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sábado, 24 de agosto de 2024

O Pensamento Crítico e a dor de tê-lo

De quem é este pensamento? Quem o colocou aqui? Será meu mesmo ou veio do meu pai? Talvez tenha vindo da minha mãe ou minha avó me passou um dia. Quer saber? Pode ter sido meu avô. Será?

De quem é este pensamento? Talvez tenha saído daquele pastor ou do líder religioso que outrora segui. Seria daquele sábio pároco que tantas vezes ouvi? Do meu pai ou mãe de santo, talvez?

De quem é este pensamento? É meu mesmo ou é desse político que gosto? Veio daquele discurso acalorado na universidade ou da roda de amigos? Será que ouvi naquele debate de outro dia ou veio até mim quando eu ainda estava na escola?

De quem é este pensamento? Será que veio daquele palestrante fenomenal? Daquele programa de televisão ou daquele influencer meia-boca? De um tweet ou de uma postagem qualquer?

De quem é este pensamento? Por tantos caminhos andei, tanta gente encontrei, por tantos lugares passei, tantas conversas ouvi, tanta gente escutei…

De repente uma semente de dúvida paira em minha mente. Tudo era tão certo e me questionei (ou me questionaram?). Esta semente vai crescendo e formando raízes. Cada nova raiz que sai, sangra. Contamina minhas certezas por onde passa, por onde toca.

Meus pensamentos, achava eu que eram tão meus. Agora parecem sombras de alguém. Duvido deles e os repenso. Mudo a perspectiva, os viro do avesso, olho de todos os ângulos possíveis (todos mesmo ou só o que eu acho que é o todo?).

Quanto mais profundamente vão as raízes, mas eu sinto a dor. Esta semente rasga minha mente de dentro para fora, de fora para dentro. Não para! Não dá mais para parar! Uma vez plantada, a semente germina e cresce e suas raízes profundas tornam impossível arrancá-la.

A dor… Ah, essa dor! Já tive dores absurdas, que de zero a dez chegavam no onze, mas a dor do que esta semente faz chega em cem,  em mil, em milhões! Ao mesmo tempo é uma dor tão prazerosa no segundo momento.

É a dor da borboleta que precisa rasgar-se, rasgar seu casulo tão quentinho e confortável e tão parte de si para poder voar.

É a dor da pequena tartaruga que, após se livrar de sua proteção maior dentro do ovo, precisa se arriscar em um mundo novo, correndo solitária com todas as suas irmãs tartaruguinhas para chegar ao mar e tocar nas profundezas de um oceano ainda mais vasto, lindo e perigoso, mas um pouco menos solitário, talvez.

Esta é a semente do pensamento crítico. E o que é o pensamento crítico senão primeiro olhar para as raízes dos próprios pensamentos? Crenças limitantes caindo, sensação de liber…

Liberdade? Mas o que é liberdade?

A semente já foi plantada. Este texto não pode ser deslido. Em breve a germinação começará. Ou será que já começou?

Autora:

Fabi Emerick é autora de reflexões que ninguém lê, escritora de textos ignorados em um mundo de pílulas videografadas de 15 ou 30 segundos de imitações engraçadas. Também é formada em Letras pela UFRJ.

Ig: @fabiemerick.consciencia

1 COMENTÁRIO

  1. As palavras que entram, as palavras que saem, o discurso do outro e nosso discurso que se faz a partir do outro. O que seria de nós, sem a crítica de tudo que entra e de tudo que sai?

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