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sábado, 20 de julho de 2024

Será que meu celular foi clonado?

Quem nunca recebeu mensagens estranhas no WhatsApp ou Messenger? Quem nunca recebeu pedido de PIX de alguém se passando por um amigo em dificuldade financeira e que promete devolver no dia seguinte? Outra coisa: repararam que ninguém decora números de telefone? Para que decorar se está tudo na memória do celular? O problema é que o pessoal do dedo grosso, os míopes e os distraídos, muitas vezes mandam mensagens para pessoa errada e criam confusão. E se nos contatos tiver nomes iguais ou parecidos, aí a coisa complica de vez.

            Conheço um gerente de vendas que tem centenas de contatos na agenda e participa de vários grupos: empresa, família, gandaia, turma do Encontro de Casais do Templo etc. Um dia, querendo ganhar tempo, mandou mensagens enquanto estava parado no semáforo. Atrapalhou-se com o celular, os vendedores de esquina e o volante, confundiu os destinatários e: chamou a sogra Dirce para o Happy Hour no Cabaré; pediu para o mecânico Dirceu para pegar leve com as mulheres no Encontro de Casais do Templo; deu uma dura na esposa Diva pelo desempenho ruim no último mês; elogiou a excelente rabada da vendedora Dulce; mandou vídeo pornô para o Pastor Décio. Quando descobriu os enganos, já era tarde.

A comunicação moderna alterou comportamentos pacificados há décadas. Para os namorados, ficantes, pegadores, piriguetes, amantes, faz tempo que estão liberados o beijo de língua, apalpadas nas coxas, carícias nos seios etc. Está tudo incluído no pacote. Agora, xeretar o celular da pessoa, isso não pode! É muita falta de respeito!

A tecnologia de comunicação instantânea, portátil, a qualquer hora, de qualquer lugar para qualquer lugar, através de texto, voz, imagem ao vivo ou gravada, foi criada para facilitar a vida do usuário (e gerar lucro para as empresas, claro), mas infelizmente a bandidagem tecnológica nunca dorme e está sempre se reinventando. As vítimas podem ser qualquer um: jovens, crianças, adultos, idosos, políticos e até mesmo pessoas antenadas na modernidade. O que dizer então de três casais, amigos íntimos, todos com muitos segredinhos? Vejam o que aconteceu:

As reuniões do exclusivo clube feminino Loba Gata são todas secretas e restritas às sócias, com convocação pessoal, boca a boca, impossível de rastrear. Não é permitido gravar, fotografar ou filmar as reuniões. Os celulares são recolhidos na chapelaria e desbloqueados, para ao caso de alguém receber mensagem urgente. Uma vez iniciados os trabalhos, ninguém entra e ninguém sai. Terminada a reunião, um sorteio determina a ordem de saída, alternando as portas da frente e dos fundos para despistar curiosos. Tudo muito discreto.

Eliana, apressada, dirigia e checava mensagens no celular. Estranhou o marido sugerir encontro romântico no dia seguinte. Ela avisou que tinha um congresso o dia inteiro, mas ele deve ter se esquecido. Queria saber se o paspalho do Péricles acreditou naquela história de congresso e se o Pedroso reservou hotel, mas o que leu veio de Percival: “não se preocupe, continue enrolando”. Ela não entendeu.

Eliane, também ao volante, enganou-se e ligou para Péricles, marido da Eliana, crente que chamou o amante Percival, marido da Elaine. Mal ouviu o alô e disse que precisavam ter mais cuidado, pois seu marido estava fazendo muitas perguntas. O interlocutor tentou conferir quem estava falando, mas a ligação foi encerrada. Havia apenas uma mensagem: “bom congresso”. Ela não entendeu.

Elaine estava preocupada com a ausência de notícias de Péricles sobre o encontro a dois que combinaram para a tarde seguinte. Ele prometeu enviar mensagem, mas até aquele momento ela não teve qualquer notícia e estava preocupada. Só tinha uma pequena nota: “reserva OK”. Ela não entendeu.

Naquele instante, como que por mágica, as três pensaram: tem alguma coisa errada que não está certa! Algo estranho aconteceu! As mensagens não faziam sentido e cada uma imaginou que seu aparelho fora clonado. Voltaram ao clube Loba Gata onde mais cedo participaram da reunião do grupo “Mulheres com TPM – Tenho Problemas com o Marido”. A recepcionista disse que os celulares podem ter sido trocados na hora da devolução. São todos da mesma marca, todos com capinha pink cintilante, ela pode ter se enganado e as amigas não conferiram.

Desfeitos os enganos, elas riram, desculparam-se e seguiram destino. No caminho pensaram que uma poderia ter xeretado as mensagens da outra e decidiram conferir: no celular da Elaine, mensagem do Péricles sobre o encontro no dia seguinte; no da Eliane, Percival dizia para não se preocupar e no de Eliana, Pedroso confirmava o hotel. Tudo certo, sem crise, na santa paz!

À noite, os casais Eliana e Péricles, Eliane e Pedroso, Elaine e Percival compartilharam mesa numa pizzaria. Os maridos, como sempre sem saber de nada, nem da reunião do TPM no Loba Gata, nem da confusão com os celulares, faziam média com as esposas enquanto trocavam piscadelas com as amantes. As mulheres, antes muito tensas, se acalmaram quando viram que nem as amigas e nem os maridos desconfiaram de nada. Tudo nos conformes!

A comunicação visa ao melhor entendimento entre as pessoas, mas se a mensagem vai parar no destinatário errado, a confusão se instala, relacionamentos são desfeitos, negócios são perdidos. Porém, como diria Shakespeare, “Tudo bem quando termina bem.” Vida que segue!

Laerte Temple
Laerte Temple
Administrador, advogado, mestre, doutor, professor universitário aposentado. Autor de Humor na Quarentena (Kindle) e Todos a Bordo (Kindle)

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