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terça-feira, 27 de agosto de 2024

?Contemplar é para pessoas profundas

Às vezes me pego pensando quanto é triste viver em tempos em que tudo se resume ao que se vê na superfície. Ninguém está disposto a mergulhar no outro, pois chegar no fundo requer tempo e dedicação. As pessoas se contentam ao que é visível aos olhos, mas não ao coração, por isso não estão mais dispostas a cativar, e muito menos a se tornar responsáveis por isso, como dizia meu amigo Pequeno Príncipe.

Em tempos de redes sociais, acompanhar a vida de alguém parece o bastante para traçar sua personalidade, gostos e jeitos, mas não se dão conta que pouco sabem do outro. Esse ato se estende a consultórios psiquiátricos, psicológicos e médicos cheios de hipóteses diagnósticas, mas nunca de certeza. Incertezas que podem mudar a vida de uma pessoa para pior.

Sempre me questiono dessa falta de tempo que mais me parece falta de coragem de se colocar para o outro, e de receber esse outro na mesma proporção. Relações que acabam no início, pois visualizar os storys é o bastante, e escutar o outro é perda de tempo. Uma geração que mais se ouve do que se escuta, forma pessoas vazias a cada esquina. É…São tempos com falta de tempo.

Será que uma pandemia não foi o bastante para fazer as pessoas entenderem que mais importante que uma prova ou entregar um trabalho, é estar ao lado de quem ama? Acho que nada se aprendeu, pois continua do mesmo jeito.

As vezes tento me colocar no lugar de quem me assiste de fora, deve ser bizarro e com certeza devem pensar algo totalmente contrário do que sou, não porque eu finjo ser outra pessoa, mas porque o outro me vê exatamente a partir de suas experiências e vivências, mas não como sou de verdade.

Durante um encontro com uma amiga, falei sobre me sentir bem ao seu lado, pelo simples fato de me sentir normal, pois ela não me poda como outras pessoas fazem. Até porque possuo um jeito espalhafatoso, risonho e encantador, que ao me distrair com pássaros posso atravessar uma rua sem prestar atenção no fluxo de carros, ato este, que pode ser confundido com lerdeza e até irritar um adulto, se é que me entende.

Pessoas como eu e ela não são bem-vindas ao mundo adulto. Mundo esse que é coberto de caras fechadas e coisas muito sérias, onde nos classificam como bobas ou usuárias de drogas por se encantar com o céu ou por de repente se empolgar com uma rua bonita. Mas logo, sua fala me trouxe um conforto:

– não precisamos deixar de sermos nós mesmas para nos tornar adultas.

Causamos incômodos por ainda sermos autênticas feito crianças. Estas que começam a ser podadas desde cedo: ria mais baixo; deixa esse pássaro; isso é besteira; quieta; fecha a perna; fale menos, etc. Quando crescem, se contentam com o raso, como todos que observo a minha volta, repetindo incansavelmente: não posso; não tenho tempo; vamos logo com isso; que pássaro nada, tu usa droga é?!

Contemplar é para pessoas profundas.

Autora:

Juliana Sena de Oliveira

2 COMENTÁRIOS

  1. Ótimo texto. Concordo, as vezes é necessário mergulhar na alma do outro para que a gente possa ver a nós mesmos!!

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