“Fede pra danar, mas é gostoso
O bicho é feio, é cabeludo e malcheiroso
Mas no fundo, bem no fundo é saboroso!
Calma, minha gente,
Eu tô falando do gambá!
Ó o Mate! Ó o limão! Limonada! Matê!”
Ele vinha cantando isso aos berros pela praia enquanto batucava com um isqueiro no galão de mate e com uma moeda no de limonada. Andava descalço naquela areia extremamente quente com a maior naturalidade do mundo, enquanto nós, turistas, dávamos umas corridinhas e uns pulinhos para não queimarmos os pés. Usava bermuda e camiseta laranjadas com o desenho de um leão e com o nome da marca Matte Leão, embora não trabalhasse para eles. Na cabeça, um sassá, também laranjado, já encharcado de suor e um pouco sujo de areia. Uma toalha molhada e dobrada duas vezes ajudava a refrescar e não deixava as alças dos galões machucarem os ombros.
A gente, de férias, distraído, procurando relaxar e esquecer os compromissos do dia-a-dia, só quer ficar admirando a imensidão do mar e acaba não prestando muita atenção nas pessoas e nas coisas que acontecem à nossa volta e, por isso, às vezes, acaba tendo a impressão de que só vê essas pessoas de costas ou de que elas não tem cara, mas esta tinha. O fato de cantar uma música tão alto e com uma letra de dupla interpretação fazia com que nunca passasse despercebido, todos queriam saber de onde vinham aqueles versos e olhavam para ele. Assim que percebia que já tinha a atenção de todos, vinha em nossa direção, já sacando um copinho de plástico, daqueles de café, no qual colocava um pouco de mate para a gente experimentar. Entregava a amostra grátis com sua mão calejada, grossa como uma sola do pé, cheia de cortes feitos pela faca que, vez ou outra, escapulia quando estava cortando limões o mais rápido que podia, enquanto tomava conta do mate que fervia na panela, para garantir que a limonada não faltasse para fazer os “meio a meio” no dia seguinte. Em seguida, abria um enorme sorriso de piano por entre uma circunferência branca de protetor solar e nos olhava com aqueles olhos cheios de veias bem grossas e manchas avermelhadas em cima de olheiras bem pesadas. Quando percebia que reparávamos nesses detalhes, pegava o óculos escuro que levava no pescoço, com as lentes totalmente embaçadas de suor, e colocava dizendo que quase não dormia para não deixar a gente na mão na hora que desse vontade de tomar aquele mate geladinho. Cada um de nós pediu um “meio a meio”.
Enquanto ele nos servia, contava as dificuldades que passava para sustentar os cinco filhos e a mulher, que não conseguia mais emprego depois de ter sofrido um acidente. Dizia que conquistou tudo o que tem sozinho, com o suor do seu próprio rosto, sem a ajuda de ninguém, só das pessoas que compravam seu mate. Em tudo tinha o seu suor. Tudo era feito com o seu suor. Na minha cabeça surgiu uma pergunta: “- O mate também?”. Paguei, agradeci, esperei que ele tomasse uma certa distância e entornei tudo na areia: “- Comprei só para ajudar, nem gosto de mate”.
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Caralho edson eu sinto um prazer enorme lendo suas crônicas por favor escreva mais eu te amo e um beijo na sua bochecha seu lindo?
Obrigado