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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Liderança Hoje e Amanhã

O Que Há de Novo e Diferente na Liderança? Em Que Contexto Mudou a Forma de Liderar Hoje em Dia? Quais São as Atuais Implicações Para a Prática da Liderança?

Não é mais segredo para ninguém que as transformações das sociedades e os avanços da tecnologia estão trazendo mudanças profundas para as organizações, principalmente na forma de se gerenciar pessoas. Essas transformações também exigem um novo perfil para os líderes empresariais, sendo necessário que eles desenvolvam habilidades diferentes das tradicionais.

A sociedade atual passa por transformações profundas em seus pilares, impactando o ambiente empresarial que deve se adaptar a essa nova realidade com características muito distintas do modelo tradicional. Dessa forma, faz-se necessário que o líder seja capaz de lidar com esses desafios e, certamente, esses são alguns dos temas que serão abordados nesse texto.

KOUSER & POSNER ([1]) realizaram uma pesquisa com vários líderes mundiais, fazendo a seguinte pergunta: “O que há de novo e o que é diferente?”. As respostas foram idênticas, tivessem eles 20 ou quase 80 anos. Eles disseram que os aspectos básicos da liderança são hoje o que eram em 1980 e, provavelmente, o mesmo que são há séculos.

Entretanto, acrescentaram que, embora o conteúdo da liderança não tenha se modificado, o contexto mudou e, em alguns casos, essa mudança foi radical. Que novo contexto é esse? Quais são as implicações para a prática da liderança?  

  • Maior Incerteza: O horror dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001 mudou as nossas vidas, onde aviões comerciais viraram armas de destruição em massa. Nossa psique coletiva resiste, mas o que aconteceu continua sendo incompreensível, pois em questão de minutos passamos a nos sentir muito menos seguros do que éramos quando acordamos aquela manhã. Não é à toa que tantas pessoas estejam se perguntando: “Como liderar durante essa época de caos e incertezas? ”.
  • As Pessoas em Primeiro Lugar: Em meio à angústia de todas as tragédias, surgiu algo impressionante, pois a TV mostrou os investidores de Wall Strett que, antes pareciam mais movidos pela cobiça do que pelo bem, chorando copiosamente. Os CEO’s de empresas ao redor do mundo nos aconselhavam a “colocar a família em 1º lugar” e, agindo como se fossem uma só família, pessoas ao redor do mundo começaram a se ajudar mutuamente. Elas acenderam velas, se entregaram a vigílias, exibiram luto, saíram em passeatas, fizeram contribuições, doaram sangue, roupas e participaram de serviços religiosos.

Será que esse comportamento de compaixão é duradouro ou apenas temporário? Será que a vida voltará ao ritmo competitivo, 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano, de 10 de setembro de 2001? Não, de acordo com o que aprendemos. As competências da autoconsciência, da autogestão, da consciência social e das habilidades interpessoais estão em alta e, atualmente, existe uma demanda muito maior de líderes que sejam treinadores exemplares e indivíduos que demonstrem respeito por pessoas com formações culturais diversificadas.

  • Estamos Ainda Mais Conectados: Há uma década observamos que a tecnologia havia nos transformado em uma aldeia global e, agora que a tecnologia sem fio escolheu o planeta deixando-o do tamanho de um celular, pensar em aldeia global é “pensar pequeno”. Você acorda em Pequim sabendo que pode verificar seu assistente digital portátil e conectar-se ao seu escritório em Berlim ou Boston, graças a isso, podemos enviar hoje um pedido eletrônico para uma fábrica no outro lado do mundo e os funcionários podem fabricar o produto e despachá-lo no dia seguinte.

Então, com o acesso à informação através de um único clique, como liderar em um mundo conectado globalmente onde a hierarquia se tornou totalmente irrelevante? Como usar a tecnologia para distribuir o poder, e não manter concentrá-lo nas mãos dos que possuem os servidores centrais? Como se manter conectado sem invadir a privacidade e o espaço das pessoas? Como usar mensagens instantâneas, celulares, e e-mails para manter o contato, sem permitir que eles controlem sua vida? Como liderar uma rede difusa de pessoas espalhadas pelo planeta, muitas das quais você sequer conhece? E como não permitir que a tecnologia destrua o mais precioso momento entre os homens – o contato pessoal?

