*Matheus Bombig, cofundador da Invenis
Nos últimos anos, o ambiente corporativo e o próprio mercado como um todo vêm passando por mudanças drásticas. Hoje, as empresas que inovam nos seus respectivos setores investem em ferramentas tecnológicas que impactam diretamente o dia a dia dos colaboradores. O panorama em questão não é diferente na área jurídica. Atualmente, escritórios e departamentos jurídicos têm a tecnologia como uma verdadeira aliada para agilizar processos operacionais cotidianos. No setor, essa linha de atuação é denominada de advocacia 4.0.
Apesar de alguns profissionais já aderirem o conceito de advocacia 4.0, eles ainda são uma pequena parcela se levarmos em consideração que hoje o Brasil conta com pouco mais de 1,2 milhão de advogados, segundo dados da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Ao longo da história humana, tarefas operacionais passaram a ser executadas por máquinas e essa é uma tendência que também já chegou ao Direito. Portanto, os profissionais que enxergarem as ferramentas tecnológicas como uma forma de acelerar tarefas, gerar menos custos e diminuir os riscos envolvidos pelas atividades repetitivas certamente sairão na frente da concorrência.
O primeiro passo para promover esta mudança de mentalidade é compreender que o funcionamento do setor jurídico tradicional, como aconteceu por anos, passará a ser cada vez menos eficiente. Dessa maneira, tanto profissionais quanto empresas devem focar na capacidade de aprendizado constante da nova era do segmento, missão na qual o uso de plataformas e sistemas modernos podem ajudar muito.
Mas não é apenas isso. Apesar da tecnologia ser a ponta da lança do conceito advocacia 4.0, a verdade é que o processo de transformação também precisa ocorrer na mentalidade geral do mercado. Nesse contexto, é vital o desenvolvimento do senso crítico das equipes, permitindo a liberdade de criar, acertar e errar. Sem dúvida, isso é uma iniciativa que a médio e longo prazo tem a tendência de trazer maior satisfação aos colaboradores, pois eles otimizam tarefas mecanizadas e passam a se desgastar menos com afazeres que, apesar de necessários, podem bloquear o seu verdadeiro potencial. Sem essas travas, o aumento da produtividade ocorre naturalmente, porque os profissionais se organizam e se dividem da melhor maneira possível.
Esses aspectos de aprimoramento e agilização deveriam ser básicos no planejamento estratégico das bancas de advocacia, mas em grupos tradicionais ainda há o clássico pensamento ultrapassado de “à moda antiga é melhor”. É um conceito que não combina com os tempos atuais, afinal, sistemas e plataformas surgem a cada dia para melhorar a produtividade de escritórios e, consequentemente, diminuir o erro humano.
Felizmente, por outro lado, também existe uma grande movimentação de algumas organizações – especialmente as legaltechs – em alterar o modus operandi do mercado. Esse, sem dúvida, é um passo importante para que as ações inovadoras sejam de fato incorporadas com uma maior frequência no setor jurídico. Em um ambiente complexo e de muitas mudanças, quem investe na velocidade de testar e errar para poder inovar consegue se sobressair em relação aos concorrentes, além de se manter em uma posição de vanguarda.
Neste sentido, utilizar um modelo de gestão descentralizada pode ser uma alternativa interessante para as empresas do setor jurídico que almejam incorporar o conceito de advocacia 4.0. Com esse modelo a hierarquia é desconstruída, uma vez que a autonomia e responsabilidade são transferidas para quem está lidando com os problemas no dia a dia. Isso traz maior velocidade nas tomadas de decisão, que passam a não contar mais com todo o tempo, esforço e custo de seguirem uma burocracia para serem aprovadas. Dessa forma, ainda, os colaboradores podem mirar um propósito e focar não apenas em suas funções profissionais, mas também em suas famílias, questões pessoais e de saúde, harmonizando todos os quesitos que fazem parte de sua vida.
Portanto, não há segredo para os escritórios e departamentos jurídicos que desejam fechar mais acordos, atuar preventivamente ou preparar teses e defesas ainda mais assertivas e personalizadas. A tecnologia promovida com o conceito da advocacia 4.0 tem o poder de abrir um caminho que já está mais do que na hora de ser cortado: o da burocracia. Aliada a uma gestão mais descentralizada, essa é a fórmula ideal para os tempos atuais.
*Matheus Bombig é cofundador da Invenis, startup que tem o propósito de ajudar a resolver os litígios do Brasil. Também é cofundador e conselheiro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L).