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sábado, 7 de setembro de 2024

 67 – Se preparando para a batalha…

Zacarias estava parado com as mãos apoiadas sobre a mesa. Estava realmente pensativo, mais que nas noites anteriores. Algo grave o afligia, e ele tinha que resolver essa situação o mais rápido possível… levantou o rosto, olhou para todos os presentes, e se dirigiu ao Juvêncio…

– Tem certeza de que deseja que eu inicie com o falatório, delegado?

– Sim, seu Zacarias… tenho certeza de que o senhor terá algo de útil para apresentar para o grupo… depois do senhor eu retomarei a palavra…. 

– Se tem certeza…

Olhou novamente para todos os presentes, que o fitavam silenciosamente, à espera de qualquer comando seu. Estavam presentes Juvêncio, Alberto, Duarte, Rosa, Graça, Maria e a professora Alice, além, é claro, do próprio Zacarias. Este respirou fundo, caminhou um pouco pela sala, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas para começar sua preleção. Então, sem mais nem menos, dirigiu-se à professora…

– Dona Alice…

– Sim, seu Zacarias?!

– Eu sei que a senhora anda muito ocupada, principalmente nesta noite. Sei que a senhora tem assuntos inadiáveis e que precisa resolvê-los… não é assim?

Alice sorriu para Zacarias. Era um sorriso doce, mas ao mesmo tempo, ameaçador… um sorriso ameaçador… estranho, não é mesmo? De qualquer forma, não perdeu sua simpatia, provando mais uma vez ser uma senhorita de classe…

– Sim, seu Zacarias… o senhor tem razão… tenho algumas coisas para fazer e realmente não posso deixar para amanhã. O senhor me permitiria deixar a reunião, por favor? Depois vocês podem me colocar a par  do assunto que for debatido…

Levantou-se de seu assento e olhou para todos os presentes, para se despedir…

– Meus amigos, como o senhor Zacarias falou tão gentilmente, hoje eu não posso permanecer junto a vocês… mas amanhã estaremos todos reunidos de volta, não é mesmo? Uma boa noite para todos, meus queridos… a gente se vê depois…

Alberto se levantou, para acompanhá-la, mas esta o dispensou…

– Mas… Alice… vai cair uma tempestade… deixe-me acompanhá-la…

– Obrigada, meu querido… mas prefiro caminhar sozinha… amanhã conversaremos… está bem?

Vendo que não tinha como convencer a moça de agir de outra maneira, Alberto se conformou e se despediu, dando-lhe um beijo na testa….

– ?i a?a ne lu?m r?mas bun de la mor?i…

Quando Zacarias terminou a frase Alice lançou-lhe um olhar gélido, bem diferente de alguns minutos atrás… saiu, fechando a porta e ganhou o mundo novamente…  Todos permaneceram alguns minutos calados, até que Andrade resolveu perguntar aquilo que estava preso na garganta de todos…

– Seu Zacarias, o que o senhor falou para a moça, que a deixou tão furiosa?

– “E assim nos despedimos dos mortos”…

– E por que o senhor falou isso pra ela, pelo amor de Deus?

– Pessoal, hoje é a noite do acerto de contas… nós contra ela e seus asseclas…

Alberto levantou-se de sua cadeira como se tivesse sentado em brasas…

– O que o senhor quer dizer com isso?

– Alberto, eu sei que você não acredita em mim… e nem precisa. Mas a sua namorada é uma vampira. E você terá a prova hoje… daqui a algumas horas, quando nos enfrentarmos…

Juvêncio olhou para seu parceiro, estupefato…

– O que o senhor quer dizer com isso, seu Zacarias?

– Essas nuvens não são nuvens de chuva, pessoal. Na verdade, é a manifestação do poder de Alice e seus comandados… eles vão nos atacar essa noite…

– Só a nós, ou ao vilarejo também?

– Para eles isso será a batalha de sua vida… ou morte, depende do ponto de vista…

– Mas até hoje estava tudo tranquilo…

– Sim, mas agora foi adicionado um novo elemento na brincadeira, e ela considerou que o perigo para sua quase vida cresceu exponencialmente…

– Como assim?

– Vocês já conhecem minha filha…

– Claro que sim, homem… ela cresceu neste povoado…

– Assim como a sua amiga Graça…

– É claro, meu amigo… as duas são filhas dessa terra…

– Bem, mas a elas juntou-se mais uma amiga… a Rosa…

– E…?

– Não sei por que… mas a professora considerou as três como um grande perigo para ela e para os seus…

– Mas, pai… eu não senti nada disso…

– É que você não reparou como ela olhava para vocês três… parecia que queria enterrá-las no centro da terra…

– Pai, a moça foi gentil com todos o tempo todo… 

– Duarte, você também percebeu, não é?  Reparei que você estava meio nervoso com a presença dela…

– Sim, eu percebi… de vez em quando ela lançava uns olhares para as três que me davam arrepios…

– Bom, não precisamos nos preocupar com ela, ao menos por algumas horas… ah, e não se preocupem com a tempestade… ela simplesmente não irá cair sobre nossa região… aliás, dependendo do resultado de nossa peleja, não cairá em lugar nenhum…

– Você está muito confiante, Zacarias…

– E tenho que estar, Alberto… quando o doutor Vicente pediu-me para ajudá-lo a desvendar esse nó, procurei cercar-me com todas as informações relevantes para esse caso… e não gostei muito das coisas que descobri…

– Mas o que você descobriu, Zacarias? Por mais que eu procurasse, não achei nada que apontasse para a professora como causa de nossos males…

– Algumas vezes as coisas estão em nossa cara e não conseguimos ver, delegado… esse é o problema…

– Como assim?

 – Alice é um tipo especial de vampiro… ela consegue se dividir em duas… e a parte humana pode caminhar tranquilamente em nosso meio, pois não tem as fraquezas que ficaram com a sua outra metade, que geralmente fica escondida na água…

– Mas não dizem que a água corrente é fatal para esses seres?

– Está aí Alice para provar que isso não passa de lenda… alias, a aparência de sua outra metade lembra, de certa forma, um ser lendário…

– Quem?

– A Medusa grega… afinal, seus cabelos são serpentes vivas, segundo o que o doutor Vicente me contou… estou certo, doutor?

– Certíssimo, meu amigo… mas, e agora?

– Agora?  Agora é se sentar e esperar…

– Mas… esperar o que?

– Calma… todos vocês verão… bem, pelo menos estamos com o número certo de componentes no grupo… 

– Como assim?

– Oras… seremos sete a combater as forças de escuridão esta noite…

– Tudo bem… está tudo muito bonito… mas como é que enfrentaremos a… Alice… e seu grupo? 

– Calma… já vou explicar para vocês… mas não se preocupem… temos tempo de sobra para conversarmos sobre isso… cada um estará pronto para desempenhar seu papel nessa batalha… e, por favor… fiquem vivos…

– O que nós vamos usar? Água benta? crucifixos? Estacas?

– Não, nada disso… apenas o bom e velho revolver…

– Mas a balas não fazem mal para esses seres…

– Se forem de prata, fazem…

– E onde vamos arrumar balas de prata a essa hora, homem?  Ficou louco?

– Calma, pessoal… vocês assistirão nesta noite o milagre da transmutação dos metais…

– Como assim? Não dá para entender…

– Fiquem tranquilos… vão entender quando chegar a hora certa…

Autora:

Tania Miranda

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