Antônio
Antônio é ruivo, sardento e alvo predileto de bulling por Rubão, o galã da escola. Dona Zulmira, professora de artes, pega no seu pé e o frei Ignácio não lhe dá sossego nas aulas de religião. No último ano, sua classe foi escalada para dançar quadrilha. Antônio, agora um belo rapaz, quis ser o noivo quando soube que Martinha seria a noiva, mas dona Zulmira, escolheu Rubão e para Antônio sobrou o papel de padre. Casar Martinha com o Rubão é castigo demais, e para piorar, frei Ignácio lhe emprestou uma batina muito larga.
Sua mãe ajustou a batina e o amigo Zeca, alterou a fala do padre no script. No dia da festa, enquanto aguardavam a dança, Antônio segurava uma pequena garrafa que Rubão tomou de sua mão. O rótulo dizia “Scotch Whisky”. Rubão bebeu tudo e disse que aquilo era bebida para macho. Os rapazes riram, Martinha não gostou da grosseria. A encenação do casamento teve início e o “padre” Antônio perguntou ao noivo Rubão:
- Aceita Martinha como esposa e renuncia ao homossexualismo e outras frescuras?
Noiva e plateia caíram na gargalhada. Rubão ameaçou reagir, mas Zeca, o “pai da noiva”, apontou a espingarda que “acidentalmente” disparou um jato de mostarda no noivo. Terminada a dança, Rubão partiu para cima de Antônio.
- Você acabou de comprar uma briga das grandes.
- Relaxa Rubão. É festa! Que tal disputar a noiva no pau de sebo?
Rubão topou o desafio e quis subir primeiro. O começo foi fácil, mas quando precisou fazer força, o fundilho de sua calça branca tingiu-se de marrom e o “patê” escorreu pela perna. Delírio geral e muitas gargalhadas. Rubão caiu sentado e foi para casa humilhado. Martinha riu muito e disse a Antônio: mandou bem amigo. Adorei!
A turma foi beber quentão e Zeca, sem querer querendo, tropeçou e derrubou a cortina no fundo da barraca revelando dona Zulmira e frei Ignácio se beijando. Vários “Oh”! e risos. Fim de festa.
A caminho de casa, de mãos dadas com a garota, Antônio curtia a noite memorável: conseguiu namorar Martinha e vingou-se de 3 desafetos. Agora só falta agradecer a ajuda do Zeca e livrar-se da prova do crime: a garrafa de whisky com laxante.
João
Na véspera de São João, meia noite, o ponto alto da festa junina de Cucui de Las Palomas é caminhar sobre o tapete de brasa. O sacristão, seu João, limpou o terreno e certificou-se que só havia lenha. Nada de pregos ou objetos que possam machucar.
Superstição para uns, fé para outros, a aventura intriga Albino Pé de Cana, que acha que tudo é truque. Neste ano ele resolveu andar na brasa. Seu João disse que aquilo não é para infiéis, pecadores e que Albino bebe tanto que pode atiçar o fogo ao passar sobre a brasa. Ofendido, Pé de Cana disse que caminharia atrás do seu João e muitos beatos não terminariam o trajeto.
Terminada a reza, seu João iniciou a travessia seguido por Albino e seus amigos do bar. Vencido o obstáculo, ele disse que não era pior do que nenhum beato. Seu João cumprimentou Albino no exato momento em que as bombinhas que ele e amigos derrubaram na brasa começaram a estourar. Pânico, correria, gritos, tombos e pés queimados. Fim de festa.
No ano seguinte, poucos fiéis aderiram à caminhada, mesmo com a garantia de que Albino e os amigos ficariam na sacristia lendo a bíblia e vigiados por um guarda. O memorável São João em Cucui de Las Palomas nunca mais foi o mesmo. Bombinhas foram proibidas.
Pedro
O dia de São Pedro encerra os festejos juninos e marca o aniversário de São Pedro do Curral, vilarejo há 40 anos dominado com mão de ferro e bolsos cheios pela família Bastos Curral. Gumercindo “Gugu” Bastos Curral, prefeito e candidato à reeleição, quer aproveitar a festa para inaugurar o TMC – Tanque Municipal de Compostagem, polêmica obra de sua gestão.
Após licitação vencida pelo único concorrente, empresa da família Bastos Curral, o TCM superfaturado foi construído no terreno vizinho à igreja, local escolhido a dedo pelo prefeito ateu e desafeto do vigário. Um palanque foi montado sobre a fina laje do tanque, já em operação para testes. Para não concorrer com a quermesse, o prefeito mandou desligar a energia elétrica. Um gerador alugado da empresa de seu primo garantia iluminação e som para o evento.
Políticos, assessores e correligionários superlotavam o palanque. Tinha mais gente no palanque do que na plateia. O Cônego Pera aguardava o evento conversando com o jornalista e crítico do prefeito Cido Vilela e seu filho André, de 7 anos.
- Pai, o que é compostagem?
- É o tratamento de lixo orgânico e esterco para virar adubo.
- Esterco?
- Esterco é cocô de animal. É colocado naquele grande tanque em baixo do palanque e depois de um tempo vira adubo para plantação.
De olho nos votos católicos, o prefeito Gugu convidou o cônego Pera a benzer a obra e mandou-lhe um microfone sem fio. O religioso pediu ao garoto para segurar o microfone enquanto colocava a estola e pegava a bíblia.
Um caminhão da prefeitura, estacionado numa ladeira e com breque de mão mal acionado, começou a se mover, ganhou velocidade e se chocou contra o palanque que desabou sobre a fina laje fazendo as pessoas caírem dentro do tanque com esterco. A plateia riu muito quando André gritou ao microfone:
- Olha pai, misturou tudo! Como vão separar os políticos do esterco?
O evento terminou e teve início da festa junina memorável. Viva São Pedro!
Onde fica Cucui de Las Palomas..? Não encontrei no Google.
Obrigado.
Olá Pedro. Cidade fictícia. Aprendi quando prestei o serviço militar. Quando alguém vinha de muito longe ou era transferido para muito longe, a localidade era conhecida como Cucui de Las Palomas. Gostei da brincadeira e uso muitas vezes essa localidade inexistente. Grato pelo comentário.