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domingo, 1 de setembro de 2024

A língua portuguesa na escola

Volta às aulas. O quadro de horário é distribuído a meus alunos do oitavo ano durante a minha aula. Surge a pergunta provocativa: para quê tantas aulas de português este ano? Paro a introdução que faria da matéria e, como professor honesto que sou, esforço-me por não deixar nenhuma pergunta sem resposta e passo a explicar a meus alunos o porquê de tantas aulas de português no oitavo ano (e em todos os outros).

Se puxarmos na memória nossas primeiras experiências escolares, talvez nos lembremos de atividades lúdicas em que fazíamos rabiscos em forma de ondas, bolinhas e voltinhas com o lápis. Não nos foi explicado na ocasião, mas aquela brincadeira preparava nossa coordenação motora fina para traçar o alfabeto. Ali começou o português na escola.

Tecnicamente, diríamos aulas de língua materna e, uma vez empregada a expressão língua materna, duas perguntas veem a reboque: 1) o que é língua materna? 2) Por que estudar uma língua que já aprendemos em casa? Grosso modo, língua materna é a língua que o falante adquire da comunidade em que nasce ou em que vive a primeira infância. No caso da imensa maioria dos brasileiros, sua língua materna é o português.

Ora, se quando vamos à escola, ali por volta dos cinco ou seis anos de idade, já falamos português fluentemente, por que cargas d’água passamos os doze anos dos ensinos fundamental e médio desfolhando a última flor do Lácio? A maioria de meus alunos disse que é para aprendermos a falar direito e essa reposta é muito reveladora.

Difundiu-se no Brasil a noção de que não sabemos o idioma pátrio e de que o certo é apenas o prescrito pelas gramáticas normativas. À escola caberia, portanto, o papel de ensinar o português certo. A aula de português seria então uma exposição maçante de normas e regras que o aluno deveria decorar para ir bem nas provas. Diante dessa concepção de língua e de ensino, hei de concordar com meus alunos: temos português além do necessário.

Ocorre que a dita norma culta, a língua padrão, é apenas um dos aspectos do idioma a ser abordado nas aulas de língua materna. Aspecto esse que não deve ser negligenciado como infelizmente vem sendo, pois o domínio da norma é passaporte para o acesso a inúmeros campos discursivos, como o acadêmico e o jurídico, por exemplos. Mas aula de português não é só isso.

Estudar português na escola é fundamental para o acesso ao mundo da cultura – aqui entendida como toda e qualquer produção humana. Por meio do domínio da leitura e da escrita é que o aluno aprenderá as outras disciplinas. A formação de um bom leitor – da palavra e do mundo – é o objetivo principal das aulas de língua materna.

Aquele que interpreta bem as palavras interpretará bem o mundo e, assim, melhores condições terá para viver. O aprimoramento das competências linguísticas é imprescindível para uma vida plena e para o pleno exercício da cidadania. A emancipação do indivíduo é, portanto, a finalidade precípua do estudar português.

Autor:

Tarcísio Raimundo Benfica Neto de Assis. Professor de língua portuguesa, mestre em Letras.

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