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domingo, 8 de setembro de 2024

55 – O que acontece no bar…

 – Zé Ferreira, não se mexa!

Era Graça, falando com Zé Ferreira, que estava de pé no balcão, tomando uma cachaça. O homem não acreditou muito no que ouviu… uma voz de mulher ordenando-lhe que ficasse parado? Que diabos estava acontecendo? Quando ele tentou se voltar, para ver quem estava lhe dando aquela ordem, a voz da garota soou mais fria que o aço de uma navalha…

– Se você se mexer um pouquinho que seja, vai cair aí mesmo…

Ele percebeu que a ordem era séria e estacou no mesmo instante… e ficou sem saber  o que fazer naquela situação… as duas mãos sobre o balcão, parado, sem poder se mexer. Resolveu falar alguma coisa, qualquer coisa, para entender o que realmente se passava…

– Você sabe meu nome… o que está acontecendo?

– Estou te prendendo… é isso que está acontecendo.

– Você é policial?! Eu não sabia que já tinha mulher na policia…

– Não, eu não sou policial… mas ainda assim, estou te prendendo…. e você virá comigo bem quieto, se não quiser ir para a terra dos pé-juntos antes da hora…

– Moça, eu posso me virar? Para ver com quem estou falando?

– Pode, mas bem devagar… e com as mãos bem longe das armas…. porque, se tentar alguma gracinha… 

– Já sei, já sei… você vai me dar um paletó de madeira antes do combinado, não é?

– Isso… portanto… tome muito cuidado com o que você vai fazer…

Graça e Maria estavam no palco, cantando, acompanhadas por dois violeiros lá na praça da vila. Já fazia um bom par de horas que as duas encantavam a platéia com a sua apresentação. E na verdade, já estavam cansadas e seu repertório se findando… foi então que Maria viu, em um dos cantos da praça, a figura conhecida e desejada de seu procurado. Ao terminarem a canção que apresentavam, Maria agradeceu ao público, induzindo Graça a imitá-la e as duas desceram do palco. Quando já estavam no meio da multidão, Graça perguntou à amiga o que acontecia. Foi então que ficou sabendo que a sua espera estava chegando ao final. As três garotas passaram a seguir o alvo, alternando-se  para não dar muito na vista, e o acompanharam de longe por toda a noite, até que ele resolveu parar no bar para tomar umas com seus amigos. As meninas ficaram algum tempo apenas observando o local e, quando acharam que estavam prontas para dar o bote, combinaram que Graça faria a abordagem e as outras duas lhe dariam cobertura.  Não que achassem que iriam precisar, mas vai que…

Graça entrou decidida na espelunca e, a uns vinte passos de seu oponente, deu a ordem para este. O homem gelou… o que poderia ter acontecido? Será que alguma de suas vítimas.. ele costumava aplicar alguns golpes, para faturar um pouco a mais do que realmente ganhava com seu serviço… descobriu suas artimanhas e resolveu buscá-lo? Ele nem lembrava mais do episódio do baile, onde uma inocente acabou perdendo a vida por um ato impensado de sua parte.  Sim, apesar dos pesares, foi um acidente. E, por não sentir-se culpado pelo ocorrido, não ficou pensando muito sobre o fato… remorso? Um pouco, mas não o suficiente para tirar-lhe o sono… fugiu do local no mesmo dia mais porque o pai da moça era poderoso… tinha muito dinheiro… e poderia complicar-lhe a vida. O que ele não esperava era que o velho colocaria sua cabeça a prêmio… ele contava que quem iria procurá-lo seria a polícia… e aí  estava a salvo, pois o efetivo policial era irrisório, e jamais iriam atrás dele pelo crime praticado…

– Você quer saber porque estou te detendo?

– Se fosse possível, eu gostaria, sim…

– Eu estou te prendendo pela morte da Rosinha, da Fazenda do Lagedo….

O mundo de Zé Ferreira desabou… mas como assim? Como é que puderam persegui-lo por tanto tempo, e tão longe do local onde tudo aconteceu? Não, isso não fazia sentido nenhum…

– Moça, tá de brincadeira, não é?

– Pareço estar brincando?

– Olha, o pessoal que está aqui é meu amigo… você acha que eles vão deixar você me levar para sei lá onde?

– Quer apostar?

