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sábado, 23 de novembro de 2024

Pacto Cambial Brasil-China: um divisor de águas para os mercados emergentes

A recente decisão da China e do Brasil de negociar em suas próprias moedas ao invés do dólar americano, é uma jogada inteligente que beneficiará ambos os países e terá efeitos positivos em toda a América Latina. Isso é especialmente verdadeiro quando consideramos o contexto dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

O BRICS é um importante agrupamento econômico que representa cerca de 40% da população mundial e 25% do PIB global. É natural, portanto, que países como China e Brasil, ambos membros do BRICS, aprofundem seus laços econômicos e explorem oportunidades de maior integração econômica. Ao negociar em moedas locais, eles estão dando um passo importante para atingir esse objetivo.

Além disso, o grupo BRICS já tomou medidas para promover um maior uso de moedas locais em transações internacionais. Em 2019, o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS emitiu seus primeiros títulos denominados em renminbi chinês e rúpias indianas, sinalizando o compromisso de reduzir a dependência do dólar americano e promover maior uso de moedas locais nas finanças internacionais.

O Brasil vem enfrentando uma alta relação dívida pública por muitos anos, o que limitou a capacidade do país em investir em infraestrutura e outras áreas críticas para o crescimento econômico. Em 2021, a relação dívida/PIB do Brasil estava em torno de 85%, um nível que muitos economistas consideram insustentável no longo prazo. Ao negociar em moedas locais com a China, o Brasil pode potencialmente reduzir sua dependência do dólar americano e mitigar alguns dos riscos associados à sua alta relação dívida/PIB. Isso poderia ajudar a estabilizar a economia do Brasil e colocar o país em um caminho mais sustentável rumo ao crescimento e desenvolvimento de longo prazo.

Um bom estudo de caso é que o uso de moedas locais na relação comercial China-Chile levou a uma redução significativa nos custos de transação e aumentou o volume de comércio em 27% quando os dois países assinaram o Acordo de Livre Comércio China-Chile (FTA), que entrou em vigor em 2006.

O Renminbi já ultrapassou o Euro para se tornar a segunda maior moeda de reserva internacional do Brasil e os benefícios de negociar em moedas locais são inúmeros. Ao evitar o dólar como intermediário, a China e o Brasil poderão reduzir os custos de transação e mitigar os riscos cambiais, o que deve levar a fluxos comerciais e de investimentos mais eficientes entre os dois países. Isso também facilitará uma maior integração econômica e aprofundará ainda mais os laços entre as duas nações.

Além desses benefícios econômicos, este acordo também servirá para fortalecer os laços políticos entre a China e o Brasil. Ao reduzir sua dependência do dólar americano e promover maior uso de moedas locais, China e Brasil sinalizam ao mundo que buscam afirmar sua independência econômica e desempenhar um papel maior no cenário global. Esse movimento também ajudará a reduzir a influência dos blocos ocidentais no sistema financeiro internacional e promoverá uma maior competição entre as moedas.

O futuro das relações Brasil-China é brilhante. Como duas das maiores economias do mundo, a China e o Brasil têm muito a ganhar com o aprofundamento de seus laços econômicos e políticos. Ao negociar em moedas locais, eles estão dando um passo importante para uma maior integração econômica e redução de sua dependência. Além disso, ambos os países compartilham o compromisso de promover o desenvolvimento sustentável, já que o Brasil e a China têm vantagens domésticas únicas para enfrentar a mudança climática. Esperamos que ambos os países trabalhem juntos para o desenvolvimento sustentável, que deve servir como base para uma maior cooperação nos próximos anos.

Este acordo para negociar em moedas locais é uma boa notícia para a China, o Brasil, assim como para outros países da América Latina. Ao reduzir os custos de transação, promover a integração econômica e aprofundar os laços políticos, essa iniciativa ajudará a promover maior desenvolvimento regional e reduzir a influência externa no sistema financeiro internacional, resultando em um crescimento global mais inclusivo e sustentável.

Autor:

Shahid Hussain é o fundador e CEO da empresa de consultoria Green Proposition, com sede nos Emirados Árabes Unidos, e escreve sobre assuntos que moldam o comércio e os negócios no mercado global.

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