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quinta-feira, 20 de junho de 2024

Engenho miriri: o patrimônio “cabucho” paraibano

O patrimônio se situa entre a memória e a história”.

Le Goff, História e Memória.

No meu caso, nasci… Brasileiro. Produto em grande parte, de já antigas raízes brasileiras. De sangues já miscigenadamente brasileiros. A prendendo a falar numa língua neolatina já abrasileirada, tropicalizada, africanizada, amerindianizada. Ouvindo cantar, chorar, rezar nessa língua. Vindo a ouvir nela diminutivs, aumentativos, palavrões.  E vendo talvez mais que outros meninos certos verdes, azuis, amarelos, vermelhos, roxos, laranjados tropicalmente brasileiros.”

Gilberto Freyre

            A reflexão sobre a importância da conservação da memória do antigo engenho Miriri, o “CABUCHO PARAIBANO”. Tem um significado de pertencimento e lembranças, na medida em visto vivemos nesse espaço e nele nos fizemos como sujeitos de memórias. Sob o prisma da História, o engenho foi planejado e concebido pela Ordem Beneditina na Paraíba nos primórdios da História desta terra, ainda no século XVI e o engenho foi erguido no início do século XVII.  Está registrado no Livro do tombo do mosteiro de São Bento da Paraíba e no Livro do tombo do mosteiro de São Bento de Olinda.

            Para Ruben Oliven (2003, p. 77), “o termo patrimônio, em inglês heritage, refere-se a algo a ser preservado e que, por conseguinte, deve ser preservado”. Nessa dimensão que contempla a herança material de determinada sociedade, preservar-se-á da destruição o conjunto dos bens arquitetônicos já não mais integrados. Outra noção de patrimônio adotada por Nestor Canclini (1984, p. 95) afirma que: o “patrimônio não inclui apenas a herança de cada povo, as expressões mortas” de sua cultura, mas também os “bens culturais visíveis e invisíveis”, sugerindo “um patrimônio que expressa a solidariedade que une os que compartilham um conjunto de bens e práticas que os identifica, mas também costuma ser um lugar de cumplicidade social” (idem, p. 97). Consequentemente, esta noção mais dinâmica de patrimônio está profundamente associada ao conceito de cultura, onde se inclui hábitos, costumes, tradições, crenças e um acervo de realizações materiais e imateriais.

            Historiografia do Engenho Miriri Século XX, O antigo Engenho Miriri já existia nos primeiros anos da terceira década do século XVII. Foi levantado pelos religiosos do mosteiro de São Bento da Paraíba. Localiza-se em uma vasta gleba de terras que os beneditinos possuíam no Rio Miriri e acerca da qual existiu uma tudo contenda judicial com João Padilha. Essa informação é vista nos manuscritos do livro do tombo do Mosteiro de São Bento da Paraíba. Em torno de 1618 os beneditinos dão início à construção do Engenho Miriri, essa informação é de Joaquim José da Silva Castro. Há um documento redigido por um judeu português chamado José Israel da Costa que viveu no Brasil antes da invasão da Bahia pelos Flamengos em 1624. Pelo qual o Engenho Miriri havia pertencido aos padres de São Bento e que ele não havia moído no ano de 1623.

            Essa informação é publicada por José Israel da Costa na obra: “Açucares que fizeram os engenhos de Pernambuco, da Ilha de Itamaracá e Paraíba” no mesmo ano de “Continuando a historiografia do Engenho Miriri”, ele é citado por Elias Herckmans, terceiro diretor (governador) Flamengo na Paraíba, durante o domínio Batavo, o qual ofereceu interessantes informações acerca do Engenho Miriri e da sua localização em relação ao rio de mesmo nome e a respeito do seu novo proprietário: “Francisco Álvares da Silveira em 1 de julho de 1639”.

            Existem ao longo do curso do rio, várias propriedades e engenhos com o mesmo nome. Dentre eles podemos mencionar dois, o engenho Miriri, que pertenceu a Pedro Ramos Coutinho (já falecido) e hoje é sede da Destilaria Miriri S/A, dirigida pelo empresário Geraldo Moraes; e Miriri de Ferraz, o primeiro prefeito de Santa Rita. A Destilaria Miriri está localizada em Sapé, enquanto Miriri de Ferraz se acha no município de Santa Rita (HERCKMANS, 1982, p. 50-51).

            São essas lembranças que nos fazem sentir parte, viver, respirar e adoçar a boca da cana-de-açúcar do Engenho do Miriri.

Autor:

Pedro Jorge Coutinho Guerra

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