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terça-feira, 26 de novembro de 2024

A verdadeira campeã das eleições: a mídia

Discorro esse pequeno texto para apontar os erros da campanha e do próprio governo Bolsonaro que o levaram a derrocada na disputa pela presidência em 2022. Aqui não considero a hipótese de fraude nesse último pleito em minha análise.

Bolsonaro surgiu no cenário nacional principalmente por sua oposição ao governo Dilma e sua pauta conservadora, que, para grande imprensa, à época, era tida por “polêmica”, como ser contra a agenda LGBT, aborto, doutrinação ideológica no ensino etc. Desde então, passou a ser ridicularizado, e o establishment o considerava como um fenômeno político isolado, que tenderia em longo prazo a ser ignorado pelo público. No entanto, em 2016, como bem sabemos, juntamente com a ascensão da direita ao redor do mundo (com Trump sendo o seu principal representante), Dilma sofreu impeachment, assim a esquerda no Brasil teve suas bases fortemente abaladas. Nesse interstício, abriu-se um vácuo de poder, que, no contexto do teatro das tesouras (aqui descrito como a dualidade entre PT e PDSB, que vigorou no país até 2014), deveria ter sido preenchido pelos tucanos, mas o povo optou por um outsider, visto que a pauta anticorrupção era sensível aos eleitores, já que os escândalos do Petrolão e da Lava Jato atingiam a quase total bancada do Congresso.

Na campanha eleitoral de 2018, a Rede Globo, Grupo Folha, entre outros fizeram forte oposição ao então candidato Bolsonaro (verdadeiros ataques, totalmente baixos), mas mesmo com esse antagonismo, apoiado apenas nas redes sociais, ele conseguiu chegar ao Palácio da Alvorada. Com início de seu governo, uma de suas primeiras medidas foi extinguir a propaganda de empresas estatais em veículos de imprensa e diminuir os gastos do erário com publicidade oficial, tais medidas são louváveis segundo o ponto de vista ideológico, porém, sob as vistas do pragmatismo, revelarem-se errôneas. Suponho que essas ações foram movidas por revanchismo, na estratégia de sufocamento econômico dos conglomerados e na tese de perca de influência da mídia tradicional sobre a sociedade.

Primeiramente, a imprensa mainstream até ao presente possui um enorme poder persuasório, pois mesmo nas redes sociais, as pautas e temas que influem no debate público, na grande maioria das vezes, são trazidos pelos antigos conglomerados. Além disso, ainda dependemos deles como fonte “final” (informação aceita por ambas as partes como verdadeira) nas discussões políticas, ou seja, neles confiamos a apuração de fatos, dados, pesquisas etc. Também não podemos ignorar o apoio (tratamento claramente desigual frente aos pequenos veículos de informação) dado pelo Google, Youtube, Facebook, em suma, as Big Techs (nitidamente uma demonstração de forte lobby e networking dessas corporações) na promoção de sites, canais e veiculação de notícias da velha mídia no meio digital. Ademais, não posso deixar de mencionar a vasta parcela da população que unicamente se informa pelos meios tradicionais, como os mais idosos e pobres.

Segundamente, os cortes publicitários atingiram fortemente as receitas dos editoriais, isso é um fato inegável, basta ver o fim do El País no Brasil, as ondas de demissão em massa da Rede Globo, juntamente com sua perca do monopólio da transmissão de jogos de futebol, da Fórmula 1, entre outros eventos esportivos. Porém, o erro de cálculo do governo foi pensar que a derrocada econômica dessas empresas – e sua consequente mudança de postura – viria em apenas 4 anos de “carestia” de recursos públicos. O efeito foi o oposto, ela apenas se radicalizou e se tornou ainda mais parcial.

A negligência e desconsideração dos fatos mencionados nos últimos dois parágrafos – causadas, como já expostos anteriormente, pelo desejo de vingança (visivelmente perceptível dada a forma como Jair foi tratado em sua primeira campanha à Presidência pela imprensa) e o excesso de confiança do Bolsonarismo, posto que conseguiu crescer no cenário político sem os meios convencionais (TV, Rádio e Jornais tradicionais). Portanto, ambos os motivos impediram uma análise racional sobre o “inimigo”, menosprezando seu impacto e impedindo qualquer movimentação no sentido de negociar uma eventual “trégua” – foram fatores determinantes pela “cruzada midiática”, ainda em curso, contra o atual governo (que já foi “morto”, haja vista sua derrota no último pleito).

Outro aspecto a ser levado em conta foi o comportamento do Presidente, particularmente as suas falas. Diariamente, Bolsonaro conversava com seus apoiadores em espaço reservado nas dependências externas do Alvorada e permitia que tudo fosse filmado, quer dizer, ele próprio fornecia material para ser usado contra sua pessoa pela imprensa. Durante a pandemia, soltou diversas frases infelizes, frutos do estresse do momento, as quais poderiam ter sido evitadas simplesmente não se manifestando, permanecendo em silêncio perante jornalistas. Em minha visão, ele não enxergou a grandeza do cargo, queria continuar se comportando como um “mero” Deputado, conversando com qualquer um pela rua e sendo muito aberto ao público.

A equipe jurídica também se mostrou fraca perante os desmandos da Suprema Corte, posso citar apenas um exemplo, o de Bruno Bianco, o qual, como Advogado-Geral da União, perdeu um recurso – em processo em que se discutia a suspensão da necessidade do Presidente em prestar depoimento à Polícia Federal – por preclusão, isto é, por perca de prazo! A única forma de encurralar os Ministros do STF seria colocando-os contra seus próprios precedentes, não deveríamos ter deixado o ativismo judicial ser usado como arma apenas pela esquerda. Quando os jornais e pessoas de nosso lado foram calados e, por vezes, presas, os julgados desses processos deveriam ter sido usados de igual forma contra o “inimigo”. Somente assim a hipocrisia e absurdos dessas ações seriam expostos, e o equilíbrio se alcançaria, como uma espécie de troca de reféns, algo comumente feito durante o Regime Militar (situação não muito diferente de nossa realidade, uma vez que, há tempos, o Estado Democrático de Direito deixou de existir em nosso país). Sinto que o idealismo nos impediu de agir desta forma.

Devo relembrá-los da CPI da Lava Toga, oportunidade única de colocar o Poder Judiciário dentro de seus limites, jogada na lama, inclusive com apoio de Flávio Bolsonaro – este articulou pelo seu arquivamento. Devo dizer que o 01, como Senador, foi o maior erro de Bolsonaro, uma vez que o caso das rachadinhas (aqui não entrarei na discussão sobre essa prática ser um crime ou não) veio à tona e, de qualquer maneira, desgastou demasiadamente o governo – no seu momento mais forte, em seu início –, indispondo-o a agir de forma mais enérgica contra o Pretório Excelso, já que eles tinham como “refém” o próprio filho do Presidente. Caso Flávio tivesse permanecido em seu cargo anterior, seu “escândalo” certamente teria proporções menores – e seria julgado pela Justiça do Estado do Rio de Janeiro –, ou sequer surgiria.

Enfim, diversas falhas que culminaram em uma Justiça ainda mais sem limites, agora apoiada pelo eleito governo petista, com enorme ânsia em prejudicar seus algozes. Deus tenha misericórdia de nós!

Autor:

João Moura

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