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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Doce de leite ninho de boteco

O doce de leite ninho que era vendido nos botecos na minha época tinha gosto de infância, talvez seja por isso que até os dias de hoje ele é uma das lembranças mais vívidas que eu tenho da minha.

Eu passava boa parte do dia na escola, mas sempre dava tempo de encontrar com os amigos que moravam na minha rua para brincar ou simplesmente ficar sentado no passeio conversando. Brincávamos de todos os tipos de pique que existiam, jogávamos bola, fazíamos guerra de mamona, pegávamos frutas nas casas dos vizinhos e conversávamos sobre os mais diversos assuntos: professoras chatas x professoras legais, o último episódio de um desenho animado que todos assistíamos etc. Estávamos sempre de short, camiseta e chinelo e os nossos pés estavam sempre pretos, principalmente entre os dedos. Nós éramos moleques, tanto os meninos quanto as meninas.

O dono do boteco que ficava no final da rua era amigo do meu pai, ele me deixava pegar algumas coisas e anotava na caderneta para pagar depois. Todo final de semana meu pai ia pagar a conta e quase caía para trás quando via a quantidade de doces de leite ninho. Eu chamava os amigos e íamos todos juntos lá para comer. Aquele era o melhor de todos, e olha que eu já havia experimentado muitos, em qualquer lugar que eu fosse e que tinha, eu comia. Virei especialista na degustação desse doce, ele tinha que ser mais amarelado, mais molinho e derreter na boca, nunca aquele esbranquiçado, que era duro como pedra e só dava pra sentir o gosto do açúcar, pois tinha muito, por isso sua cor era diferente.

Com o passar dos anos, fomos crescendo, as responsabilidades foram aparecendo cada vez em maior quantidade e o tempo parou de sobrar. Alguns dos amigos ainda moram na mesma rua e dá para dar pelo menos um “oi” e dizer que “temos que marcar alguma coisa um dia desses”, outros se mudaram para outro bairro, cidade ou país e dois ou três já se foram. O doce de leite ninho sumiu dos botecos e está cada vez mais difícil de achar, mas sempre que acho, eu como, ainda tenho essa mania e, enquanto degusto, reclamando por estar muito branco e duro, vou me recordando da época em que ele e a vida eram mais macios e tinham outra cor.

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