  • Capital Social: Há tempos que o conhecimento substituiu o capital como o novo recurso econômico e, em função disso, ele passou a ser o “novo valor agregado” dos bens e serviços. Porém, hoje o capital intelectual deixou de ser o mais importante, embora os portadores de diplomas continuem com os melhores salários e oportunidades. Também é verdade que a aptidão competitiva de uma organização depende da aptidão mental de seus trabalhadores e, mesmo assim, existe um novo campeão no ringue.

Trata-se do capital social – o valor coletivo das pessoas que se conhecem e o que farão emas pelas outras. Na verdade, são as redes humanas que fazem as coisas acontecerem, não as redes de computadores e, os líderes que realizarão os grandes feitos, serão os que estiverem bem ali, no meio deles.

  • Economia Global: As conexões sociais e o capital humano ultrapassam as fronteiras nacionais. A rede de que estamos falando é global e a economia também. O capital flui facilmente de um país para outro, criando uma volatilidade que o mundo desconhecia, pois a saúde dos mercados em Pequim afeta a saúde dos mercados em Nova York e, um desastre terrível no distrito financeiro de NY, faz mercados do mundo todo despencarem. Do ponto de vista econômico, o mundo não tem fronteiras e as implicações para a liderança se estendem muito além da economia, pois elas são também culturais.

Com a economia global vem uma força de trabalho global, um fato da vida para o qual muitos executivos estão mal preparados. Apesar das ligações eletrônicas, o mundo – embora conectado – está longe de constituir uma comunidade e, em que pese toda controvérsia sobre a economia global, o mundo ainda é uma província. Há mais países hoje do que há 10 anos e ferozes rivalidades ameaçam a paz internacional, ao mesmo tempo em que os lobbies diluem nosso espírito coletivo. Há mais produtos e serviços que há uma década cindindo o mercado em fragmentos ainda menores. Então, como liderar em um mundo tão fragmentado? Como pode então o líder unir um grupo de seguidores tão variado e discrepante?

  • Velocidade: A velocidade é uma das consequências das tecnologias que nos conectam. A ferrovia transcontinental foi uma das inovações mais importantes do século XIX na Europa e nos EUA. Automóveis e estradas – e depois aviões e radares – aceleraram nossas expectativas. A internet mudou nossa concepção de correio e, o ritmo dos correios, foi substituído pela mensagem instantânea. Grande parte dessa tecnologia melhorou nossas vidas e reduziu o custo de fazer negócios, mas também criou a cultura da pressa e nem tudo pode ser apressado – como a qualidade dos nossos relacionamentos, por exemplo.

Então, como liderar uma empresa que tem de equilibrar a importância de mostrar sensibilidade à família, aos colegas, funcionários, clientes e acionistas com a importância do “tempo de qualidade” passado com esses mesmos indivíduos?

  • Mudanças na Força de Trabalho: Na década de 90, empregadores e empregados estavam redefinindo o contrato social. As organizações haviam diminuído a quantidade de empregos em ritmo recorrente e a força de trabalho informal estava em ascensão. Um número maior de pessoas optou por trabalhar por conta própria, aos estudantes alertava-se que se preparassem para mudar de carreira várias vezes na vida, e milhões e milhões deles sonhavam em se tornar empreendedores. Não há como voltar à época em que existia uma força de trabalho estável e homogênea.

