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quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Vício romantizado

As cinzas espalhadas em cima da mesa e o copo de whisky eram evidências de que não se sentia sozinho.

Na companhia de seu inseparável tabaco e bebida preferida, ele se permitia sonhar. A fumaça do cigarro e o som do blues que tocava ao fundo, envolviam seus pensamentos e o fazia ir além do horizonte.

Romântico e solitário, deixava seus sentimentos registrados naquelas páginas, ansiando para encontrar alguém que se identificasse com suas narrativas.

Sentia-se tão inspirado que se perdia, divagando nas palavras que brotavam a todo instante.

Amava a solitude e se contentava em estar acompanhado apenas da fumaça que o fazia se sentir sempre assistido.

Entre um e outro gole, ele entrava em êxtase ao sentir-se inspirado para fazer mais um conto, uma prosa, uma crônica ou algo do gênero.

Envolvido nas mais profundas catarses, esquecia completamente do tempo. Quando se dava conta, já eram quatro, cinco da manhã e, ainda assim, relutava para não ser vencido pelo cansaço e o sono que insistiam em desconectá-lo daquele frisson.

Temia se entregar ao sono e perder a inspiração que usufruía de sua própria companhia.

Percebendo que era inevitável aquela luta contra o cansaço, entregou-se ao seu mais profundo sono e deleitou-se de algumas horas se desligando de si mesmo esperando ansioso pelo dia seguinte para gozar do mesmo ritual, não se dando conta que todas as vezes em que acendia um cigarro, morria.

Autora:

Patricia Lopes dos Santos

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