25.2 C
São Paulo
quarta-feira, 24 de julho de 2024

Bandeiras, Canhões e Memes.

     Parece-me bastante espirituoso e ao mesmo tempo dramático a forma espetacularizada que se nos apresenta figuras de tão baixa extirpe humana. Eles ameaçam e afagam uma multidão caricata e medonha com afirmações tão vazias que os miolos de tais personagens parecem cheios de pensamentos interessantes e sofisticados.

    Pessoas endeusadas como Donald Trump ou Marine Le Pen, pareciam retroagir com tanto gosto de uma suposta deterioração social que ao observar o Brexit, a luz do fim do túnel só poderia nos lembrar bombas e tiros de rifle. Desde as revoltas do início da segunda década do nosso século, os símiles de raiva desembocaram nos protagonistas mais improváveis. Há quem esperasse que uma onda de massa tão brutal como as chamadas “Jornadas de Junho” de 2013 desembocariam em formas de expressão autônomas e não sob coturnos de velhos naftálicos com cérebros necrosados.  Porém, foi justo o que aconteceu.

     No palanque político, o Brasil estampa no Planalto os ares palacianos do básico proto-ditador, exposto por Theodore Adorno como: um militar misturado com barbeiro de província. A gestão da pandemia, o baixo crescimento econômico e a visceral corrupção do governo parece ser mascarada pela narrativa que acompanha todos do mesmo palco da peça social-teatral, a saber, a promessa psicodélica de que a ordem pode ser restaurada nas células adormecidas dos valores familiares, nacionalistas e religiosos.

     Como um mantra, o ex – presidente da República, Jair Bolsonaro, repetia exaustivamente que não era corrupto e, em um vídeo publicado pala Folha de São Paulo, no dia 09/10/2022, nas redes sociais, gritou exaltadamente que desafiava qualquer um a atribuir-lhe o selo de mergulhado em tal sujeira. Eu aceito o desafio:

     Em uma reunião ministerial em 2020, Bolsonaro deixou claro que se “alguém tentar investigar minha família eu troco o Delegado, se não der certo, troco o Ministro.” Esse fato foi uma estratégia sistemática do governo para esconder os casos torpes e deteriorantes das falácias que moveu seu substrato fanático. Ricardo Salles, Milton Ribeiro, Carlos Bolsonaro, Michelle Bolsonaro e Queiroz – todos casos explícitos sob investigação que o Palhaço da Republica ou estava envolvido ou mexeu no tabuleiro para que seus “intocados” aliados fossem protegidos. Fora isso, o famoso Cartão Corporativo se encontra com sigilo de 100 anos para esconder seus gastos com frivolidades e, durante a pandemia, uma suposta compra superfaturada de uma vacina indiana era negociada enquanto quase uma centena de emails da Pfizer eram ignorados no momento que incontáveis covas coletivas eram cheias com as vítimas dessa gestão assassina.

     Isso coloca o governo, no mínimo, sob suspeição ou posso cair na fraseologia de “passador de pano” e chamar de “desvios do bem Verde-Amarelo.”

     Lembro-me do desfile em 2021, quando tanques enferrujados esfumaçaram a vergonha do Planalto na tentativa frustrante de amedrontar Ministros e Parlamentares. Nos palcos da “Marcha para Jesus” ou nas suas delirantes motociatas, observamos um aparente paradoxo entre a política das massas e a deterioração de seus atores armados.

     No momento em que escrevo, Lula tomou posse como o “novo” mandatário da República  e uma multidão de arruaceiros raivosos com bandeiras esvoaçantes clamam por intervenção militar e dão mugidos melodramáticos contra um comunismo delirante que a grande maioria nem sabe bem o que é, acompanhando os pensamentos petrificados do Deputado Federal eleito Nikolas Ferreira que define tal espectro político com Bolsonaro como parâmetro. A violência explícita toma forma nas manifestações piromaniacas dos pneus que hora servem como combustível, hora como uma deidade nacionalista nos hinos sentimentais, chauvinistas e fascistóides de um grupo que criou um universo paralelo em que o ocupante do palácio é o rei supremo e intocado do país. Por fascista entendo:

1) O culto indiscriminado a Violência

2) O Saudosismo paranóico ao Estado-Nacão.

