Para fazer com que entendam esse título, cabe uma explicação sobre no que consiste o chamado “serviços ambientais”. Serviços ambientais são processos gerados, gratuitamente, pela própria natureza, com o propósito de sustentar a vida na Terra!
A natureza sempre prestou esses serviços, mas somente agora eles foram “percebidos” pelos seres humanos.
Por exemplo: existe uma evapotranspiração de água causada pela Floresta Amazônica. Uma árvore, com copa de 20 metros de diâmetro, pode evapotranspirar mais de 1.000 litros por dia. Como se estima que hajam 600 bilhões de árvores na Amazônia, imagine então quanta água a floresta toda está bombeando em forma de vapor!
Boa parte desse vapor, formam as chuvas que caem na própria floresta, mas outra parte é carreada pelo vento que sopra do mar em direção ao continente e se encontram com a Cordilheira dos Andes e dali são “empurradas” para o Sul e caem, em forma de chuva, por exemplo em São Paulo até Santa Catarina. São os chamados “rios voadores”.
Portanto, os serviços prestados pela Floresta Amazônica, beneficia, de uma forma significativa o agronegócio aqui do Sudeste! (este é apenas um dos serviços que ela promove).
Outro exemplo são as abelhas (e outros insetos e algumas espécies de morcegos), ao fazerem a polinização, que é o processo que garante a reprodução de diversas plantas e a produção de frutos e sementes. A polinização acaba sendo um dos principais mecanismos de manutenção e promoção da biodiversidade na Terra.
O resultado, além de um delicioso mel (e altamente saudável), eles beneficiam, gratuitamente o mundo do agronegócio. A FAO estima que a polinização, gera US$ 54 bilhões por ano, sendo responsável por, pelo menos 1/3 da produção mundial de alimentos, além de polinizar 85% das florestas e 70% das culturas agrícolas.
Em algumas regiões da China, onde já não existem mais abelhas, as pessoas são obrigadas a polinizar as flores com cotonetes (que mão de obra!). Recentemente, uma reportagem demonstrou como se poliniza artificialmente a plantação de maracujá, na falta da abelha mangangaba (Bombus terrestres). Imaginem os benefícios para o mundo do agronegócio, de um serviço que (ainda) é feito gratuitamente pela natureza!
Outro exemplo são os serviços ecossistêmicos gratuitos prestados pelo manguezal. O manguezal é o bosque que fica entre o mar e os rios e para uns, é um ambiente que só tem mosquitos e lodo (seria melhor aterrar e construir casas, dizem os empreiteiros), mas, na verdade é um berçário, onde se reproduzem inúmeras espécies de peixes, caranguejos, siris e outras espécies. Toda essa riqueza, oferece gratuitamente proteínas.
Sabe-se que em um hectare de manguezal podem viver até 35.000 siris; 830.000 caranguejos (jovens); 46.000 caranguejos (adultos); 850.000 ostras e 850.000 mariscos, ou seja, alimento disponível, gratuitamente, para os mais de 37 milhões de pescadores, que moram ao longo do litoral e que tiram dali o seu sustento!
Manguezais, ainda tem uma importância na acumulação de carbono, portanto, tem um papel importante na questão do aquecimento global, pois pode capturar até 100 ton/ha/ano e sem deixar de mencionar, a diminuição da força de tsunamis e segurar material em suspensão, diminuindo o assoreamento de portos.
Bem, poderíamos citar inúmeros outros exemplos de serviços ambientais, mas o que não dá para entender é porque, sabendo desses benefícios que geram, gratuitamente, milhões de reais, não existe uma política séria de preservação ou um projeto sustentabilidade, que garanta que a natureza continue nos beneficiando.
Será que os lucros com a venda (legal ou ilegal) de madeira do Amazonas é superior aos benefícios das chuvas que ela causa? Quem e quantos, são beneficiados?
Será que vale a pena gastar milhões de reais para a dragagem de portos (Santos por exemplo), em vez de preservar os manguezais que fazem esse papel? Sem mencionar os inúmeros pescadores que tiram dali seu sustento?
Por fim, se desaparecerem os insetos, será uma dura realidade pois significará a falta de alimento no mundo: a fome será total! Então, porque ainda permitir o uso de substâncias químicas que os matam?
Urge colocarmos na balança, sobre os reais benefícios que a natureza presta e que até hoje tem nos tem favorecido, mas com uma visão a longo prazo!
MAS, avaliando o que acontece no dia a dia e a nossa incapacidade de termos uma visão holística, sustentável, temo que estejamos “batendo em ferro frio” e que, continuem com essa visão pejorativa do tipo: “…isso é coisa de biólogo…” (o que na verdade é um elogio).
Que pena que ainda existam pessoas com uma visão tão míope.
Essa ganância, a curto prazo, ainda vai nos custar caro, em breve, teremos o que Raquel Carson, escreveu em 1962: uma “Primavera silenciosa”… isso quando publicou o livro denunciando os efeitos negativos do DDT (vale a pena ler)!
Quais lições tirar de toda essa situação?
Precisamos refletir e dedicar toda a atenção às pesquisas, que nos mostrem caminhos e implantar uma política real de sustentabilidade, além de pensar bem em quem votar nas próximas eleições.
Temos que entender que, embora nos julguemos “sapiens”, estamos longe de honrarmos esse título, mas que isso deve mudar… urgentemente!
Autor:
Prof. Biólogo Geraldo G.J.Eysink
Para sugerir ou criticar mande Email: geraldo@hc2solucoes.com.br 22 Abril de 2022
Ótimo artigo!