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terça-feira, 27 de agosto de 2024

Marcas do que se foi 

Santo, Santo, é o Senhor
Deus do Universo
Céus e terras proclamam
A vossa Glória
Hosana nas alturas, Hosana
Hosana nas alturas, Hosana

Confesso que o convite, para que eu integrasse o Coral da Missa de Ano Novo me pegou de surpresa. Gosto de cantar, e já houve época em que desejei fazer parte do Coral da Igreja. Mas nunca surgiu a oportunidade. E, de repente, o convite. Não que eu seja uma cantora excepcional. Nada disso. É que boa parte dos componentes do Coral não poderiam comparecer no dia, por motivos diversos, e o maestro precisava de um número mínimo de componentes para o grupo. Daí o convite…

É claro que ele só me convidou porque é meu irmão, é o regente do grupo e precisava com urgência de alguém para “tapar um buraco”, digamos assim. Mas foi uma experiência encantadora, eu diria até que foi “uma experiência divina”… sim, foi bastante prazeroso fazer parte, por algumas horas, daquela comunidade….

Não sou exatamente uma pessoa religiosa… sou Católica Apostólica Romana de origem e batismo, mas não frequento muito a igreja, devo confessar. Sim, eu sei que não deveria dizer isso, mas é que tenho minha própria visão de como Deus interage em nossas vidas, e nem sempre corresponde ao que a Santa Igreja determina. Ah, e antes que me pergunte, a maioria das Igrejas tem a sua própria versão do Poder Divino, o que muitas vezes coloca a própria definição de Deus em cheque, o que  significa que não sigo nenhuma outra Igreja.

Mas não vim aqui hoje para discutir qual é a filosofia certa ou errada entre as igrejas, e sim falar sobre a minha experiência do dia 31. Tudo que posso dizer é que foi simplesmente maravilhoso. Chegamos na igreja às quatro horas da tarde, e a maior parte do grupo já estava reunida. Fui apresentada, o grupo me recebeu super bem, então começamos os ensaios, com alguns exercícios de voz para descontrair. Definiram quais seriam os hinos a serem apresentados, seguindo a ordem da homilia do dia. Para o encerramento da missa, como era a ultima do ano, o pároco havia solicitado ao maestro que o grupo cantasse “Marcas do que se foi”, o que achei apropriado para a data. Afinal, é uma canção muito linda, e sua mensagem se encaixa perfeitamente no espírito de renovação que é lembrado na passagem do ano. É claro que nem todo mundo conhecia a canção, afinal a maioria dos componentes do grupo é de jovens, na casa dos vinte anos, e essa canção é um pouquinho mais antiga do que isso… olha só, eu entregando a minha idade…

Ensaiamos a canção, então alguns componentes resolveram discutir sobre os versos final da mesma, alegando que, ao invés de “Como todo dia nasce novo em cada amanhecer”, deveriam cantar “Como todo dia nasce, Obrigado, amanhecer”… Bem, discordei na hora, uma vez que a mudança, além de descaracterizar a canção original, ainda tirava todo o sentido da construção da poesia… Afinal, o dia não é obrigado a nascer, ele nasce porque faz parte de seu ciclo, como a vida tem o dela…. e não faz sentido nenhum a gente “agradecer” ao dia por ele nascer, pois isso independe de qualquer vontade, nossa ou dele…

É claro que, quando discordei do grupo, meu irmão ficou meio desconcertado. Ele me conhece desde a mais tenra infância e sabe como sou, mas não esperava que eu iniciasse uma discussão ali, principalmente porque estava como convidada, e não membro oficial do grupo.   Mas esse é um defeito meu, se acho que algo está errado, não consigo ficar calada, tenho que dizer o que penso. Depois até me arrependo, mas na hora é automático. Isso às vezes me coloca em maus lençóis, afinal não é sempre que você pode dar sua opinião. Em todo caso, depois de uns cinco minutos de discussão sobre a letra da música, todos concordaram em seguir o original, sem nenhuma alteração na poesia.

Passamos todos os hinos que seriam apresentados no dia e o relógio nos avisou que faltavam apenas vinte minutos para o inicio da missa… então fomos dispensados, para descansarmos um pouco antes de começar a Divina Liturgia…

Finalmente subimos até o local onde o Coral se reúne, as ultimas instruções nos foram passadas, definiu-se a posição de cada grupo, o maestro rezou seu mantra antes de iniciar as funções, o pároco, com a sua comitiva se prepararam para seguir para o púlpito e iniciamos o hino de abertura da celebração. Confesso que a energia que senti, quando começamos a cantar, foi muito, muito boa mesmo. Para não errar o tempo dos hinos, escolhi uma componente do grupo para ser minha guia vocal e a seguia. Claro que eu não disse isso a ela, afinal você não entrega seus truques de mão beijada para ninguém. E assim fomos em frente na celebração. A missa foi muito gostosa. O padre oficiante conversava de vez em quando com os fiéis, contando como havia sido seu dia. É claro que ele ilustrava as situações para que coincidissem com o roteiro da liturgia. Contou, por exemplo, que participou da Corrida de São Silvestre ainda pela manhã, e que só conseguiu fazer a prova em um tempo razoável porque um seu amigo, corredor já experiente, não se importou em não pontuar e o ajudou a concluir o percurso. E esse foi o tema central da homilia… você abrir mão de algumas coisas de sua vida para ajudar seu semelhante. Achei muito lindo seu discurso.

Bom, eu tenho o hábito de associar situações e pessoas com momentos que já vivi… e, quando vi o rosto do vigário, na hora me lembrei de uma… corruíra. Quando era pequena, um dia descobri um ninho de corruíra no nosso quintal. E havia dois filhotinhos. Eu, muito enxerida, resolvi dar ração de porco para os bichinhos comerem… dei comida demais, e os bichinhos morreram. Mas não foi isso que me  lembrei na hora. Na verdade, quando o padre começou a falar, não sei por que, eu o associei automaticamente com os bichinhos abrindo o bico e pedindo comida… claro que não falei sobre isso com ninguém… já pensou se digo para eles que o seu pároco parece um filhote de corruíra faminto? O mundo ia cair…

A celebração da missa foi muito bonita. Foi uma das mais belas experiências que já tive. Foi realmente incrível. E é claro que ela teve seu final. Depois da comunhão, e após os ritos finais da celebração, o encerramento… todo mundo com um lenço branco nas mãos, como se dando adeus ao ano que estava se encerrando e boas vindas ao que se aproximava, cantamos então “Marcas do que se foi”, respeitando a letra original. Sim, devo confessar, foi muito lindo, mesmo… eu sei que é uma sensação muito pessoal, mas a gente sentia a presença divina ao nosso lado…

São 8:15 hrs desta primeira segunda feira do ano, estamos com 22ºC, de um dia que promete ser ensolarado e quente. Espero que não chova, pois daqui a pouco tenho que chamar o guincho para levar meu carro para a oficina, pois ele simplesmente “apagou” na sexta feira à noite, e se recusa a funcionar, no momento…  

Que Deus nos dê um dia simplesmente maravilhoso e que tudo aquilo que esperamos e desejamos em nossas vidas nos seja concedido pelo Altíssimo, se essa for a Sua Vontade…

Que Deus abençoe a todos nós e nos permita nos encontramos novamente amanhã…

Autora

Tania Miranda

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