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domingo, 17 de novembro de 2024

Narrativas e fake news florestal

Meu nome é Woody. Sou um canis lupus, membro da família canidae, mais conhecido como Lobo, ancestral do canis lupus familiaris, o popular Pet. Os cães já faturavam muita grana antes mesmo desse nome afrescalhado, Pet. Rim Tim Tim, Lassie, Scooby Doo, Pluto, Bionicão, os mini Pets da Patrulha Canina, até mesmo o Coragem – o cão Covarde, faturaram alto. Mas os canis lupus são sempre os vilões das histórias. Após longa pesquisa, descobri a origem dessa narrativa difamatória que vem prejudicando minha família. Tudo começou no distante século XVII, quando uma mãe pediu à filha para levar bolinhos para a vovó. 

A narco-ambientalista Chapeuzinho Vermelho era uma nem-nem: nem estuda, nem trabalha. Sua avó, nariguda e rabugenta, fraudava a previdência, recebia vale gás mas só tinha fogão à lenha, bolsa isso, bolsa aquilo e vários programas sociais para aumentar renda sem fazer nada. 

A mãe, aposentada precocemente graças a um fajuto laudo médico de câncer de próstata, recebe auxílio reclusão de dois amantes. Ela pediu para a filha levar bolinhos de canabis e cachaça para sua vovó. Na floresta, Chapeuzinho encontrou um falso caçador com um fuzil AR15 contrabandeado, sem registro ou porte de arma, comeram os bolinhos, acabaram com a cachaça e o chá. Depois, os chapados praticaram atos libidinosos até desmaiarem.

A trêbada e desocupada precisava inventar uma ótima desculpa para se livrar da bronca da mãe e bolou um plano ardiloso. Atraíram meu tataravô Archibaldo que fazia caminhada na floresta, mataram o pobre coitado e foram à delegacia registrar a ocorrência. Afirmaram que o lobo idoso comeu a vovó e o caçador precisou abrir sua barriga para salvá-la. A idosa, senil, surda e gagá, confirmou a versão dos dois pilantras e o B. O. livrou Chapeuzinho da surra da mãe.

Três arruaceiros que esperavam seus advogados ouviram a narrativa inventada pela dupla. Um era o falsário francês Charles Perrauld e os outros dois, os perigosos irmãos Grimm, membros de uma conhecida gangue alemã. Com base no depoimento fajuto, criaram uma estória fantasiosa tendo o vovô Archibaldo como vilão. Ficaram famosos e ganharam um dinheirão.

Ora, não é preciso ser especialista anatomia para saber que uma senhora não cabe na barriga de um velho lobo. Além disso, humanos não integram a cadeia alimentar da família canidae. Porém, a narrativa colou e o delegado bocó nunca se interessou em apurar os fatos.

Foi lobocídio, assassinato a sangue frio. O Ibama não fez nada e não apareceu nenhuma ONG de direito dos animais para protestar. O advogado da viúva, a tataravó Cotinha, pediu a prisão de todos, mas a petiz e a idosa eram inimputáveis. Há séculos minha família tenta a condenação do falso caçador por porte irregular de arma, assassinato em primeiro grau e exercício ilegal da medicina veterinária, mas ele tem parentes na política e no crime organizado.

Como se isso não bastasse, tem ainda o caso do tio Astolfo, primo do tataravô Archibaldo, acusado por três porquinho safados de derrubar suas casas com sopro, como se fosse possível. Eles ocuparam terras invadidas pelo MSC–Movimento Sem Chiqueiro e financiaram as casas pelo programa Meu Chiqueiro Minha Vida. Gastaram todo o dinheiro com churrasco e cerveja, não pagaram as prestações, jogaram a culpa no tio Astolfo e ainda pediram reembolso do prejuízo. Tem muita maldade neste mundo.

Os processos estão parados no STF – Supremo Tribunal Florestal e os criminosos se deram bem. As famílias Perrault e Grimm ganharam muita grana com royalties, os porcos emplacaram o Porky Pig, o Babe, a Pepa Pig e a Miss Pig, que assediou o sapo Caco para entrar no elenco. Os herdeiros do caçador conseguiram registro de CAC e pensão vitalícia. As autoridades tentaram agradar os lobos pondo a foto do tio Guará na cédula de R$ 200,00, mas quem anda por aí com toda essa grana?

Acredito que a verdade ainda será restabelecida, a honra da família canidae será lavada e os culpados serão punidos, se bem que alguém pediu vista e o STF pode declarar a pena prescrita. É duro ser minoria na floresta e lutar contra a narrativa do sistema corrupto, de patas marcadas!

Laerte Temple
Laerte Temple
Administrador, advogado, mestre, doutor, professor universitário aposentado. Autor de Humor na Quarentena (Kindle) e Todos a Bordo (Kindle)

10 COMENTÁRIOS

  1. Como sempre muito bom!
    Dâ uma confusão mental …
    Acabo por nao saber se a história verdadeira é a que conhecia ou esta qvc contou repaginada Kkkk ??????

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