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sábado, 1 de março de 2025

A mosca

Não sei o que vocês acham, mas, sem sombra de dúvidas, a melhor parte do meu trabalho é a hora do almoço. Não que eu não goste do meu trabalho ou que o ambiente esteja riom. Pelo contrário, adoro ser analista de sistemas. Porém, – e sempre há um “porém” – não há nada mais prazeroso do que comer.

Hoje, no entanto, algo está me incomodando. Não, não são as gargalhadas altas do meu chefe a cada piada sem graça e previsível do puxa-saco Rogério. Não! Não são nem mesmo as piadas. Humm… Talvez, o garçom pouco educado e pouco habilidoso com o seu ofício de 20 anos. Na-não, também não. Quem sabe não é a senhora Loló – que não é a avó do Lucas, ou talvez seja – contando-nos novamente sobre o seu neto. Não, não! Isso é pouco diante do meu problema. Este, que fica a zunir de um lado para o outro, com muitos olhos, mas com pouca

atenção por onde pousa; com muitas pernas, mas que prefere tranquilamente voar, que é a abominação dos restaurantes, mas todos já parecem estar bastante habituados, só podia ser; a mosca.

Vamos ser sinceros, Deus não estava num bom dia quando criou este bicho. Só pode! Ainda que ele tenha lá suas boas intenções, é certo que esta – perdõem-me a expressão – porcaria, fora criada aos quarenta e cinco do segundo tempo do sexto dia. Numa hora em que Deus, como todos nós trabalhadores, já estava se preparando para descansar, no sétimo dia.

Pior que estar perambulando pelos pratos alheios das outras mesas, sem ser convidada para a refeição, é estar se direcionando a mesa onde estou. Oh, não. Não basta estar se direcionando a mesa onde estou… posso estar errado, mas a direção dela é vir de encontro a mim.

Primeiro, pousou na careca do chefe, o que, devo confessar, me fez rir (internamente). Depois, no momento em que atrapalhou o garçom de servir a mesa e em que quase foi sugada pela respiração de Loló, que finalmente deixou de falar do neto dela, o Lucas. Por fim, quase engolida pelo puxa-saco Rogério.

Sua próxima vítima era, certamente, eu. Mas, antes mesmo de chegar a tal, fui mais esperto, tanto que nem mesmo tendo seus oito olhos, conseguiu escapar da mais eficaz armadilha – e sofrida, uma vez que é possível ver a liberdade do lado de fora – que é ser presa num bom copo de vidro.

– Mate este incômodo! – disseram todos –

Mate-a!

Não, deixei-a ir. Para alguém que tem pouco mais de uma semana de vida, cada minuto é precioso demais para ser vivido. Ainda que dentro de um restaurante.

Eu, no lugar dela, teria feito o mesmo.

Autor:

 Sérgio Lima

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