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sábado, 24 de agosto de 2024

Ser sensível é solitário

Eu nunca entendi o que de tão bom eu fiz para ter tido a sorte de ter recebido uma virtude tão especial como a sensibilidade.

Sensibilidade de olhar o mundo, reparar os pequenos detalhes e me maravilhar com tudo que vejo. Sensibilidade para ver um universo inteirinho numa flor amarelinha, bem pequenininha, que nasce entre as rachaduras de cimento ao lado de um poste de luz. Sensibilidade para transbordar de amor ao ouvir músicas que me fazem tirar os pés do chão. Sensibilidade para reviver um filme, mergulhar nos livros e fazer deles morada.

Desde que eu me entendo por gente eu tenho um mundo, mas só por agora me dei conta que graças a sensibilidade ele existe. Nele eu já construí castelos, esconderijos, andei de trem por uma vida inteira nas estradas mais lindas e ensolaradas que eu já imaginei, cheinhas de laranjeiras. Ah laranjeiras (suspiro)! Queria tanto ter descido naquela estação.

A sensibilidade é a única virtude que nos faz voar e sentir demais tudo à nossa volta: o vento, a luz, a música, o poema, os lugares, as sensações, os arrepios, as conversas, o amor e aqueles passarinhos voando bem ali, ooh! Está vendo? São azuis (risos).

Todas as vezes que ando por qualquer lugar que seja, eu ponho meus fones e tudo some. As borboletinhas aparecem, as árvores florescem, os cheirinhos de lavanda voltam, o saco de sementes vira uma massagem para os meus dedos, o sol sorri e tudo se transforma. Eu sinto, sinto muito tudo ao meu redor, é só fechar os olhos para tudo acontecer e as sensações tomarem conta de todo o meu corpo.

Ser sensível é ver beleza num pedaço de galho que topei no meio do caminho, ver graça nas flores, ver formas nas nuvens, sentir o cheiro da noite, degustar cada pedaço daquele sorvete deliciosos de morango, com mordidinhas leves, enquanto que de forma quase que automática, fechar os olhos. É se divertir com uma dança imaginária, entender tudo que a Anavitória fala e dançar a valsa de Amelie Poulain como se fosse minha, a enxergando como companhia. É simplesmente reparar naquilo que ninguém nota.

Mas também é muito solitário, porque enquanto eu corro para os ouvidos do outro exclamando, ouve essa música! Ou para dizer: repara, repara nessa florzinha, não, pera! Escuta esse som; olha, reparou que esse passarinho é novo por aqui? Só recebo de volta o desdém de quem não sente nada.

Sabe, eu tive o desprazer de ir a Gramado ao lado de pessoas que não dão a mínima para tudo que tem naquele lugar mágico, e ter o desprazer de ouvir: porque ir ao Le Jardin? É só planta! Você nem imagina o quanto essa resposta perfurou meu peito de tanto desgosto e fez dos meus olhos cachoeiras.

Da mesma forma que a sensibilidade me acalenta, ela me faz sentir tudo com muita intensidade: o amor, a dor, a tristeza. É se importar com tudo e chorar junto. É sentir a dor de um mundo inteiro num peito só.

Autora:

Juliana Sena. Redatora Publicitária – Escritora no blog: O Mundo de Ju Wix. Gosta de escrever crônicas sobre o seu mundo: onde tudo é possível e toda dor é sublimada. Siga seu trabalho nas redes sociais através do Instagram: @primaverapoetica

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