16.6 C
São Paulo
sexta-feira, 26 de julho de 2024

O que somos capazes de fazer…Caso: Tsunamis

Tsunami ou maremoto, palavra de origem latina: mare-mar + motus-movimento, significa, portanto, um grande movimento de água. É um fenômeno que ocorre nos oceanos, com maior frequência no Pacífico e Indico, apesar de existirem registros em outros cantos do Planeta como aquele que atingiu a cidade de Lisboa (Portugal) em 1755, onde registrou-se que o fenômeno atingiu uma amplitude de 9Mw (na escala Richter onde o máximo é 10). O efeito foi devastador pois registrou-se a morte de cerca de 10 mil pessoas embora sugere-se que foi de 50 mil.

A origem de um tsunami geralmente é devida a um acomodamento de placas tectônicas, um terremoto (ou maremoto) ou ainda devido a uma ação vulcânica. Independente da origem, acabam movimentando um volume de água formando ondas gigantes atingindo extensas áreas litorâneas.

No mundo tem se registrado a ocorrência de cerca de 195 tsunamis, sendo que o último ocorreu em janeiro de 2022, devido a erupção do vulcão Hunga Tonga-Oceano Pacífico. Vários países foram atingidos como Nova Zelândia, Samoa, Fiji, Austrália, Japão, México, Estados Unidos, Canadá, Chile e Equador. Apesar de ter formando grandes ondas, os efeitos foram relativamente pequenos uma vez que três pessoas se afogaram e dois pescadores se feriram. Esses danos foram de menor impacto, pois, de uma certa forma, todos estavam em alerta.

Qual seria a influência do ser humano para provocar um tsunami? Nenhuma.

O tsunami ocorre sem influência antrópica, pois é um fenômeno natural, mas a proposta dessa reflexão é avaliarmos a amplitude dos seus efeitos (danos) e, esses sim, muitas vezes são potencializados pelas ações humanas.

Para exemplificar, abordaremos o ocorrido em 2004, no Oceano Índico, quando se registrou um dos maiores tsunamis que se tem notícias, pelo menos em número de vítimas e efeito de impacto ambiental, atingindo o litoral da Indonésia, Sri Lanka, Índia e Tailândia. Tratava-se de um terremoto submarino de magnitude 9,1MW que inundou comunidades costeiras com ondas de até 30 metros de altura sendo classificado como “megaterremotos” e registrou-se a morte de 227.898 pessoas de 14 países diferentes.

A situação criada por esse tsunami provocou uma resposta humanitária e houve uma doação de mais de 14 bilhões de dólares.

A principal pergunta, portanto, é: porque os efeitos foram tão devastadores?

Obviamente, em primeiro lugar, devido à magnitude; depois pela falta de alarmes, mas também porque boa parte do litoral encontrava-se desprotegido de vegetação natural!

Onde antes havia extensas áreas de manguezais, essas se encontravam desmatadas dando lugar a hotéis e resorts e é justamente essa intervenção que aumentou a gravidade do desastre.

Sabe-se da importância dos manguezais na proteção física das regiões costeiras, frente a ciclones inclusive de tsunamis. Estudos publicados por Vermaat & Thampanya, indicaram que nas regiões com manguezais a força do impacto do tsunami foi consideravelmente reduzida (Science 2005). Essas informações estão amplamente discutidas, em vários trabalhos publicados, enfatizados no relatório da EJFct- Environmental Justice Foudation, que afirma que a transformação de manguezais em criadouros de camarão; resourts turísticos; áreas para atividades agrícolas e urbanização, bem como a destruição de recifes de coral, contribuíram significativamente para a catástrofe do tsunami de 2004.

Os mesmos efeitos devastadores foram observados no delta do Mississipi, que foi atingido pelos furações Katrina e Rita.

Esses dois exemplos, comprovaram que os efeitos foram exacerbados, justamente pela vulnerabilidade das áreas costeiras, em especial onde não havia mais manguezais e, ao contrário, quando o litoral estava protegido, por barreiras naturais, os efeitos do tsunami foram significativamente reduzidos.

Portanto, urge a implantação de um projeto de manutenção dos sistemas naturais e onde for necessário, implantar projetos de recuperação sendo imperioso a implantação de uma política de ocupação da zona costeira.

Dinheiro? Isso não falta!

Com certeza essas ações custam menos do que 14 bilhões de dólares que foram gastos como ajuda humanitária do fenômeno de 2004, não desmerecendo em absoluto essa importante ação!

Um fato preocupante é que, estando ciente dessas múltiplas vantagens, não há lógica em saber que, dos 3.600.000 ha de manguezais (1973), verificou-se que em 27 anos (ano 2.000), esses foram reduzidos a 1.015.000 há (FAO & KIARA, 2010). A boa notícia é que existem inúmeros exemplos no mundo e inclusive no Brasil, de projetos de recuperação de manguezais, que devem ser devidamente enaltecidos.

Está na hora de entendermos melhor o meio ambiente: a sua dinâmica e a sua complexidade para que possamos assim, estabelecer limites de ocupação; formas de manejo e o uso sustentável da zona costeira, mesmo porque, tsunamis, maremotos e furações, ainda vão ocorrer e devemos estar devidamente preparados!

Precisamos entender esse novo paradigma até para fazer jus ao título “sapiens”, que tanto nos orgulha, mas que, por hora, é uma prerrogativa de poucos, pois, ainda não internalizamos a lição que a natureza nos deu em2004.

Recuperação de manguezais na Indonésia (KIARA, 2010)

Autor:

Prof. Biólogo Geraldo G.J.Eysink

Sugestões ou criticas – Email: geraldo@hc2solucoes.com.br Maio, 2022

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio