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terça-feira, 23 de julho de 2024

Políticas para o Desenvolvimento da China e suas Relações Comerciais com o Brasil em 2022

Em resposta a incertezas diante dos desafios enfrentados pelo cenário global neste início de ano, a China colocou sua economia em um curso de expansão constante para 2022, priorizando o crescimento, a criação de empregos e o aumento do bem-estar social. O relatório anual de trabalho do governo entregue ao Congresso Nacional do Povo da China pelo primeiro-ministro Li Keqiang no dia 5 de março adotou um tom realista sobre as perspectivas econômicas da China.

Ao anunciar a meta para a economia da China se expandir em 5,5% este ano, o governo chinês reitera a ênfase em sustentar o crescimento diante de incertezas derivadas da resiliência da pandemia de Covid-19, de problemas nas cadeias produtivas globais e dos efeitos de conflitos geopolíticos em curso. Essa meta é mais lenta do que a recuperação econômica de 8,1% ocorrida no ano passado, porém mais alta do que expectativas de analistas econômicos estrangeiros sem grandes programas de gastos do governo.

Para reativar a demanda interna, o governo chinês sinalizou que aliviará os custos para as empresas de modo a atenuar a pressão de alta nos preços no setor produtivo e assim reforçar as margens de lucro. Na Conferência, também foi dada ênfase ao aumento do investimento privado e ao lançamento de novos projetos de infraestrutura. Para garantir o crescimento econômico estável, a China adotará uma política fiscal proativa acoplada a uma política monetária prudente e apropriada, garantindo liquidez ampla, de acordo com o divulgado pelas autoridades.3

Assim, a Conferência Central mencionou novos cortes de impostos e tarifas de importação, mais apoio creditício a pequenas e médias empresas e ao setor industrial manufatureiro, redução de riscos em geral e a adoção de ajustes no marco regulatório para investimentos de empresas estrangeiras. Ademais, a China também prosseguirá com a reforma  nas empresas estatais e nos setores de monopólio natural e dará suporte ao seu pujante mercado imobiliário para melhor atender à demanda, além de adotar políticas urbanas específicas para impulsionar o desenvolvimento ordenado deste importante setor.5

Por conta de seu elevado desempenho econômico, a atratividade de seu grande mercado interno e esforços de facilitação e liberalização de investimentos, o ingresso de investimento estrangeiro direto (IED) na China superou a marca de um trilhão de yuans (US$ 157,5 bilhões) em 2021, conforme o Ministério do Comércio chinês, quase igualando o volume de IED que entrou nos EUA no mesmo ano.6 O valor de IED chinês em 2021 superou os US$ 149,3 bilhões apurados pela Unctad em 2020, um ano marcado pela eclosão da pandemia de Covid-19.7

Para estimular ainda mais entrada de IED em 2022, a China encurtará a lista negativa de investimento estrangeiro, facilitará serviços para empresas e projetos com financiamento externo e promoverá um ambiente de negócios baseado em leis e mais conveniente para divulgar suas oportunidades de mercado globalmente.

Pelo seu porte econômico e demográfico e dinamismo nas cadeias produtivas, a China desempenha um papel importante no esforço multilateral para enfrentar os desafios globais. A China tem contribuído para acabar com a crise pandêmica e garantir uma recuperação inclusiva e verde, por meio da sua abordagem exitosa de controle da circulação do vírus, da ampla distribuição de vacinas anti-COVID-19 a países menos desenvolvidos, de seu empenho para tornar a Iniciativa “Um Cinturão e uma Rota” (BRI) mais voltada para as preocupações ambientais, ajudando nos esforços multilaterais para colocar a dívida dos países de baixa renda em uma posição sustentável, além de contribuir para um sistema de comércio internacional mais aberto, estável e baseado em regras.8

Avançando agora para alcançar um crescimento mais estável e sustentável, a China dá mais um passo no sentido de ajudar a estabilizar o crescimento global, apoiar a governança econômica internacional, superar as cicatrizes deixadas pela pandemia e contribuir de forma significativa para os esforços mundiais de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e construção de uma economia de baixo carbono.   

Por último, a China permaneceu na liderança das exportações e importações brasileiras. A sua participação nas exportações caiu de 32,4% para 31,3%, entre 2020 e 2021, mas as exportações aumentaram em 29,4%. O índice de preços aumentou em 38,8%, mas o volume recuou em 6%. As importações cresceram, em valor, 45,2%, com aumento de preços em 9,9% e de 22,5% no volume. A participação nas importações foi de 23,4%. Apesar do maior aumento das importações em relação às exportações, em valor, o superávit passou de US$ 33 bilhões para US$ 40,1 bilhões.

A Ásia confirma a sua liderança puxada pela China no comércio exterior brasileiro. A participação da região, sem a China, nas exportações do país foi de 15,1%, maior do que a da União Europeia, de 13%. Nas importações, a participação foi de 12,2%, menor do que a da União Europeia, de 17,4%.

Referências

[1] Cf. After the Central Economic Work Conference, China to roll out policies to ensure stability. Global Times, Dec 12, 2021, disponível em: < https://www.globaltimes.cn/page/202112/1241252.shtml>.

[2] Cf. China define o tom para o seu desenvolvimento econômico em 2022 e estabelece ferramentas políticas claras. Xinhuanet.com, 2021-12-11, disponível em: <http://portuguese.news.cn/2021-12/11/c_1310366186.htm>.

[3] Cf. China adota postura mais flexível para estimular a economia.  Bloomberg News, 07 de Dezembro, 2021, disponível em: <https://www.bloomberglinea.com.br/2021/12/07/china-adota-postura-mais-flexivel-para-estimular-a-economia/>.

[4] Cf. China considera reduzir a meta de crescimento em 2022. Valor Econômico, 24/12/2021, disponível em: < https://snoticiasdehoje.com.br/china-considera-reduzir-a-meta-de-crescimento-em-2022-internacional-e-commodities/>.

[5] Cf. China’s FDI inflow expected to top 1 trillion yuan in 2021. Xinhuanet, 2021-12-09, disponível em: <http://www.news.cn/english/2021-12/09/c_1310362253.htm>.

[6] Cf. World Investment Report 2021, The Unctad, pág. x, disponível em < https://unctad.org/webflyer/world-investment-report-2021>.

[7]  Cf. Structural Reforms Can Ease China’s Transition to High-Quality Growth, The World Bank Report Press Release, Dezembro 22, 2021, disponível em < https://www.worldbank.org/en/news/press-release/2021/12/22/structural-reforms-can-ease-china-s-transition-to-high-quality-growth-report>.

 [8]  Cf. IMF Staff Completes 2021 Article IV Mission to the People’s Republic of China. IMF, November 18, 2021, disponível em <https://www. imf.org/en/News/Articles/2021/11/18/pr21338-china-imf-staff-completes-2021-article-iv-mission-to-the-peoples-republic-of-china>.

Autor:

José Nelson Bessa Maia é mestre em Economia e doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador independente das relações China-Brasil, China-Países Lusófonos e China-América Latina.

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