O luto é um assunto cheio de camadas e que afeta o psicológico das pessoas de maneira profunda e particular
O Dicionário Oxford descreve o luto como um “sentimento de tristeza profunda pela morte de alguém”. Com isso, outras emoções podem ser desencadeadas, como raiva, solidão, hostilidade, ansiedade, fadiga, agitação, entre outros.
De acordo com o psicólogo inglês John Bowlby, especialista na teoria do apego, quanto maior o afeto por algo ou alguém, maior o sofrimento do luto.
Mesmo que todos já tenham sentido ou ainda vão sentir essa dor, o luto é muito mais complexo do que pode parecer. Diante disso, veja algumas dicas para entender melhor o que é este processo e encontrar formas de como superá-lo.
1 – Consolação (literatura)
A consolação (ou consolo) é um gênero literário que busca confortar os aflitos causados por adversidades, muitas vezes relacionadas à morte de um ente querido.
Iniciados pelos filósofos da Grécia Antiga e abraçados pelos romanos, os argumentos são feitos pelo consolador em tom sério, mas ainda emocional e conotativo, com o objetivo de persuadir o aflito a encarar e fazer as pazes com a morte.
Algumas consolações conhecidas são:
- Consolação a Márcia, Sêneca
- Discussões Tusculanas, Cícero
- Consolação à esposa, Plutarco
- Fédon, Platão
2 – Terapia de luto
Existe um tipo de terapia destinada especialmente a pessoas que estão sofrendo as dores do luto. O profissional de psicologia realiza uma série de exercícios de aconselhamento para amenizar os sentimentos ruins.
A terapia destaca que o sofrimento é diferente para cada pessoa, o que significa que a recuperação também funciona de maneira distinta.
A pessoa enlutada, além de lidar com a dor, aprende a seguir em frente e a se reconectar com os demais aspectos de sua vida.
3 – Cores do luto
O preto é a cor mais associada ao luto. Em funerais, é comum que a maioria das pessoas se vistam apenas com roupas escuras. No entanto, isso é uma característica do Ocidente que teria nascido na Inglaterra da Era Vitoriana (século XIX).
Em países asiáticos como a China, Índia e Japão, a cor branca é comum para simbolizar o luto. Não tem o significado de tristeza, mas, sim, de silêncio, paz e tranquilidade.
Em algumas partes da África do Sul, o vermelho é associado à morte. No Egito, a perda é representada pelo amarelo – em referência às folhas secas e o fim da vida.
No Irã e na Síria, as pessoas costumam usar azul celeste quando seus entes queridos se vão.
4 – O poder da leitura
Existem muitas formas de superar o luto, sendo uma delas a leitura. As palavras podem ser poderosas o suficiente para proporcionar conforto e aceitação em relação à morte.
Diversos livros tratam dos vários aspectos da dor da perda – e exatamente por isso fizeram sucesso. Veja alguns:
- PS: Eu Te Amo, Cecelia Ahren (ficção)
- O Começo do Adeus, Anne Tyler (ficção)
- Conversando Sobre o Luto, Edirrah Gorett Bucar Soares, Maria Aparecida de Assis Gaudereto Mautoni (não ficção)
- Amor e superação: como enfrentar perdas e viver lutos, Luiz Alberto Py (não ficção)
5 – Modelo Kübler-Ross
O modelo Kübler-Ross propõe a descrição dos diferentes estágios emocionais que uma pessoa enfrenta ao lidar com o luto, a perda e a tragédia.
Foi desenvolvido pela psiquiatra suíço-americana Elisabeth Kübler-Ross e publicado pela primeira vez em 1969 no livro Sobre a morte e o morrer: o que os doentes terminais têm para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos seus próprios parentes.
