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segunda-feira, 22 de julho de 2024

Cem Anos de Solidão e a Política Brasileira: o quê Gabriel García Márquez tem a nos dizer?

Num primeiro momento, antes de adentrarmos efetivamente no ponto central desta singela e pequena análise, é necessário comentarmos tanto sobre o citado autor como sobre sua principal obra.

Gabriel García Márquez, nascido na aldeia de Aracataca, nas imediações de Barranquilla, Colômbia, foi um dos maiores contadores de histórias do século XX e, certamente, o maior expoente do realismo mágico latino-americano.

O realismo mágico latino-americano é a corrente literária que, ao mesmo tempo em que retrata autêntica história imaginária, irreal; a narra de modo a parecer que tudo faz parte da mais banal e verdadeira das realidades. É a capacidade de tornar pela narração, pela forma de contar, uma história extremamente deslocada da realidade, possível.

Cem Anos de Solidão é a grande obra do realismo mágico e de Gabriel García Márquez, com a narrativa da história da família Buendía ao longo de sete gerações. Desde a peregrinação e fundação do povoado de Macondo por José Arcádio e Úrsula Iguarán (1ª geração) até a posterior derrocada da localidade, com o fim da estirpe dos Buendía em Aureliano (7ª geração).  

O ponto central da obra que acabou a consagrando e a seu autor está justamente na repetição de nomes e das características dos personagens. De modo que todos os filhos da estirpe dos Buendía ou são batizados como José Arcádio e são grandes, maciços e voluntariosos; ou são batizados como Aureliano e são ensimesmados, solitários, clarividentes e franzinos.

Fato esse que, apesar de num primeiro momento nos causar estranheza e até mesmo indiferença; num segundo momento, e com o desenvolvimento da narrativa, nos leva a crer que a estirpe dos Buendía, o povoado de Macondo, a história e o tempo não progrediam, não passavam; mas, sim, tão-somente, davam voltas. Visto que, por terem as mesmas características e, consequentemente, os mesmos defeitos, acabavam por sempre cometer os mesmos erros e voltavam sempre para os mesmos lugares e estados.

E é justamente essa a principal tese de Gabriel García Márquez presente na obra: o tempo, a história e a humanidade não passam, não progridem, como acreditam os defensores do positivismo; mas, sim, tão-somente, dá “voltas redondas”. Assim, o quadro de ontem é o mesmo de hoje e será o mesmo de amanhã; os erros de ontem são os mesmo dos que os de hoje e serão os mesmos dos que os de amanhã. E assim vai…

Transpondo tal tese para a nossa política nacional, podemos perceber que essa, assim como a estirpe dos Buendía e o povoado de Macondo, não progride, não se desenvolve; mas, sim, tão-somente, dá voltas. Com os mandatários de sempre, mesmas características apesar dos nomes diferentes, cometendo os erros de sempre; o que nos impede de progredir.

Ilustrativamente:

No passado, tivemos políticos revoltosos pela obrigatoriedade da vacinação da varíola, que ocasionou a grande e famosa “Revolta da Vacina”; hoje, temos os políticos também revoltosos pela obrigatoriedade da vacina do COVID-19.

No passado, tivemos políticos “pseudodireitistas”, participantes do “movimento integralista” e “pseudoesquerdistas” que logo na primeira oportunidade abandonaram suas ditas “teses e pensamentos” pelo poder; hoje, também os temos, vide Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, respectivamente.

No passado, tivemos inúmeros casos de corrupção vergonhosos; e, hoje, para a (não) surpresa de muitos, ainda os temos. E assim vai…

Logo, é exatamente isso que Gabriel García Márquez tem a nos dizer sobre a política brasileira: ela não passa, não progride, não se desenvolve; mas, sim, tão-somente dá “voltas redondas”. Os erros de ontem são os mesmos de que os de hoje e serão os mesmos de amanhã; o que não nos permite progredir.

Obs: o final Gabriel García Márquez já nos adiantou: a derrocada de Macondo e da estirpe dos Buendía; ou, melhor dizendo, a derrocada do Brasil e da estirpe dos brasileiros.

Autor:

Jordano Zaparoli

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