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sábado, 31 de agosto de 2024

Dizendo sim a si mesma

Ao som de The Smiths, Ana tomava seu vinho em sua taça de cristal decorada que havia comprado para usá-la em um momento especial, e esse dia havia chegado: estava celebrando sua maior conquista que foi a de se autopromover dona de si. A autopiedade e compadecimento por si própria que sentira outrora a tinha deixado finalmente.

Mas, por volta das vinte e duas horas, o telefone tocou.

Era Júnior do outro lado da linha. Um estranho que apareceu na vida de Ana sem pedir licença e que foi ficando.

Era apenas um casinho que já durava alguns meses. Ele aparecia de vez em quando a enchia de expectativa e desaparecia, mas sempre que dava, os dois se encontravam.

Ele tinha suas singularidades: um homem forte, inteligente, cheio de energia e extremamente carinhoso.

Durante a conversa, perguntou o que ela estava fazendo e Ana, sem pestanejar, falou que estava esperando por ele. Mentira dela. Ana estava muito bem para esperar por alguém, mas, resolveu sair com essa para ver no que dava.

Não deu outra: em menos de vinte minutos Júnior estava na porta do apartamento dela com duas taças de vinho e rosas vermelhas em suas mãos.

Era tudo o que ela mais queria: alguém que a fizesse sentir especial para fechar a sua noite com chave de ouro.

Apesar de se sentir segura de si, gostava de ser cortejada mesmo que fosse por alguns instantes.

Ao abrir a porta, ele beijou docemente sua mão e falou que não via a hora de estar ao lado dela. Ouvindo aquilo, ela se desmanchou e desejou estar nos braços dele, mas se conteve, pois lembrou-se que ele era apenas um casinho que aparecia de vez em quando e ela não estava a fim de cair naquela cilada.

A noite foi aprazível, tomaram três garrafas de vinho rosê e se deliciaram na tábua de frios que ela providenciou de última hora.

Conversa vai e vem, ele tirou do bolso um par de aliança e se declarou para ela de joelhos dizendo que a amava e a queria para o resto de sua vida ao lado dele.

Ana sempre sonhou em viver aquele momento, mas recuou.

Ao lembrar que momentos antes ela estava celebrando sua autonomia e independência emocional, não quis alimentar um compromisso mais sério com alguém que despertava expectativas nela e desaparecia do nada, pois sabia que custaria a sua liberdade emocional.

O olhar perdido de Júnior não a fez voltar atrás, pelo contrário, Ana tinha certeza de que não era o momento para entregar seu bem mais valioso: sua preciosa liberdade.

Ao fechar a porta e vê-lo partir, Ana respirou fundo e brindou a felicidade que encontrara na solitude e desejou viver aquilo eternamente.

Ela havia demorado para se encontrar, mas tinha certeza de que chegaria esse dia. E chegou!

Embalada pela música, dançava sozinha na companhia de sua taça de vinho e nada importava, apenas queria desfrutar daquele momento como se fosse único.

A sensação que ela tinha é de que aquela oportunidade que estava vivendo era única e exclusivamente dela, e era.

Autora:

Patricia Lopes dos Santos

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