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terça-feira, 27 de agosto de 2024

Beleza da Vida

Caminhar e caminhar faz parte da minha rotina. Tudo que posso fazer à pé eu faço. Então agora a ida é a sessão de  pilates. De pronto, acesso a Avenida Protásio Alves em Porto Alegre até ela virar Avenida  Oswaldo Aranha. São dezesseis quadras procurando a beleza da vida. Nos tempos atuais é necessário olhos de ver para encontrar a beleza numa Avenida entregue às traças, como diria minha saudosa vó. Ponho reparo em muitas lojas fechadas, e as que estão abertas indicam com um pequeno cartaz atrás da grade que está aberta. Fios e mais fios arrebentados na calçada. Fios prontíssimos para dar uma laçada nos pés na correria  dos menos atentos.

E também muitos desalinhos nas calçadas para nos fazer sucumbir diante da expectativa de queda. Mas vamos lá buscar com atenção algo que possa trazer um pouco de conforto ao olhar. Na ida sempre reparo nos mendigos. Tento contar quantos quartos improvisados a Avenida ofereceu na noite de madrugada fria. São inúmeros desabrigados que se acomodam em baixo das marquises com seus cobertores cinzentos, cores características de doações. Ainda bem que tem um povo que se ajuda, mas tem uma hora que tudo se esgota, e então as políticas públicas terão que funcionar. Valha-me Deus!

Então meu olhar se prende! Num quarto improvisado. Colchão, cobertores, travesseiros e duas vidas. Duas vidas entrelaçadas para amenizar o frio. Uma das vidas está deitada de lado, de frente para a outra vida. A outra vida é peluda e está num espetacular conforto. Tão pouco e tanta amizade.

Sim o mendigo e seu cão! Sem o cão a vida já teria se esvaído. Quer terapeuta mais sensato do que o cão? Ele escuta , conforta, apóia, e de lambuja ainda esquenta a cama com todo seu jeitinho especial de SER. Gostaria de ter registrado numa lente mais organizada da fotografia essa intimidade, mas esse registro está num lugar espetacular na memória do coração. E assim seguimos pela cidade a procura da beleza da vida.

Autora:

Sandra Guimarães

7 COMENTÁRIOS

  1. Nada como um olhar/carinho partindo do coração…de quem escreve para quem lê. Mas isto são para poucos em tempos tão bicudos como os atuais.

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