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domingo, 17 de novembro de 2024

Desjejum

Aquele sujeito entrou na padaria, sentou na mesa que ficava logo depois da minha, de frente para mim, e pediu um copo muito grande de café com leite, o qual pegava, levava até a boca e, fazendo bico, chupava o líquido emitindo um barulho alto igual ao que algumas pessoas fazem quando chupam a colher com a qual estão tomando sopa. Pediu também um pão com manteiga, que ia molhando no café com leite antes de comer, mesmo ainda tendo todos os dentes em sua boca. Ele colocava para fora uma língua cheia de rachaduras e enfiava aquele pão molhado, pingando e com a manteiga escorrendo dentro da boca, enquanto fazia o mesmo barulho de chupar.

Já tinha muitos anos que eu tomava café da manhã, todos os dias, naquela mesma padaria. Bastava eu chegar, no horário de sempre, que já encontrava a mesma atendente me esperando ao lado da “minha mesa”. Ela me recebia todos os dias com o mesmo sorriso, o mesmo “bom dia” e a mesma pergunta retórica: “- O de sempre, né?”. Era a minha padaria. Nada nem ninguém tinha o direito de perturbar aquela harmonia.

Em dado momento, um pedaço do pão daquele homem caiu dentro do copo e ele ficou tentando tirá-lo de lá usando o dedo indicador e o médio como uma pinça. Enfiou a mão quase até o punho lá dentro, mas não conseguiu “pescar” aquilo. Desistiu e continuou tomando seu café com leite (e pão) que agora já se parecia mais com um pudim.

Levantei da mesa, fui até o balcão, sentei num daqueles bancos de madeira, apoiei um cotovelo, fiz sinal para o senhor que ficava no caixa e pedi para trocar o pingado e o pão com manteiga por um quibe e uma Coca-Cola. Lanchei por ali mesmo.

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