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quarta-feira, 24 de julho de 2024

Meu guri

Como dizia Chico Buarque, meu guri é aquela criança, tão inesperada, não sabemos como levamos, mas, continuamos levando, acreditando, pensando no que ele pode ser, se iludindo e desiludindo com as opções que ele cria, opta, faz ou deixa passar, mas, de toda forma, é o meu guri.

Eu não cabia em mim de tanta felicidade quando minha esposa foi fazer o teste de gravides, fez um exame de sangue para não haver falsas esperanças, porém, eu já tinha a certeza de que ele vinha e que seria um marco na minha vida, nunca pensei que fosse, e é, tão impactante, tão sonhado, eu com tantos sobrinhos, finalmente teria meu próprio rebento para amar, cuidar e ver crescer, finalmente fazer as malas e seguir sua jornada.

No início era muito interessante, pois ainda dentro da barriga só se acalmava quanto minha mão estava lá, acariciando virtualmente seus cabelos. Minha esposa dizia que se virasse de costas para mim ele começava a se debater, até que ela voltava a se encostar em mim.

Depois que nasceu, seu vínculo ficava cada vez mais forte, a mão era “mamãe”, eu era “papai” e “mamãe”, ago que demonstrava o fascínio que eu exercia sobre ele. Eu lia as histórias antes dele dormir, dava banho, e fazia todas as atividades junto com minha esposa, mas meu carinho sempre tocou mais fundo na alma dele.

Cresceu, foi para seus primeiros anos de convívio escolar, nem sempre muitos momentos agradáveis, mas a certeza de que eu logo chegaria fazia com que ele superasse os males do dia. Voltávamos a pé, conversando (eu ouvia mais do que falava, isso pouco mudou). Os dias passam rapidamente quando se ama, é uma verdade vertiginosa.

Começou o primeiro ano primário, novos amigos, novos desafios, estávamos lá apoiando em suas necessidades, em um ano gostou de uma menina um ano mais velha, compramos chocolates para ele dar a ela, foi desprezado, nem se importou, abriu o pacote de presente e comeu os chocolates sem nenhum ressentimento, ai conseguimos perceber um pouco das características dessa criança.

Fez boas amizades, se afastou daqueles que não considerava inadequadas, isso com menos de dez anos. Hoje pensa em trabalhar, ter seu próprio rendimento, comprar seus desejos, mesmo que só durem alguns meses como o skate e o violão.

Estuda o suficiente para passar de ano, filho do pai dele, faz o que é necessário para realizar, e ultimamente faz uma demonstração de força além do esperado, a mãe, com cancer, depois de tanto temo, 10 anos, ficou fraca e a COVID achou um espaço para atacar, mesmo sabendo que pode ser fatal, não baixou a bola em momento nenhum. O pai apresenta um problema crônico no fígado, aguardando o transplante, com os dois internados, a família faz toda diferença, sempre apoiando da forma que cada um pode, mantém ele com a cabeça erguida e a esperança não desanima.

Estou de volta com ele, percebe-se que a carga diminuiu bastante, que juntos vamos vencer este e outros desafios que surgirão. Ele continua sendo o meu objetivo e eu seu porto seguro, e assim seguimos nossa existência.

Espero que você tenha seu objetivo de vida e seja o porto seguro de alguém, o peso e o prazer são inomináveis.

Prof. Matemática, Márcio de Souza Almeida, muitos cursos concluídos mas um mero iniciante nesta matéria que é a vida humana.

Autor:

Márcio Almeida

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