Logo que me mudei pra Ribeirão Preto adquiri um hábito um tanto quanto prejudicial à saúde. Desde a primeira semana passei a comprar o jornal da cidade. Quando não compro, eu leio algumas colunas online. Não sei por quê comecei com isso. Talvez pela praticidade. No caminho que pego toda manhã até o ponto de ônibus tem uma banca. Bancas tem um quê de atrativo para mim, parece que todas as bancas do Brasil e seus donos me são familiares. Todas têm uma atmosfera de vida cotidiana e expressam um interesse desinteressado por ela. Passei grande parte da minha infância em bancas — ora comprando gibi ou revistas da MAD, ora trocando figurinhas de álbuns do brasileirão.
Me estendi demais nesse parêntese.
Voltemos à problemática. O jornal. Ler jornal me é extremamente danoso. Antes que me perguntem, eu só leio as colunas de opinião. Tudo que é fato, mera notícia, eu dispenso. Não só no jornal, mas em qualquer meio de comunicação. A coluna de opinião é a secção mais importante de um jornal, ela expressa melhor a realidade nacional do que as notícias. É na coluna de opinião que se identifica o espírito geral do povo brasileiro. É justamente por isso que não consigo parar de ler jornal, apesar de me fazer um mal tremendo. Sinto um misto de raiva, agitação, junto com uma forte soberba quando encontro aqueles artigos “tal coisa ameaça à democracia”, ou então, “Brasil deve começar a se preocupar com tal coisa” e também o clássico “É preciso tal coisa”. Como se não bastassem esses tipos de artigos, as charges vêm como a cereja do bolo.
Digo que sinto soberba pois minha primeira reação ao ler qualquer artigo de opinião nos jornais mais influentes do Brasil — se é que ainda existem jornais influentes, ainda mais no Brasil — é pensar que eu poderia ter escrito aquilo. Daquela forma como se apresenta ou até melhor. Ou então tratar de um tema mais interessante. Fazer o que o colunista fez, só que melhor. Não tenho pudor em assumir isso, acredito que não sou o primeiro. O espírito do jornalista, do escritor e do colunista brasileiro contemporâneo é, de maneira geral, medíocre. E não digo isso só porque discordo da maioria das opiniões e perspectivas dos colunistas, mas pelo menos durante os últimos 5 anos a ladainha é a mesma. O número é arbitrário, mas desde que tenho contato com jornais sinto que o assunto sempre foi o mesmo. Não se fala mais nada de relevante nos jornais. Na verdade, não sei se houve uma época em que se falou algo de relevante nos jornais
Porém quando termino de ler aqueles parágrafos irrelevantes preciso reconhecer que eles ocupam aquele espaço. Eu, do alto da minha superioridade intelectual e redacional, tenho que admitir que o sujeito que escreveu aquilo é mais inteligente, se não, pelo menos mais dedicado que eu. Descarto aquela desculpa dos incapazes de que os colunistas estão lá por “contatos de influência” ou “privilégios”. Aceito amargamente o sabor da inferioridade, é um exercício constante. Talvez seja por isso que o jornal me atrai tanto, apesar de desgostar tanto da leitura, da matéria e dos escritores. Ele tem um sabor agridoce.
Autor:
Filipe Pereira Mauricio
20/04/2022