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domingo, 17 de novembro de 2024

O Juízo e a Soberba

Preciso esclarecer algumas coisas quanto à última publicação. Escrevi eu que, ao ler o jornal, sinto forte soberba, raiva, inveja mesmo. Pode o leitor ter se espantado ao perceber que eu não sou um indivíduo terso, puro e incólume (deixo essas virtudes aos membros do alto clero midiático). Não tenho pudor nenhum em admitir isso, na verdade deixo claro que acredito que o julgamento seja a reação natural de todo ser humano quanto a tudo que exista. Desde o princípio os homens estão por aí distribuindo juízos, seja em relação aos outros homens ou às coisas. O próprio ato de optar por fazer algo em detrimento de outro já evidencia um juízo: o juízo de que fazer isso é melhor que fazer aquilo. Quanto à soberba, acredito que não preciso me estender muito, provavelmente todos conhecem Gênesis e o pecado original. Não há escapatória, a soberba é humana. Porém, de alguma forma é necessário conter a inveja, a ira e principalmente a soberba antes que elas te transformem em um Luís da Silva.

O verdadeiro problema em relação aos juízos mora em seus limites. Até onde você carrega seu juízo primitivo, seu julgamento. É isso que importa na verdade. Longe de mim colocar-me como modelo a ser seguido, santo a ser venerado, mas meus juízos duram pouco tempo. Quero dizer, os juízos espontâneos, imediatos, aqueles que surgem impetuosamente e logo desaparecem como o clarão de um raio. Esses são de curta duração. Como Nelson Rodrigues e o defunto Brás Cubas, eu defendo piamente as idéias fixas, juízos definitivos. (Idéia sempre com acento. Não admito que a reforma ortográfica tire a imponência de uma palavra que precisa dela.) Essas vêm junto com a alma, ou são gravadas nela. Todos têm aquele conjunto de juízos e princípios que são inegociáveis.

Voltando aos juízos espontâneos, aquela mistura de raiva com insatisfação e injustiça ao ler o jornal – como disse na própria coluna – passa rápido. É como se eu fosse apossado por uma ira momentânea, como se tivessem dado um tapa na minha cara. É isso. Cada coluna é um tapa na cara. De imediato entendo o tapa como um desrespeito, uma humilhação. Passados 2 ou 3 minutos entendo-o como uma motivação. Tento sempre dar a outra face.

Talvez eu tenha certo ressentimento com os jornais, ou melhor, com os escritores e editores deles. Fui contaminado pelos romances brasileiros, que quase sempre envolviam jornais nas suas histórias e eram publicados neles também. Nas histórias daqueles, sempre os editores e os funcionários dos jornais eram incrivelmente monótonos ou extremamente irritantes (talvez os romances estivessem certos). Porém, na história literária do Brasil, os primeiros romances foram, em sua maioria, publicados em folhetins. Sempre concebi, então, o jornal como um local de discussões mais gravosas e importantes, detentor de uma aura imponente. O jornal para mim era onde Machado publicava capítulos de seu Quincas Borba e José de Alencar de seu Guarani.  O Brasil real estava nos jornais, o resto, sem importância, na TV. Tenham ciência de que cresci durante o auge dos telejornais. Se essa perspectiva era mera fantasia de criança, uma concepção ingênua ou a realidade de fato discutirei em outro texto.

Enfim, depois que leio o jornal e sinto tudo que não posso carregar comigo, penso também naquilo que diz Sertillanges (não lembro se foi Sertillanges ou Jean Guitton) de que devemos imitar os gênios. Eu não tenho um gênio predileto, talvez Miguel Reale, Agostinho ou Machado, mas independente de quem seja, a humildade e a benevolência sempre se encontram em suas virtudes. Alguns poderão objetar que existem arrogantes que são ótimos escritores, porém me respaldo na palavra Dele: uma árvore ruim não pode dar frutos bons. “Pelos seus frutos vocês os reconhecerão.”

Autor:

Filipe Pereira Mauricio

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