Passei uma vida inteira alimentando situações que nunca existiram, pois preferia acreditar no que eu tinha inventado ao invés da dura realidade de memórias cobertas de drama, solidão, rejeição e no pior dos acontecimentos: ter sido tratada mal por uma pobre alma comprometida com suas imperfeições.
Envergonho-me em afirmar que fiz crescer em meu peito amores que nunca foram amores só para me sentir menos solitária, nem que fosse na minha imaginação. E durante 24 anos eu me acostumei com esse ciclo: de inventar pessoas, me apegar ao mínimo para ignorar o que de ruim prevalecia.
Mesmo que 24 anos pareça pouco, é o bastante para conseguir me aprisionar no que é ruim. Escrevo isto hoje, porque pela primeira vez na minha vida eu me deparei com o amor real e descobri que nada sei. E pior, nada sei sobre amar o que é real, ver beleza no que realmente é bonito e encontrar paz numa flor de verdade. Porque passei uma vida inteira imaginando as flores mais bonitas, os lugares mais incríveis, as águas mais cristalinas, o beijo mais doce, entre tantas coisas que já escrevi por aqui.
Hoje, me encontro num lugar que tem flores roxas, amarelas, azuis, brancas, vermelhas e rosas, cercado por montanhas que fazem morada no horizonte, rodeado por pinheiros verdinhos, sentindo todos os dias o beijo mais doce do mundo, encontrando o sorriso mais lindo, escutando as palavras mais verdadeiras e belas que já ouvi, sentindo o gosto da pele do ser mais macio que eu tive a sorte de conhecer, recebendo o cafuné mais gostoso que eu nunca pude imaginar. No entanto, percebo que até com o bom, é preciso se acostumar. O que me deixa mais calma é pensar que se me acostumei com o que era ruim, eu sou capaz de me acostumar com o que é bom.
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Autora:
Juliana Sena, redatora publicitária – Escritora no blog: O Mundo de Ju Wix. Gosta de escrever crônicas sobre o seu mundo: onde tudo é possível e toda dor é sublimada. Siga meu trabalho nas redes sociais através do Instagram: @juprimavera_