Um dos amigos de Zé Ferreira puxou a arma e apontou para Graça, mas antes que pudesse puxar o gatilho, ouviu-se um estampido e o revolver voou longe de sua mão…  mais uma vez a rapidez e presteza de Maria salvava a vida de Graça…

– O próximo que tentar alguma gracinha não terá tanta sorte…

Era Graça avisando ao pessoal do bar. Maria permanecia em silêncio, arma ainda fumegante na mão. Todos olhavam surpresos para aquela garota mirrada, mas decidida… seu olhar gélido intimidou a todos, e ninguém quis arriscar-se a testar a rapidez da menina…

Rosa começou a caminhar em direção ao balcão onde Ferreira estava, para imobilizá-lo… mas, inadvertidamente, ficou entre Maria, Graça e Ferreira. Esse aproveitou a oportunidade e, imediatamente, sacou a arma e a apontou para a moça, que ficou paralisada. Colocando o cano do revolver na fronte da garota, ordenou às duas moças que se desfizessem de suas armas… e estas não tiveram alternativa senão obedecer… os amigos de Ferreira imediatamente cercaram as duas moças e logo Rosa estava junto do grupo, imóvel…

– O que fazemos com elas?

Era um dos homens perguntando a Ferreira como deveriam proceder…

– Melhor as deixarmos amarradas em algum lugar… e vamos embora daqui…

-Não era melhor acabar com elas, de uma vez? A baixinha atira bem demais para o meu gosto…

– Não… melhor não… se a gente fizer isso, vão nos caçar até no inferno… e eu não quero ninguém nos meus calcanhares…

– Mas elas etão te caçando…

– Caçar é uma coisa… pegar é outra… vamos embora, pessoal… 

E o grupo, escoltando as moças, saiu discretamente do local… ah, antes que perguntem se ninguém foi investigar o barulho do tiro, não se esqueçam que era dia de festa e a todo momento alguém soltava um fogo de artifício… portanto, um barulho a mais, um a menos…

Depois de caminharem por uma meia hora, já fora da vista do povo, amarraram as tr?s em um tronco de árvore, não se esquecendo de amordaçá-las… como eram mais ou menos umas duas horas da manhã, e se tivessem sorte, antes das seis ninguém iria encontrá-las e, em consequência, soltá-las… isso significava que teriam uma boa distancia entre eles quando o dia amanhecesse…

E assim, as três passariam a noite… amarradas, de pé, em uma árvore… e sem possibilidades de gritar por socorro, pois estavam amordaçadas… a única coisa que podiam pedir aos céus é que nenhum animal as atacasse, pois não teriam como se defender… Rosa tentava, em vão desvencilhar-se das cordas que a prendiam… mas quando começou a se ferir, desistiu da empreitada. Ficou se maldizendo por ter sido tão infantil e deixar-se capturar pelo inimigo… e o trabalho de suas amigas, totalmente perdido… e, pior… as armas também se foram… e como fariam para encontrar novamente o sujeito? Graça estava com raiva de sí mesma… como pudera deixar que Rosa cometesse uma besteira como a que fez? De certa forma, a culpa havia sido dela… se não tivesse mandado a moça amarrar o bandoleiro, ele não a teria capturado… se bem que ela errou em não ter desarmado o sujeito, antes… bem, eram tantos erros que ela não sabia nem por onde começar…

Maria estava tranquila… apesar de imobilizada, não se sentia presa… e isso se devia a uma pequena faca que trazia escondida na manga de sua blusa. Não seria muito fácil acessar a arma, e muito menos usá-la para soltar as cordas… mas se tivesse paciência… com certeza não ficariam presas ali a noite toda, como o bando de Zé  Ferreira pensou… tranquilamente, sem se desesperar, ela tentou acessar a lâmina. Lentamente, conseguiu fazê-la escorregar para a palma de sua mão. E, mais lentamente ainda, começou a friccioná-la contra as cordas que a prendiam. Depois de algum tempo… uma meia hora… um pouco mais, um pouco menos, conseguiu soltar suas mãos. Então, cortou as cordas que prendiam seu dorso e pernas, e logo a seguir, tratou de soltar suas parceiras. Quando viram o que Maria estava fazendo, as duas não acreditaram… como é que ela teve a idéia… e habilidade… de e para usar aquela lâmina, daquele jeito? Bem, o que importava, realmente é que no cabo de uma hora, mais ou menos, as três estavam soltas, e trataram de correr para a pensão, pois ainda tinham os rifles guardados no quarto… e sairiam imediatamente na caça de Zé Ferreira…

Autora:

Tania Miranda

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