo exatamente na hora em que se pede. É preciso aprender a esperar. Mas antes disso, aprende a fazer escândalo. Quando não se vê atendida no que necessita, passa a extrapolar no choro e nos gestos, em desespero por ser compreendida. Quando estabelece uma comunicação assertiva, passa a encurtar os escândalos e ir direto aos gestos e resmungos e, até mesmo choros que melhor signifiquem aos pais aquilo que a criança está precisando naquele momento. Dá-se então, a primeira comunicação bem-sucedida entre a criança e o adulto.

Ademais, as frustrações no meio deste caminho, dá início a compreensões que, futuramente serão indispensáveis ao ser humano. Como as já mencionadas, saber esperar, saber não esperar, saber articular novas formas de comunicações para se fazer compreender, adaptar-se ao ambiente e adaptar o ambiente. A longo prazo, e olha que não me alonguei a ponto de atingir a fase sucessora onde inicia a linguagem, propriamente dita, só aqui, teremos o início da construção de caráter de um adulto que não se frustra fácil, que não se mantém inerte, que busca formas de articulações e melhor compreender e ser compreendido. Por outro lado, e temos a exemplo a geração nem-nem, iniciada nos anos 90, caracterizada por não conseguirem prosseguir com os estudos; são financeiramente dependentes; residem com familiares; muitas vezes são resultado de uma educação precária. Nem-nem: nem trabalha, nem estuda, nem faz nada. Tiveram tudo na hora em que queriam. Não precisavam pedir, estava ali, a disposição o que comer, vestir, até mesmo pensar não era preciso. Tudo iniciado muito cedo, desde o aleitamento, com a livre demanda, ele não aprendeu a buscar, esperar e articular. Aprendeu a esperar somente que tudo lhe seria entregue de mãos-beijadas. A roupa limpa. A casa arrumada. A refeição na mesa. O celular novo. O dinheiro para o rolê. A chave do carro. O papel de seda e a maconha, e etc. Não que todos chegarão ao último estágio. Mas pouco serão os que pararão na chave do carro.

Atualmente, o mundo diz viver a geração Alpha, que descreve os nascidos a partir de 2010 até as crianças que ainda vão nascer até 2025. O grupo é caracterizado pela curiosidade, a hiperconectividade e pela independência, além de serem pessoas mais questionadoras e que priorizam a experiência. O que é outra grande mentira. São intolerantes a frustrações. São eles curiosos somente com superficialidades improdutivas como jogos online, celulares e imbecialidades. Hiperconectividade a ponto de torná-los nomofóbicos (do inglês no mobile phobia, ou seja, medo de ficar sem o celular. Satisfação em usá-lo – dependência neuroquímica por conectividade). Independência é surreal nesta geração. São incapazes de arrumar o próprio quarto. Tenho pacientes de 12, 13 anos, que não sabem cortar o pão para o café. Jovens de 20 e poucos anos, que moram com os pais, viram o dia em jogos online, faz faculdade EAD, usa camiseta do Star Wars, para parecer intelectual, mas na verdade nunca leram uma linha de um livro. Por isso apoiam-se nos filmes e séries, que já vem pronto, não precisa pensar. No exemplo deste segundo paciente, filho de professora, acorda-o com um beijo no rosto e uma caneca de leite com achocolatado, repetindo o combo para dormir. Isso aos 20 e poucos anos de idade. E a única coisa que questionam, é quando os pais irão trocar o seu pc ou o iphone. Ou quando o dará um carro só para ele. Questionam o porquê devem fazer agora, se nunca foi preciso antes. Sempre tinham tudo na mão, sem o mínimo e custo ou esforço. E suas prioridades experimentais estão para as drogas, tanto quanto para as experimentações sexuais “não binárias”, para usar um termo que eles amam, contra o patriarcado. Tornam-se vazias. Cheias de nada.

Conheço diversas famílias assim. Famílias cujas características são claras: assim que o patriarca se fizer ausente, a família toda virá a ruína. Outras diversas famílias que já se encontram nesta ruína, porque não souberam dar aos seus, limites, obrigações; formando uma prole incompetente, mimada, fútil, imbecializada, mas cheia de teorias e questionamentos contra a massa de velhos conservadores caretas e arcaicos.

