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domingo, 17 de novembro de 2024

Homens X Mulheres: mudança e conformidade

As mulheres querem que os homens mudem, mas eles não mudam.

Os homens querem que as mulheres não mudem, mas elas mudam.

Autor desconhecido e infeliz.

Muitos pensamentos, ditos e frases de efeito são creditados como “provérbio chinês” ou “autor desconhecido”. É melhor aceitar a autoria atribuída do que conferir. No texto acima, creio que o autor preferiu o anonimato a sofrer sanções da esposa. Mas às vezes as mudanças acontecem e de forma inusitada. Vejamos dois casos:

Eduardo e Maria, casados há 6 anos, vivem um sonho. João e Mônica estão juntos há 4 anos, como pombinhos apaixonados. Esses casos parecem ser exceção ao dito popular acima, porém pouca gente sabe que há menos de 6 meses estavam a um passo do divórcio. Para conhecer os pormenores é preciso voltar no tempo. Detalhe: esses 2 casais não se conheciam.

Numa fria madrugada de junho, Mônica e Maria foram chamadas ao Hospital Geral. Horas antes, Eduardo pegou sua moto e foi encher a cara após discutir com Maria. Ele tem boas intenções, mas nunca cumpre qualquer promessa. Enquanto isso, João perdia dinheiro na sinuca, com cigarro, bebidas e a cabeça cheia com as brigas com Mônica. Não lembra os votos do casamento e ela não quer que ele volte. 

Quis o destino que os 2 se cruzassem, ou melhor se chocassem. A violenta colisão, minutos após serem expulsos dos bares onde se embriagaram, deu perda total nas motos. Bateram capacete com capacete, foram parar na fonte da praça e a água amorteceu a queda. No hospital, sem reação aos estímulos, foram entubados lado a lado na UTI, onde fizeram todo tipo de exame. Até um padre foi chamado.

O professor de neurobiologia explicava aos residentes que monitoravam os dois o funcionamento dos hemisférios do cérebro, corpo caloso e TPJ – Função Temporoparietal. A separação dos dois hemisférios e a TPJ podem causar a sensação de flutuar fora do corpo. Um raio caiu sobre a rede elétrica e cortou a energia do hospital. O gerador é acionado automaticamente até 7 segundos, mas coisas estranhas aconteceram naquele curtíssimo lapso de tempo.

Eduardo observava os corpos, o professor e os residentes enquanto tentava entender o que aconteceu quando alguém (ou algo) o “atravessou”. Era o João.

  • Olá amigo. O que faz por aqui?
  • Sei lá. Depois do trovão, caminhei em direção ao sol, mas uma voz repetia “Fique longe da luz” e aí eu me afastei. Mas eu sempre quis viajar até o sol.
  • Você é louco? A temperatura lá é de 5.500 graus! Ninguém aguentaria.
  • Eu sei. Por isso pensei em ir de noite, sacou?
  • Ah tá! Então é melhor partir do alto mar. 
  • Por quê?
  • Ninguém cria gado no oceano e não tem o pum das vacas que contém o gás Metano que causa o efeito estufa e aumenta o calor.
  • Valeu! Sinto-me estranho, leve, flutuando. Quem são esses dois aí?
  • Parece que somos nós. Acho que morremos e desencarnamos.
  • Qual deles sou eu e qual é você?
  • Não sei. Nunca me vi por esse ângulo.
  • O gerador não vai funcionar? – perguntou um dos residentes.
  • Calma! Espere 7 segundos – respondeu o professor.
  • Cara, o filme da minha vida passou num segundo! – disse João.
  • Também aconteceu comigo. Se eu pudesse voltar, faria muita coisa diferente.
  • Perdeu, mané! Já era! O que acontece agora?

Dizem que a estrada para o inferno é pavimentada por boas intenções. João e Eduardo eram bem intencionados e a porta das profundezas se abriu para os dois. Partiriam sem jamais terem entendido as esposas. Desde o namoro, eles nunca mudaram, mas as esposas exigiam que mudassem. Eles queriam que elas continuassem como as conheceram, mas elas mudaram.

Ouviu-se novo estrondo e a eletricidade tentou voltar. Os vultos mergulharam de volta aos corpos sem saber se a reentrada foi correta. A luz piscou várias vezes e estabilizou. Os aparelhos voltaram a funcionar e indicavam sinais vitais em ordem.

As esposas puderam ver os maridos, mas foram alertadas quanto ao estado de consciência e a possível amnésia, curta ou duradoura. Não deveriam contrariá-los, nem abordar assuntos polêmicos. Precisariam ter muita paciência!

Após 4 meses, os casais viviam como as esposas sempre sonharam. Os dois maridos finalmente mudaram! Muito mais gentis e parceiros, boas companhias para exposições, teatro, comédias românticas na TV, dança de salão, shopping etc. Maria e Mônica conversavam sempre, mas não se visitavam por temerem uma recaída caso eles se lembrassem do acidente. O neurobiologista disse a elas que era preciso fazer mais exames e testes psicológicos. O eletroencefalograma indicou possível problema na reentrada do ectoplasma após a experiência de quase morte. Falou sobre a TJP, os hemisférios cerebrais e disse que pode ter ocorrido troca de personalidades. Mônica e Maria confabularam por algum tempo e depois foram taxativas:

  • Doutor, o filósofo americano Henry Thoreau dizia que não é aquilo para o que você olha que importa, mas sim aquilo que você vê.
  • E o que isso quer dizer?
  • Quem olha para o Edu e o João, reconhece as pessoas com quem casamos, mas o que nós duas vemos agora, de verdade, é que se tornaram os maridos que sempre sonhamos. É apenas isso o que importa e ninguém vai destrocar personalidades porcaria nenhuma! Entendeu? Fica tudo do jeito que está!

Se não for em vida, na quase morte a mulher sempre consegue o que quer!

Laerte Temple
Laerte Temple
Administrador, advogado, mestre, doutor, professor universitário aposentado. Autor de Humor na Quarentena (Kindle) e Todos a Bordo (Kindle)

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