Laerte Temple
Pat, Lú, Pri e Teca eram carne e unha no colégio. Casaram e perderam contato. O reencontro ocorreu após 2 décadas, morando no mesmo edifício. Tremenda coincidência! Combinaram uma reunião no duplex de cobertura da Pat para uma “tarde das meninas”: quitutes, queijo, vinho e mil conversas. Na casa dos 30 e alguns anos (40), elas têm muitas histórias para contar e todas querem saber dos detalhes. Tintim por tintim.
A socialite Patrícia Antunes de Orleans e Bourbon, a Pat, é casada com um bilionário de origem nobre, que viaja muito e tem constantes reuniões até altas horas. Ela vive em shoppings, galerias e restaurantes chiques. O marido troca sua Mercedes GLA 250 todos os anos e nunca reclamou das faturas do cartão de crédito. Concepción, sua governanta argentina, escolheu os vinhos para o encontro. A fortuna de Pat não incomoda as amigas.
Lú, Lucimara Benedetto Strufaldi, é artista plástica e casou-se com um conceituado diretor de teatro que trabalha muito e não tem hora para chegar em casa. Vivem bem, exceto pelo sexo, escasso e burocrático. Sua cozinheira preparou quitutes para a tarde das meninas. Lú é presença constante nos jornais, revistas e na TV. Sua fama não incomoda as amigas.
Priscila Chamonix Duvalier, a Pri, é lindíssima e sofisticada. A premiada designer de joias não tem rugas, nem celulite. Casou-se com um estilista muito requisitado por grifes renomadas. O casamento anda morno há algum tempo, fato que ela atribui aos compromissos do marido fora da cidade ou até tarde da noite. A secretária do lar preparou deliciosos canapés para a reunião. Sua estonteante beleza não incomoda as amigas.
Teresa dos Prazeres, a Teca, mora só e passa horas ao sol no deck da piscina em minúsculos biquínis, para deleite dos vizinhos. Diz-se sexualmente resolvida, sem dar detalhes. Vive da pensão do marido que ninguém conheceu. Tem uma diarista duas vezes por semana, não é rica, nem famosa, nem linda. Mas é magra e isso incomoda muito as amigas.
Lú, Pri e Teca chegaram à cobertura para a tarde das meninas quando Concepción falava à Pat que não encontrava o saca-rolhas a gás importado. Teca disse para ir ao seu apartamento e pegar um emprestado com a Deolinda, sua diarista.
Minutos depois, Concepción trouxe um saca-rolhas idêntico ao de Pat e voltou ao apartamento da Teca. Ela, Deolinda, Neide e Graça, que trabalham para Lú e Pri, beberam algumas cervejas e as línguas se soltaram. Divertiram-se com fofocas sobre os patrões, vizinhos, secretárias do lar e porteiros. Enquanto isso, no duplex de Pat, o assunto era a coincidência das amigas terem se mudado para o mesmo prédio após duas décadas sem se verem. Conversa vai, conversa vem, concluíram que, à exceção de Teca, a escolha do endereço foi ideia dos maridos.
Concepción voltou à cobertura e perguntou à patroa se podia pegar uns salgados. Pat permitiu, mas quis saber o motivo. Então, levemente alterada pela bebida, ela desembestou a rir e a falar em argentinês:
- Es para compartir con las niñas em la casa doña Teca. Ya sabes, doña Patricia, Deolinda, que trabaja para doña Teca, ella es genial. Neidinha y Gracinha también. ¡Cuentan cada cosa peluda! Me sorprendió el sacacorchos como el tuyo, pero Deolinda dijo que fue un regalo del amante de doña Teca. También le dio el apartamento y pagó las cuentas. Él llama a Clayton, al igual que el Dr. Clayton, su esposo, y él es muy rico. Deolinda nunca vio el señor Clayton. Solo pasa algunas tardes cuando su esposa está en el shopping o cuando dice que está de viaje. Las niñas también dijeron que hay algo de sexo mui loco aquí en el edificio, incluido el hombre con el hombre. Incluso hay un modista gay que es amante de un chico del teatro. Ahora discúlpeme, volveré com las niñas porque no quiero perderme nada. Es muy gracioso
O encontro terminou e as tardes das meninas, agora solteiras, são cada vez mais raras e com apenas três amigas. Teca nunca mais foi convidada. Saiu do grupo!