3) A eleição de inimigos que devem ser constantemente combatidos – geralmente categorias historicamente massacradas. Por exemplo: Promessa de limpeza social é muito comum: acabe com a pobreza matando ou prendendo o pobre.

4) A transferência da soberania de um povo a um líder que “é como a gente”.

5) A busca tresloucada por valores indeterminados e individualizantes de grupos como: Família ( a que o líder define como tal), Religião (aquela que o grupo estipula como correta), liberdade (liberdade de massacrar ou caluniar quem é destoante)

6) Fenômeno de massa demente e colérico que não é capaz de questionar o próprio comportamento ou o comportamento de seus pares. A verdade passa a ser um fenômeno nebuloso. A crença nos próprios desvarios messiânicos se sobrepõe a qualquer prova. Saudar, adorar e idolatrar ideias sólidas lideradas por um ser acima de qualquer questionamento é a regra final.

Os fenômenos acima foram descritos pelo filósofo Vladimir Safatle como uma descrição precisa deste fenômeno político. Um bolsonarista pode não se considerar um fascista, mas os valores e o efeito de massa é algo muito próximo. Se alguém se comporta como um fascista, fala como um fascista e tem predileções de valores fascistas, siga a lógica e adivinhe o que o sujeito é. Devemos chamar fascismo de fascismo e ponto! A receita é de bolo e o antecedente é tão previsível que nem chega a ser um hecatombe. A marca da corrupção, o culpado identificado e as armas em punho alavancam a construção das grades do Berço Esplêndido. O tribalismo virtuoso dos pastores e deputados hipócritas que estimulam o comportamento de banditismo de uma parcela da população, desaba os pilares da República.

     Dicrocelium Dendriticum. Esse é o nome do verme parasita que controla o cérebro de organismos como formigas para se reproduzir no estômago de mamíferos aleatórios. O filósofo Daniel Denett nos presenteia com essa descrição como analogia ao meme, termo cunhado por Richard Dawkins em 1976. Imagine uma ideia dentre tantas outras. Uma ideia que compete pela própria replicação fiel ou que em algum momento se torna uma mutante, toma um desvio mas mantém sua característica nuclear. Humanos matam e morrem por ideais. Ideais estes que são capazes de tornar esse mamífero bípede tão feroz quanto um leão com fome. A diferença é que um leão não comete homicídio, ele apenas mata. Ele não destrói sua comunidade, apenas se desfaz ou refaz grupos aleatórios. Categorias morais não se enquadram na natureza, pois, até onde sabemos, nosso processador de dados chamado cérebro é capaz de reter, analizar e comunicar um grande conjunto de ideias com um grande substrato de pessoas. Somente humanos podem pensar em coisas que não existem. Um leão vê apenas uma árvore, um humano vê uma árvore que no passado deu um fruto que o condenou ao pecado. E isso é comunicado, replicado, copiado da cópia até surgir sociedades inteiras  com sistemas econômicos e políticos. Pensamos na mais proeminente e virtuosa forma de governo, a Democracia, mas um povo que não aguenta o peso da liberdade brada pelo coturno orwelliano, que deixa um crânio sob sua sola. Ora, todos são um bastião da escravidão. A escravidão dos céus, onde um ditador universal dita regras e pune pecados. Que pode fazer de sociedades inteiras sua Sodoma e Gomorra. Ele faz a eleição de seu povo e seu líder que os guiará. Daí os joelhos dobrados ante Deus, Bolsonaro e a Nação Límpida. Paulo de Tarso disse que a redenção não vem sem expiação. Quando observo gente miserável economicamente, pobre intelectualmente e medíocre eticamente depostos à marcha em frente aos quartéis pedindo, rogando por ditadura não posso lembrar de outra coisa a não ser os olhos que observavam Wiston. A ideia de um mito celestial, misturada com uma política destruidora antecipa uma ruína. A única ideia compartilhada aceitável é a democracia, fora dela, o que temos são soldados e generais sedentos de ambição e um campo de mausoléu. Sem Democracia não há o mínimo de civilidade. Há um capítulo de Deus, um Delírio que se chama: Pisa Devagar, pois PISAS nos meus Memes. Acho que é totalmente plausível dizer o mesmo aos doentes da CBF.

Autor:

Felipe Soares

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio