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sábado, 20 de julho de 2024

Poesia e Deus

Quando o sol cuspe suas primeiras luzes douradas no meu jardim, 
eu me levanto.
Calço minha pantufa, visto meu roupão e, 
vou no quarto de hóspedes espiar Deus dormindo. 
Fico ali, entre a porta meia aberta contemplando seu sono profundo. 
Às vezes, quando ele está sem coberta, 
eu entro devagarinho e cubro- lo, 
e depois volto a contemplar seu sono.

Contemplo o MISTÉRIO que habita Nele.
Contemplo a POESIA que habita Nele. 

Fecho o restinho da porta e, desço na cozinha para preparar o café da manhã. 
Preparo a mesa com xícaras e pires de porcelanas, pão fresquinho que o padeiro sempre deixa no portão bem cedinho, biscoito de açúcar, jarra de suco, manteiga, geléia, leite quente e flores de tulipa para perfumar a mesa. 

Às vezes, me surpreendo com as famílias de canarinhos na janela pedindo comida.
Vou no quintal, descasco umas bananas e sacudo uma toalha de farelos de pão e, 
em bandos, eles se alimentam.
E eu, contemplo a delicadeza de seus bicos, a delicadeza de seus cantos. 

Contemplo o MISTÉRIO que habita Neles.
Contemplo a POESIA que habita Neles.

Ao retornar para dentro, me deparo com Deus sentando na mesa e se servindo. 
Eu fico a contemplar ele tomando café. 
Contemplo seu jeito manso de servir a xícara com café.
Contemplo a delicadeza de seus lábios na xícara de porcelana. 
Contemplo seu jeito delicado de cortar o pão e passar a manteiga.
Contemplo o seu jeito manso de 
mastigar o pão. 
Contemplo seu silêncio monástico enquanto toma café.  

Quando o sino da igreja tange, é a hora mais triste. 
Deus vai embora! 
Antes dele se despedir de mim, eu desço no jardim e apanho: Amarílis e Azaleias. 
Adorno as Amarílis com fita amarela e presenteio Deus. 
— Deus, esse é seu! 
E as Azaléias, eu adorno com fitas vermelhas e peço para Deus presentear minha mãe. 
— Deus, esse é da minha mãe! 

E no último badalar do sino da igreja, 
Deus abre suas asas e voa num voo sem fim… 
E os bandos de pássaros voam atrás… 
O meu jardim floresce mais ainda… 
Depois que Deus sai, 
eu não sou mais o mesmo… 

Autor:

Lucas Dolher 

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