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sábado, 28 de junho de 2025

O despertar de uma despensa vazia

Olhando a despensa vazia, Ana não conteve as lágrimas.

Trabalhando arduamente como doméstica e passadeira, ela chegou à conclusão de que estava enxugando gelo a todo momento, pois tudo o que ganhava mal dava para o seu sustento e dos seus cinco filhos.

O cansaço daqueles olhos esverdeados eram evidências de que a sua jornada era muito exaustiva e cheia de pesar.

Ela não tinha expectativa de melhoras, até que resolveu voltar a estudar.

Com seus cinquenta e poucos anos, ela era a mais velha da turma, mas aquilo não a intimidou. Tinha certeza que a única saída para ter dias menos ruins, seria com os estudos, e ela foi.

Mesmo trabalhando arduamente durante o dia e estudando à noite, encontrava sempre um tempo para dar atenção aos seus filhos e quando estava com eles se desdobrava para preencher o vazio de sua ausência.

Um dia perguntaram à ela por qual motivo ela ainda insistia em estudar naquela altura do campeonato da sua vida, que não fazia sentido aquela decisão dela porque não havia mais campo para ela no mercado de trabalho, mas ela não dava vazão àqueles comentários e seguia firme, pensando sempre que não queria mais sentir o que sentira quando via a despensa vazia.

Muitos diziam que ela acreditava em utopia, mas, ela, obstinada, acreditava em dias melhores que só poderiam mudar se ela investisse nela naquele momento para colher os frutos futuramente.

Passados seis longos anos, Ana recebeu seu canudo com lágrimas de pura emoção e acreditou, mais do que nunca, em dias melhores.

Sua força e determinação a fizeram ser bem sucedida em suas escolhas profissionais que outrora ela tanto almejava.

Ao entrar num Fórum qualquer ela pensou que não havia milagre, mas dias de luta e muita resiliência  para ela chegar onde chegou.

Ao chegar em casa, após uma árdua jornada de trabalho, se deparou com um presente em sua cama deixado pelos seus filhos. Ao desembrulhar cuidadosamente aquele embrulho, se deparou com fotos dela com seus filhos onde era visível o sofrimento que viveram por muitos anos.

Mas, tinha uma foto muito especial naquele presente: o do casebre onde moraram por toda a vida e, logo em seguida, o mesmo casebre transformando-se em uma mansão.

Aquela foto do casebre foi para um quadro, que foi instalado em sua sala, para lembrá-la de suas origens e no quanto sua vida deslanchara por ter acreditado e ousado pensar alto.

Intimamente ela tinha certeza de que todo o seu sofrimento havia ficado no passado, como ficou, e não se limitou a pensar no que não podia realizar, mas no quanto a vida tinha a lhe oferecer ainda.

Autora:

Patricia Lopes dos Santos

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