Um senhor que aparentava já passar dos 60 anos estava agachado em frente à porteira de madeira, de onde partia e retornava uma grande cerca de arame farpado. Levava um cigarro de palha mal enrolado, meio frouxo e torto, no meio do seu bigode amarelado, que deixava subir um fiapo bem fino de fumaça, em contraste com a nuvem espessa que saía pelo canto da boca em longas baforadas intercaladas com pigarros. Usava uma camisa xadrez meio encardida do trabalho na roça, uma calça jeans amarrada com uma corda que servia de cinto, tão apertada quanto nas vezes em que foi usada para fechar um saco no transporte das colheitas, uma bota muito larga para o seu pé, com o cano cortado, toda suja de barro e um chapéu de pescador bem velho e já desfiando. Me aproximei e dei um “boa tarde” que foi respondido com um preguiçoso “taaarde”.
– Tudo bem com o senhor?
– Bããão.
– Tô procurando o tio Joãozinho, ele tá?
– Tá.
– Posso ir falar com ele?
– Vai lá.
– O senhor abre pra mim?
– Sim sinhô.
– Ele tá aonde?
– Dendi casa.
– Obrigado! Toma um trocado pra você tomar uma branquinha. O senhor gosta?
– Ô!
Enquanto tratava de alguns assuntos de família com o meu tio, vi que aquele senhor se levantou e foi andando bem devagar na direção do horizonte até sumir. Tomamos café da tarde e nos despedimos. Dessa vez, fui eu mesmo quem teve que abrir e fechar a porteira. Dei umas voltas pela vizinhança, mas não achei mais o “porteiro” da fazenda para me despedir dele também.
Na manhã seguinte, acordei com o telefone tocando na minha cabeceira. Atendi. Era meu tio Joãozinho:
– O faz-tudo da fazenda sumiu. Cê num deu dinheiro pra ele não, né?
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