Uma sociedade diversificada exige uma força de trabalho também diversificada. E com uma força dessa vem a demanda de uma abordagem mais customizada ao trabalho. Então, como os líderes podem adotar a singularidade individual e criar o todo a partir da diversidade? Como os líderes podem fazer da diferença um ativo e encontrar um propósito comum com o qual todos possam se identificar? A maior parte dos trabalhadores hoje questiona se as empresas serão fiéis aos seus funcionários. Ouvem toda essa conversa de empresas que querem clientes leais e funcionários comprometidos, mas, na vida profissional, não experimentam o mesmo. Daí desconfiança e cautela tomaram conta do local de trabalho; entretanto, nós sabemos que confiança é o alicerce de qualquer bom relacionamento. Então, como desenvolver um local de trabalho onde as pessoas possam confiar umas nas outras e na instituição? Como é possível criar uma sociedade na qual as pessoas acreditem que serão tratadas com dignidade em toda e qualquer circunstância? Depois de ter suas vidas arrasadas por fusões e aquisições, como os líderes podem criar compromisso? Como os líderes poderão cumprir a promessa de oferecer um trabalho interessante e de tratar até os empregados temporários com dignidade e respeito?

  • Há Uma Busca Ainda mais Intensa de Significados: Nos últimos anos surgiu uma força contrária a um crescente ceticismo, pois os jovens trabalhadores não estão aderindo à ideia de que não fazem diferença. Os filhos da geração pós-guerra voltaram a acreditar nos valores da alma e um número cada vez maior de pessoas voltaram a acreditar nos valores da alma. Valores e virtudes são discutidos mais abertamente e as pessoas se preocupam com o legado que estão deixando e, embora ainda não tenhamos os níveis de fé que tínhamos nas décadas de 40 e 50, crises recentes contribuíram para iniciativas ainda mais fortes baseadas na fé.

As faculdades de Administração há muito tempo oferecem cursos sobre ética nos negócios e algumas estão organizando reuniões de alunos e executivos, a fim de examinar o papel da fé no local de trabalho. Existe um anseio pela compreensão de um propósito maior na vida. Então, como os líderes criarão um clima favorável para que as pessoas levem sua alma para o trabalho, e não apenas sua mente? Como os líderes podem equilibrar o lado espiritual da vida com o propósito mundano da empresa? Como podem mostrar respeito por todo tipo de fé sem se tornarem pregadores de uma em particular? Como podem oferecer mais esperança em um mundo cada vez mais marcado pelo ceticismo?

Diante de todas essas realidades apresentadas até aqui, podemos afirmar que existem incontáveis oportunidades:

  • Para restaurar a esperança de criar significado para as nossas vidas
  • Para reconstruir o sentido de comunidade e aumentar a compreensão entre povos distintos.
  • Para transformar a informação em conhecimento e, ao fazê-lo, melhorar o padrão coletivo de vida.
  • Para aplicar o conhecimento aos produtos (e serviços), criando valor para o cliente.
  • De inserir a inocência e sabedoria de diferentes gerações em nosso local de trabalho e em nossos produtos e serviços.
  • De usar as ferramentas da tecnologia para tecer uma teia de conexões humanas.
  • De encontrar um melhor equilíbrio em uma vida onde estamos ligados constantemente 24 horas por dia, 7 dias por semana e 365 dias por ano.
  • De proporcionar orientação e apoio nos momentos de incerteza.

http://www.profigestaoblog.wordpress.com  


([1]) KOUSER, James M. & POSNER, Barry Z. “O Desafio da Liderança” 3ª ed. Rio de Janeiro, Elsevier, 2003

Julio Cesar S Santos
Professor JULIOhttps://profigestaoblog.wordpress.com/
Professor, Jornalista e Palestrante. Articulista de importantes Jornais no RJ, autor de vários livros sobre Estratégias de Marketing, Promoção, Merchandising, Recursos Humanos, Qualidade no Atendimento ao Cliente e Liderança. Por mais de 30 anos treinou equipes de Atendentes, Supervisores e Gerentes de Vendas, Marketing e Administração em empresas multinacionais de bens de consumo e de serviços. Elaborou o curso de Pós-Graduação em “Gestão Empresarial” e atualmente é Diretor Acadêmico do Polo Educacional do Méier e da Associação Brasileira de Jornalismo e Comunicação (ABRICOM). Mestre em Gestão Empresarial, especialista em Marketing Estratégico

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