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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

A demolição

Indo em direção ao elevador, meu coração se sobressaltou quando viu aquelas máquinas demolindo aquelas estruturas repletas de memórias naquele prédio.

Eles não demoliam apenas concreto. Demoliam sonhos, sorrisos, aconchego.

Aquelas estruturas não eram feitas apenas de cimento, areia, ferro. Elas eram vivas, tinham alma, a alma de cada um que se doou e trabalhou arduamente naquele lugar.

Enquanto as lembranças vinham, era inevitável segurar as lágrimas misturadas com a poeira daquela cena de puro pesar, o que fazia doer ainda mais aquele momento.

A névoa de poeira insistia em permanecer alterando todo o cenário daquele lugar que um dia foi meu porto seguro.

Junto com os destroços, desmoronava dentro de mim todas as lembranças de que um dia eu tive uma segunda família naquele lugar. Pessoas com as quais foram amorosas, empáticas e, principalmente, transformadoras de vidas.

Naquele lugar que estava sendo destruído, onde começou o sonho de uma adolescente em ter seu primeiro emprego, se esvaía as infinitas lembranças de cada momento vivido ali  a cada pancada daquela máquina que trabalhava sem pressa para destruir aquele lugar que eu considerava ser a minha segunda casa.

O barulho ensurdecedor da força daquelas máquinas destruindo aquelas estruturas, me deixava completamente vulnerável aos infinitos sentimentos: nostalgia, dor e alegrias sentidas ali…

De repente, as lágrimas cessaram e junto com elas, meu luto, pois percebi que eu chorava não apenas pelos momentos que haviam me marcado tanto naquele lugar, mas no quanto percebi que aquele prédio nada mais era que eu mesma.

Senti que a demolição que presenciava não era somente do prédio, mas de mim mesma.

Olhei ternamente para mim e senti que estava sofrendo o processo de transformação com as pancadas de uma máquina invisível chamada vida.

Observava atentamente aquelas estruturas daquele prédio sendo despedaçadas uma por uma e percebia que em mim acontecia a mesma coisa. Logo vi que era necessária aquela dor da destruição para uma nova fase que se iniciava e eu não me dava conta.

Ao perceber isso tudo, comecei a enxergar aquele prédio destruído com nova perspectiva: esperança de dias melhores.

Daquele prédio demolido seria construído um novo para aconchegar novas histórias, novos sorrisos e eu me vi esperançosa de que essa transformação também poderia acontecer na minha vida.

Percebi que o luto sofrido por mim era, na verdade, o medo da transformação que seria minha vida a partir daquele momento. 

O choro deu lugar a um sorriso breve, mas cheio de conforto por ter expectativa de dias melhores com um novo prédio, nova vida e novos sabores e essa sensação do novo era incrível de sentir!

Autora:

Patricia Lopes dos Santos

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