… e sua bonequinha, vovô dizia ao conferir minha mochila,
todo dia sem esquecer de nada e me acompanhar até a escola.
No caminho nos fazia companhia uma amiguinha que também
o chamava de vô. Como ela não tinha o dela, eu deixava. Mas não era.
Quando ela se atrasava ele a esperava até o último minuto.
Não se pode deixar ninguém, ele dizia.
O tempo passou mais rápido para ele do que para nós
e sua memória ficou esquecida. Mas não devia.
… e sua bonequinha, sem conferir o restante dizia.
Acompanhava-me somente até o portão de casa.
Depois até a porta da sala. Depois apenas da cama me acenava,
mas até então chegava na escola me sentindo acompanhada,
porque minha amiga, do vô sempre perguntava. Nunca se esquecia.
Hoje é o primeiro dia em que vamos à escola sem ele.
A cada pouco olhamos para trás, com a incômoda sensação que não passa
de que esquecemos algo ou alguém, enquanto dizemos uma à outra, não chora…
Autor:
Miguel Arcangelo Picoli é autor do livro Momentos (contos) e Contos para Cassandra (em homenagem à escritora Cassandra Rios).
Ótima poesia… vovô… sorte de quem os tem ainda…