Lima Barreto, célebre escritor brasileiro, na figura de Isaías Caminha, jovem nordestino de raiz humilde, retrata o perigo de agir de maneira imprudente consigo mesmo, abdicando da execução de um exercício constante que deve ser o foco da nossa vida: Ac
Confissão com toda a sinceridade disponível no coração.
Isaías, jovem cheio de aspirações tanto econômicas quanto intelectuais, ajudado por um amigo da família, renuncia ao seu lar em busca dos seus sonhos e dirige-se à cidade grande para tentar a vida como escrivão.
Em meio às agitações diuturnas da cidade grande e todos os encantos entorpecentes fornecidos pela mesma, o jovem, aos poucos vai perdendo de vista os seus objetivos principais e acaba por seguir um caminho que parece sem volta, ou ao menos muito difícil de sair.
Inebriado pelo afã que o dinheiro lhe traz, ele passa a valorar os encantos e as benesses que ter dinheiro lhe concede, até que chega ao ponto de imprimir alma ao que até outrora, era um meio disforme e sem vida: ele dá alma ao dinheiro. Como ele mesmo diz: “Eu nunca compreendi tanto a avareza como naqueles dias que dei alma ao dinheiro, e o senti tão forte para os elementos da nossa felicidade externa ou interna…” Como bem disse Paulo, em 1 Timóteo 6:10: “pois, o amor ao dinheiro é o princípio de todos os males”, Isaías começa a seguir por um caminho nebuloso e sombrio.
Ele, não mais tão jovem assim, se perde por não ter a certeza de que está sendo completamente sincero consigo mesmo; não tendo ciência dos seus desejos ocultos, acaba por se entregar a esses devaneios sem o mínimo pudor nem a certeza de ainda que se renda a seus desejos, os mesmos, em algum momento consumaram a inevitável marcha do mal: A corrupção de toda a sua alma. Sem a certeza irredutível de que quer, e que faz mesmo sabendo que está errado, ele passa a ignorar a voz do Espírito e entregasse sem resguardo a suas intenções mais animalescas.
Devemos a todo momento agir com a certeza de que estamos sendo sinceros, não só conosco, mas com tudo e todos a nossa volta; devemos agir de maneira a nos tornarmos cada vez mais donos de nossas consciências, assumindo a ilicitude de nosso atos, mesmo que os pratiquemos. Sendo sincero conosco e com os outros, nunca trairemos a nossa consciência. Saber que está praticando algo que não deve, mas o faz porque ainda que de maneira controversa, é irresistível, é o primeiro passo para nos livrarmos deste mal que assola os nossos espíritos e entorpece as nossas condutas. Ser bom e sincero, ou ao menos tentar, é o primeiro passo para a redenção das nossas almas; ser sincero consigo mesmo em um exercício constante de confissão perante o seu eu é o primeiro passo para nos despirmos de quaisquer redundâncias ou obscurantismo que permeie a nossa alma, tendo como foco principal a Confissão sincera perante Deus no dia do nossos juízo.
Quando mais novo me sentia profundamente compelido pela idéia de que um dia, ao ser julgado por Deus, todos os meus pecados cometidos estariam diante um telão gigantesco para que toda a humanidade os vissem, de maneira clara; sem quaisquer tarjas ou censura. Decerto não sei se é assim mesmo, mas eu assumo que sim, pois, uma vez que o seja, eu devo me preparar cada dia para este momento, me despindo de qualquer vaidade; de qualquer tentativa de esconder os pecados que cometi, sabendo que não deveria, mas por uma vontade quase que irresistível, eu os cometi; “Sim, eu fiz porque quis, e sabia que era errado”, mesmo sabendo que isso não é bem verdade. Assumir isto é um exercício profundamente desconfortável mas necessário para a elevação do nosso ser, agir com verdade perante quem conhece o nosso coração. Não se trata de Deus saber ou não o que se passa no seu coração, porque ele sabe, mas sim de você tentar todos os dias ser sincero com ele, e não tentar agir como se o pudesse enganar. O exercício da Confissão e da sinceridade deve ser a busca constante das nossas vidas, não só para não cometermos os erros, mas sim para rastreá-los e nos desfazer deles de maneira profunda, arrancando qualquer resquício, qualquer meia verdade que possa estar em nossos corações.
Decerto, se o jovem Isaías o tivesse feito, teria cometido os mesmos erros, mas sabendo da sua fraqueza e podendo reconhecer que os cometeu por decisão própria. Todavia, naquele momento em que esteve refletindo sobre tempos idos, poderia confessar de coração que os fez e por quê, rogando pelo perdão do Deus que o havia de consolar.
Autor:
Cleidson da Cruz Cavalcante