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segunda-feira, 22 de julho de 2024

Vidas à crédito – As farmácias de Bauman…

Quando pensamos na transição da sociedade “Sólida” de produtores para a sociedade “Líquida” de consumidores, a forma de moeda chamada crédito, entra em cena e coloca na mão de quem não possuía dinheiro vivo a oportunidade de acessar o seu desejo de imediato.

Dessa forma pode -se comprar no presente e pagar no futuro, essa possibilidade favoreceu ainda mais o acesso ao objeto de desejo de consumo no qual bauman faz um trocadilho perfeito onde ele coloca as “lojas” como “farmácias”.

“O desejo do consumo existe em todos os grupos sociais, mesmo que nem todos possam atendê-lo.

Zygmunt Bauman chega a sugerir que as lojas fossem denominadas farmácias, porque oferecem remédios para variados males. Está triste? Compre! Está eufórico? Compre! Está com tédio? Compre!”

 Bauman afirma que o objeto das operações de crédito, não é só o dinheiro pedido e emprestado, mas o revigoramento da psicologia e do estilo de vida de “curto prazo”.

Este desejo de ter no presente tudo que se quer à custa de compras a crédito, leva parte dos consumidores ao destino chamado tecnicamente de inadimplentes e em outros casos mais graves os superendividados e tudo isso é efeito colateral dos remédios vendidos nas “farmácias de Bauman.”

Remédios esses que quando em uso nos dá satisfação, alegria e alguns casos muito prazer. Porém, como sabemos a “conta chega”, e junto com a conta, chega o dissabor da perda do crédito, os juros, as cobranças e restrições de acesso a novos créditos e outros…

Para ilustrar vou trazer o enredo do Mercador de Veneza, de Shakespeare, embora seja ficção, olhe só onde pode chegar à cobrança de uma dívida.

“O enredo, gira em torno de um contrato de empréstimo entre o empresário Antônio e banqueiro Shyllok. O contrato estabelece o montante cedido em dinheiro (3 mil ducados por três meses). A taxa de juros (dada em uma percentagem do principal) e garantia dada ao credor em caso de não pagamento do valor devido no prazo acertado. “meio quilo de carne” (A Pound of flesh/Uma libra de carne), extraídos do corpo do devedor.”

É claro que o vimos acima é só enredo de uma peça teatral. Os meios de receber dívidas evoluíram, a partir dessas evoluções veio outras e outras até chegarmos ao modo que conhecemos hoje que é bem diferente.

Evoluiu de crises e crises e assim sempre evoluirá. E a moeda crédito, ela foi se transformando, hoje crédito é quase tudo em trocas intertemporais, contratamos um serviço hoje e pagamentos no futuro, compramos bens duráveis e pagamentos no futuro, ou seja, tudo que desejamos ter no presente para pagar no futuro é “crédito”. Porém, como sabemos nem tudo são flores, entra em voga outra vez a inadimplência, e isso começou a afetar a confiança de quem emprestava o dinheiro, vendia o produto ou prestava o serviço.

Voltando no tempo, na Inglaterra um grupo de alfaiates começou a trocar informações sobre clientes que não pagavam suas dívidas. Isso originou a sociedade de guardiões para proteção de comerciantes. Possivelmente o primeiro “Serviço de Proteção ao Crédito”, em 1826 foi criado Boletim mensal de inadimplentes Manchester Guardian Society lança boletim sobre inadimplentes, e esses modelos de proteção ao crédito foi se desenvolvendo no que conhecemos hoje, tais como SPC Brasil, SERASA, Boa Vista Serviços, Quod e Outros…

?      O crédito como vemos hoje é fundamental, porém o efeito colateral de certa forma afasta as pessoas do consumo e as colocam em situações embaraçosas, pois o mesmo crédito que as incluem na vida da sociedade de consumo as exclui da mesma sociedade, a quem diga que o problema da inadimplência são as taxas de juros elevadas e há outras correntes que afirmam que os juros são altos por culpa da inadimplência alta, portanto, caímos no dilema de quem nasceu primeiro o “Ovo ou Galinha”. O que fazer para sairmos do dilema? E ter crédito ao custo de juros mais baixos ou evitar dar créditos com riscos maiores e gerando possibilidades de juros menos elevados.

O grande desafio e acertar o ponto ótimo da concessão e fazer do ciclo de crédito o desejo no presente sem o tormento do futuro que um dia será presente, quando começar a vencer as faturas do cartão, a compra do carnê CDC, do financiamento do veículo.

A moeda crédito é parte da vida, assim vidas vivem à crédito…

Escrito por Sandro Souza

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