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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Leva um casaco, meu filho

“Leva um casaco, meu filho”

Esta frase ficava se repetindo na minha cabeça incessantemente enquanto eu tremia de frio andando pelas ruas do centro da cidade depois daquela festa.

Minha casa não ficava muito longe, mas o frio fazia o caminho ficar mais longo. As juntas estavam endurecidas e doíam, o vento úmido dava a sensação de que a carne dos braços estava sendo cortada por milhares de giletes, o queixo não parava de bater e os lábios já tinham um corte de tão ressecados.

“Leva um casaco, meu filho”

Quando se está em um local fechado e cheio de gente, não se sente tanto frio. As janelas estavam todas fechadas, o local era pequeno e havia mais de uma centena de pessoas. A música estava boa e a bebida também ajudava.

Assim que cheguei à festa, já avistei aquela mulher e não consegui mais parar de olhar para ela. Tentei me aproximar de diversas maneiras, mas não consegui, ela estava rodeada de pessoas que formavam uma espécie de barreira intransponível. Mais cedo ou mais tarde, ela precisaria ir ao banheiro e esta seria minha grande chance. Não deu outra, pouco tempo depois, lá estava ela indo para o banheiro. Esperei na porta, mas quando ela saiu, fingiu não ter ouvido o meu “boa noite”. Quando já estava de volta ao seu lugar, me olhou com um olhar gelado. Ela era fria.

“Leva um casaco, meu filho”

Andei o restante do caminho sentindo muito frio, nunca senti tanto frio. Não sei se estava realmente fazendo esse frio todo que eu estava sentindo ou se foi aquele olhar. Não conseguia parar de pensar naquela mulher, mas agora não era mais por sua beleza, era pela sua frieza.

Chegando em casa, me deitei no sofá e liguei a televisão. Estava passando uma comédia romântica chata… todas são chatas. Em meio a toda essa chatice, adormeci. Tive um sonho que era um misto do filme comigo e a mulher da festa, um sonho confuso, sem pé nem cabeça, no qual, num certo momento, aquela mulher se transformou na minha mãe e disse: “Leva um casaco, meu filho”.

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