Isso que falei somente dos 0 a 2 anos de idade, em um único trabalho, o de Piaget. Agora se for somar aos inúmeros outros estudos e informações sobre os jovens da atualidade, verão que o reflexo de uma geração, regrada a livre demanda, é perturbadora ao equilíbrio mental e laboral de todo e qualquer ser humano. Começa na livre demanda do aleitamento. Depois que a criança aprende este padrão e os pais não precisam lidar com a frustração do choro dos filhos e a própria frustração em lidar com isso tudo, ambos continuam a reproduzir o padrão para toda a vida. Na tentativa de evitar pequenas frustrações, cavam um abismo debaixo dos próprios pés que os levarão a maior frustração de todas. Tais características aparecem em tenra idade e devem ser moldadas desde então. Parte das queixas questionadoras da geração nem-nem e alpha, é justamente sobre aquelas regras que imputam neles as obrigações de um cidadão que, na ausência delas, os tornam umas entamoeba histolyticas. Está ai, um bom nome para a nova geração. Geração Entamoeba Histolytica. Geração de Amebas.

Não tenha medo de se frustrar ou de frustrar seus pequenos. Melhor que aprendam isso o quanto antes. A vida está cheia de frustrações a serem superadas. Um filho que não aprende a esperar e a ouvir um não dos pais, diante de um algo qualquer, sentirá frustração incalculável quando tiver de ouvir um não do patrão, do parceiro e etc. O filho inserido na livre demanda do aleitamento não aprenderá a esperar quando necessário for. Isso explica o porquê tantos jovens e adolescentes buscando as drogas e o suicídio ou as fugas por meio das redes sociais e as interações digitais, no caso dos jogos. Evitam frustrarem-se. E quando se frustram, não suportam. Surtam. Têm crises de ansiedade, refluxo, psoríases. Compram ideias malucas de jogos assassinos. Acham que a culpa de estarem frustradas, é de todo mundo, menos deles por serem uns inúteis. Se acham inteligentíssimos, à frente de toda a humanidade, mas falam “todes”. Não sabem que “este” é masculino, “esta” é feminino e “isto” é neutro e querem mudar o vocabulário para sentirem-se integrados, usando “e” em tudo, como se fosse neutro, quando na verdade é o masculino. Sentem-se inteligentíssimos, acima da divindade, aliás, se quer acreditam em divindade, mas se deixam cair no joguinho da baleia azul e são incapazes de diferenciar um genital masculino de um feminino. Relativizam tudo. Dizem que masculino e feminino é imposição social. Homem e mulher não existe, são criações sociais. E esquecem-se que até os autodenominados “não binários” só existem por conta de uma relação hétera. Que não havendo relação binária, extinguiria a raça humana. Que definindo a raça humana entre binários e não binários, volta-se a ser catalogado como binários.

Facilite a vida não facilitando demais a vida. Vida fácil, já dizia o ditado árabe, formam homens frouxos. Homens frouxos tornam os tempos difíceis. Os tempos difíceis tornam as pessoas fortes. As pessoas fortes tornam os tempos fáceis. Tempos fáceis tornam as pessoas frouxas e assim vai. Temos de ser pessoas fortes a gerar pessoas fortes. Facilitar a vida neste caso, não é tirar a dificuldades a serem enfrentadas, mas ensiná-los a superar as dificultadas que aparecerem, de cabeça erguida, com estratégias inteligentes, sem mimimi. Visando o futuro honrado e promissor.

Autor:

Ednelson Garcia. Doutorando em Psicanálise pela Sociedade Internacional de Psicanálise de São Paulo, com ênfase em Logoterapia; Mestre em Teologia, pela Faculdade de Integração Teológica de Serra Talhada-PE, com ênfase em Noogenia; possui Graduação em Psicologia pela Faculdade de Ciências Aplicadas de Cascavel-PR; Especialista em TCC – Terapia Cognitivo Comportamental- SP, com ênfase em Biblioterapia; Neuropsicopedagogia Clínica-RJ, com ênfase em Musicoterapia; e em Atividade Física e Saúde-MG, com ênfase em Protocolo Tabata. Atualmente é Servidor Público, Psicólogo da Prefeitura Municipal, pelo Centro de Especialidades da Secretaria Municipal de Saúde de Altônia-PR. Premiado no II Congresso Internacional CEFI de 20109. Autor do livro “O Problema do Corpo, da Mente e do Espírito: Ensaio Neuropsicoteológico da Noogenia”, pela UICLAP Editora (https://loja.uiclap.com/titulo/ua32473/).

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