Cabem algumas observações sobre a Independência do Brasil, nesta semana em que se comemorou o bicentenário do fato histórico, cujos precedentes e consequências geraram estudos, teses e discussões que continuam a influenciar nosso cenário político, haja vista as formidáveis concentrações populares por todo o País, reunindo milhões de brasileiros nas maiores cidades do país para festejarem pacificamente o evento, além de usá-lo como prova explícita do patriotismo do nosso povo.
Se há uma personagem ausente das homenagens que se fazem aos precursores do nosso desligamento de Portugal, ela é Napoleão Bonaparte. Sua participação, é verdade, foi involuntária, mas ao determinar que seu exército invadisse o reino de Portugal, com a consequente fuga da corte para o Brasil, o jogo mudou a nosso favor.
O Brasil, a partir de 1808, deixou rapidamente de ser apenas um explorado território fornecedor de matérias primas e riquezas para a metrópole colonial e passou a sediar a cabeça do império português. Sem Napoleão teríamos demorado muito mais para romper aqueles grilhões.
O Brasil é “sui generis”, sempre. Considere que sua Independência foi proclamada pelo príncipe herdeiro da coroa portuguesa que, em 1831, retorna a Portugal para recuperá-la.
Voltemos a Napoleão. É verdade que brasileiros participantes da Revolução Pernambucana, de 1817, que pretendia criar uma república, juntamente com bonapartistas, que derrotados na Europa, estavam no Recife, chegaram a tomar medidas práticas para resgatar Napoleão de sua prisão na Ilha de Santa Helena e levá-lo para Pernambuco. Com a derrocada do movimento insurgente, vencido pelas tropas portuguesas, o general corso, que tanta confusão causou na Europa, acabou por morrer na mencionada ilha, em 1821.
Mas é inegável sua influência para que ocorresse o 1822 na nossa história.
Não encontrei nos jornais a notícia do retorno do coração de Pedro de Alcântara ao Porto, cidade que ele escolheu para abrigar a sede simbólica dos seus sentimentos, depois dessa episódica visita que nos fez por ocasião das festividades recentes. Pelo que percebo, ou não deixou saudades, ou não cultivamos nossa história.
Para alguns, apesar de ter protagonizado a Independência, o imperador sempre priorizou sua nacionalidade lusitana o que o levou a uma certa indisposição com os brasileiros. A este homem, que por fim, herói de duas pátrias, o simbolismo, do corpo aqui, no Museu do Ypiranga e o coração no além-mar é mais que simbólico, é a descrição póstuma do que foi sua vida.
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Penso que as correntes políticas que disputam as eleições de outubro perderam uma ótima oportunidade de terem estabelecido um movimento de unidade nacional em torno da data da independência. Se os candidatos que deverão disputar o segundo turno tivessem feito uma pausa em suas agressões e tivessem combinado em se unirem e dividirem o palanque dos festejos cívicos teriam dado uma demonstração de grandeza democrática e patriótica, tão necessária para serenar os ânimos de uma nação levada ao paroxismo pela ação parcial da mídia formal, pela conduta estridente da justiça, tão imprópria à sua natureza íntima.
É obvio que os contendores teriam que moderar comportamentos e atitudes: a bandeira verde e amarela seria de todos, o que não seria difícil para os donos das vermelhas que há algum tempo já as enfiaram no saco; todos usariam palavreado mais ameno, como aprenderam em casa e nas escolas; ninguém ameaçaria o rompimento da ordem democrática; a ideia de transformar o Brasil como líder de um império socialista, tal como foi a Rússia para a URSS, na América Latina, seria abandonada (até porque, tal como lá, os vizinhos não iriam gostar).
Ganharia o atual Presidente, pela magnanimidade em dividir o espaço democrático de mídia direta que conquistou. Ganharia o oposicionista, por admitir que a sua bandeira também é a nacional e que nunca será substituída pela vermelha.
Nas ruas e praças do país, o povo confirmou as cores verde e amarelo para a sua bandeira, na quarta-feira, 7/9/2022.
Ganharíamos todos, na prática, no aprendizado e no desanuviamento do clima pesado em que se vai dar a eleição.
O leitor deve estar pensando: o velho Danilo caducou de vez!
Sou um sonhador, reconheço. Isso era inviável? Dane-se!
Se os candidatos e suas trupes assessoras, num acesso de loucura boa, tivessem mesmo resolvido se acertarem para um acordo inteligente (divirto-me só em pensar), como ficariam as caras dos jornalistas que vivem de instilar ódio e a dos próprios contendores, preparados para serem inimigos? E a dos poderosíssimos da Justiça, instrumentalizados pelos patronos que os indicaram para os cargos de grandes Excelências?
Reconheço. Sou um velho sonhador!
Ainda quero ver uma estátua de Napoleão na Praça do Três Poderes!
Crônicas da Madrugada.
Autor:
Danilo Sili Borges, membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA. Brasília – Set. 2022
danilosiliborges@gmail.com