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terça-feira, 27 de agosto de 2024

Choveu. Que desculpas usarei?

Explicar o fenômeno de ocorrência da chuva, chamada pelos especialistas da área como precipitações hidrológicas intensas ou, como no bom popular, chuva forte que Deus dá, é relativamente simples. Tudo depende da quantidade correta de temperatura, altitude e pressão. Uma evaporação aqui, uma aglutinação de gotículas de chuvas ali, uma nuvem que rompe a força gravitacional e pimba: “Houston, temos chuva”. É assim desde que o Mundo é Mundo (com algumas ressalvas nessa escala temporal que delimitei). Difícil mesmo é explicar, ou não, as suas consequências.

Todos os anos, prefeitos e governadores se dedicam logo a culpar alguém que não possui advogado imediato – a Natureza. Oras quem dela será capaz de se compadecer e negar o inegável? Choveu como nunca havia chovido nos últimos 10 anos. Pronto, a defesa está montada e o réu não sabe o que dizer. Quem será capaz de se levantar e se alvitrar em favor da natureza impiedosa? Alguns até tentam formar uma banca de defesa, culpando a própria população por abdicar do seu direito de ter o lixo recolhido pela prefeitura e solta-lo ao vento, como forma de criar outra historia para que nós ajudemos as autoridades nesse momento tão delicado. A população é culpada por jogar o seu lixo em qualquer lugar, logo, está colhendo os frutos do mau uso da Natureza. Novamente, o poder público ganha um álibi inquestionável.

Inquestionável e indefensável, talvez, seja o fato de que não haja um estudo mais aprofundado com relação ao tempo de retorno das bacias hidrográficas que cortam as cidades do Espírito Santo, em especial atenção, às bacias urbanas que se confluam e se misturam e que, no entender deste humilde que escreve, deveriam ser objeto de um programa consorciado de gestão fluvial integrada. Planos, programas, projetos, existem aos montes. Podíamos ficar um ano de nossas vidas escrevendo artigos sobre os programas e projetos idealizados nesta seara da gestão hídrica no Espírito Santo. E todos convergem para obras de macrodrenagem e limpeza infundada dos canais dos rios e córregos existentes.

Períodos de retorno ou tempo de recorrência, de acordo com sua linha ideológica, é o período de tempo estimado entre ocorrências de igual magnitude de um fenômeno natural, neste caso, a chuva. Então, caro leitor, há possibilidade de estimar a ocorrência desses eventos desastrosos? Veja bem, falo em estimar e não apostar minha vida neles, pois estamos lidando, no fundo, com probabilidades. Sim, há essa possibilidade de fazê-lo. E por que não o fazemos? Na verdade, fazemos, ou melhor, faz-se muito nas universidades, centros de pesquisa, lócus do conhecimento técnico-acadêmico. E por que não trazemos essas pessoas para dentro dos órgãos públicos e criamos uma agência metropolitana de gestão de riscos hidrológicos e geológicos?

Sou louco em dizer que o lixo doméstico e não doméstico descartado de forma irregular não atrapalha o escoamento das águas das chuvas? Não. Dizer que houve uma precipitação acima do esperado é errado também? Depende de como você encara a gestão pública. Como o gestor público que você ajudou a eleger encara isso tudo? Outra pergunta que deixarei sem resposta. Eu ficarei sem resposta e mais de 2.000 pessoas desabrigadas e desalojadas também ficarão.

Perguntas sem respostas, contudo, servem para questionar coisas um pouco óbvias, mais óbvias e coerentes do que culpar a Natureza por chover.

Autor:

Pedro Guedes. Consultor Ambiental. Mestre em Gestão de Recursos Hídricos

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