RENDERS, Helmut. A cultura visual religiosa como linguagem religiosa própria: propostas de leitura. Horizonte – Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, [S.L.], p. 702, 31 ago. 2019.
O artigo analisado apresenta um levantamento da cultura visual religiosa sob o conceito de linguagem religiosa, que foi introduzido no campo da ciência e teologia religiosa e incluído em sua árvore do conhecimento. Ao fazê-lo, essa linguagem religiosa é considerada uma linguagem própria, distinta da linguagem do texto e, por essa necessidade, requer atenção especial. No segundo e terceiro momentos, considerando a composição dos campos das ciências religiosas e teológicas, são utilizadas possíveis ênfases e métodos de cultura visual nesses dois campos de estudo.
Em um primeiro momento, se introduziu o conceito de “linguagem religiosa”, o que representa um enorme avanço, que inclusive oferece uma nova e promissora perspectiva para o estudo da cultura visual religiosa, porém não só. Até então, as imagens eram amplamente compreendidas por meio de categorias estéticas, às vezes até como meras ilustrações, como outra forma de texto que poderia ser lida com as ferramentas da semiótica e da análise do discurso, e como um signo.
Os estudos culturais visuais da Religião, dedicados ao estudo dos fenômenos religiosos e suas representações materiais e visuais a partir de uma ampla gama de perspectivas, como parte dos Estudos Estéticos da Religião (na perspectiva da Ciência Religiosa Alemã) ou da Cultura Material (da perspectiva dos Estudos Teológicos Anglo-Saxões e da Ciência da Religião). Portanto, o fato de que a cultura material e visual muitas vezes são os únicos artefatos de que dispomos que atestam práticas religiosas.
A importância das imagens e da imaginação na construção do sentido também se aplica à construção do sentido religioso, em sua proposta de estabelecer, por definição, o sentido transcendente da vida cotidiana. Na pintura, esse mundo construído dentro do ser humano é exteriorizado, enquanto na meditação sobre artefatos religiosos, esse processo é revertido e a imaginação é [re]construída.
Pode-se descrever a religião como parte da “artificialidade natural” dos seres humanos, parte de um processo de construção de significado que o mero conhecimento técnico não pode satisfazer. Enquanto a aprendizagem imitativa como “o processo de infundir e dar significado aos produtos culturais” é amplamente ocupada pela propaganda da indústria de consumo, criação artificial e gratificação de desejos, prevalece a necessidade de construir significados que transcendam a lógica do mundo do consumo.
Embora os estudos religiosos, especialmente os estudos teológicos, possam questionar essa leitura muito próxima do conceito de artefatos “mágicos” e seus objetos na vida religiosa, esse entendimento ganhou ampla atenção no campo da história da arte ao retornar ao campo da religião e ciência teológica. Afinal, a ideia do papel dos artefatos culturais visuais e materiais está muito viva na prática da religião.
Métodos derivados da história da arte convidam a um estudo mais preciso das formas como a cultura visual religiosa é expressa, em busca de significados religiosos e teológicos distintos do texto, mas expressos pela cultura visual. Em uma leitura teológica, antes de tudo, é preciso incluir temas religiosos, ou seja, narrativas, metáforas e visualizações de conceitos teológicos bíblicos, além de temas antigos, ao buscar temas previamente configurados.
Tópicos como cultura religiosa e como linguagem nas Ciências da Religião e Teologia não se esgotam em poucas páginas. Ao se identificar alguns cruzamentos e identificar possíveis caminhos a seguir. A ciência da religião e a teologia brasileiras não deram a devida atenção ao tema da expressão religiosa na cultura visual, não dialogaram com os interlocutores que acompanharam a icônica virada para a revolução de nosso mundo contemporâneo e com os resultados esclarecedores das pesquisas sobre religião.
Atualmente, a ordem é adotar as discussões estabelecidas nas ciências pertinentes ao nosso campo, pois ainda somos mais analfabetos iconográficos do que especialistas. No entanto, a religião vivenciada faz parte da cultura cotidiana que interage com os resultados das viradas icônicas. Isso descreve a reafirmação ou endosso de certas práticas religiosas, por um lado, e a transformação de outras, por outro.
Não se vive mais em uma era de idolatria, iconoclastia ou idolatria, e, enquanto no cristianismo muitos protestantes, especialmente os da tradição calvinista, ainda precisam aprender o básico da iconologia, se precisa entender a iconoclastia e a religião da era iconoclasta. Ignorou-se no, no trabalho, a conversa interdisciplinar de que reconectar os campos da ciência e da teologia não vem de mãos vazias.
* Resenha solicitada na Disciplina Linguagens da Religião, pelos docentes Abdruschin Schaeffer e Kenner Terra, Mestrado em Ciências da Religião, 24/01/2022, Faculdade Unida.
Autor:
José Rinaldo Domingos de Melo. Mestrando em Ciências da Religião. E-mail: jrdm1202@hotmail.com