Sua teoria é dividida em cinco comportamentos:
- Negação: não conseguir admitir/acreditar que seu ente querido faleceu
- Raiva: sentir ressentimento hostil pelo falecimento
- Negociação: fantasiar em reverter o que aconteceu, buscando formas para que isso se torne real
- Depressão: profunda tristeza pela conscientização da morte
- Aceitação: aceitar a morte e iniciar o processo para seguir em frente
6 – Instituto do Luto Parental
Nascido em 2019 como Casa Mães Para Sempre, o Instituto do Luto Parental foi criado a partir do luto gestacional que Lígia Aquino, a fundadora, enfrentou em 2015.
Ela então idealizou um espaço de apoio para mães, pais e famílias que passam pelo luto gestacional, neo e perinatal, acreditando na validação da vida perdida da própria filha e de outras crianças que se foram precocemente.
A ONG tem redes de apoio em diferentes regiões de São Paulo, já ofereceu o curso Formação em Humanização do Luto para profissionais do Hospital Municipal do Campo Limpo e Centro de Parto Humanizado Casa Angela e presta assistência gratuita presencial e online.
Saiba mais em institutodolutoparental.org.
7 – Representação na arte
A arte sempre fez seu papel de retratar as emoções humanas. Algumas pinturas representam o luto sob olhares poéticos e dolorosamente reais.
Tristeza inconsolável, Ivan Kramskoy (1884)
Reprodução: Wikipédia
Death in the Sickroom, Edvard Munch (1893)
Reprodução: Wikipédia
Velho Triste (No Portão da Eternidade), Vincent Van Gogh (1890)
Reprodução: Wikipédia
8 – Riscos do luto infantil
Estima-se que uma em cada 20 crianças vão sofrer com a morte de um dos pais até os 16 anos. Já a maioria tende a vivenciar o falecimento de um parente ou amigo próximo da família.
Alguns sinais apresentados por crianças e adolescentes enlutados devem ser observados de perto e podem significar que há a necessidade de ajuda profissional:
- Dificuldade para dormir e se concentrar
- Autoestima baixa
- Baixo rendimento escolar
- Rompimento de relacionamento com amigos e família
- Depressão
- Comportamentos de risco (brigas, uso de drogas e álcool, etc.)
9 – Luto coletivo
O luto coletivo acontece em decorrência de grandes acontecimentos, como foi o caso da pandemia de covid-19 que resultou em mais de 670 mil óbitos apenas no Brasil ou a morte da cantora Marília Mendonça em novembro de 2021, quando mais de 100 mil pessoas compareceram ao velório.
De acordo com Cláudio Paixão, doutor em psicologia social e psicólogo clínico, o fenômeno funciona como se a tristeza de uma pessoa fosse potencializada a outra, o que vai se estendendo. A partir daí, já existe um grupo enlutado completamente envolvido no sentimento, o que é importante para que a finitude humana seja confrontada.
No caso de personalidades famosas, ele diz que “[…] as pessoas pensam ‘E se fosse eu?’, […] ‘E se fosse minha mãe?’. As pessoas se amparam, pois se tornam irmanadas em Marília, em Freddie Mercury, ou em qualquer um desses grandes artistas que morreram”.
10 – Mudanças cerebrais
A Universidade do Colorado em Boulder (EUA) fez estudos em ratos que têm apenas um parceiro durante toda a vida. Foi descoberto que, quando um deles se ausenta, o outro sofre alterações cerebrais.
Os resultados mostraram que a taxa de hormônios de estresse (cortisol) cresceram e diversas alterações neurais e de transcrição foram ativadas à medida que os animais tentavam entender o que estava acontecendo.Obviamente, o cérebro humano é bem mais complexo do que o de ratos, mas a mesma lógica se aplica às pessoas. Por isso, é preciso encontrar formas que te ajudem a vivenciar esse momento. Pode não parecer num primeiro momento, mas a vida continua após a morte de uma pessoa especial. O que fica são as lembranças e homenagens que são feitas com coroas de flores e fotos que marcaram sua passagem na Terra.
Autor:
Mario Reis
Interessante, ótimo artigo.